Primeiro foram as 560 bifanas, peças de fruta e garrafas de água para o lanche da manhã. Mais tarde, as 560 sopas, rojões e polvo com batatas, tudo em caixas de plástico, com mais fruta e água para o almoço. Finalmente, as 560 refeições servidas por turnos no quartel dos bombeiros de Pedrógão Grande à hora do jantar. Manter um dispositivo de combate às chamas como o que está destacado para o incêndio no interior do distrito de Leiria, que já matou pelo menos 62 pessoas, não é fácil, e implica garantir que os bombeiros recebem mantimentos suficientes para sobreviverem no meio do fogo.

Muito deste trabalho é discretamente assegurado por dezenas de escuteiros que, voluntariamente, associaram os seus esforços aos das autoridades presentes no local. Gonçalo Romeiro é um deles. Celebra esta segunda-feira o seu 35º aniversário, mas em vez de estar com a família ou os amigos em Pombal, de onde é natural, decidiu pegar na carrinha do seu agrupamento escutista e vir, juntamente com meia dúzia de outros escuteiros, para Pedrógão Grande ajudar os bombeiros.

“A equipa nacional de proteção civil dos escuteiros pediu ajuda aos agrupamentos de todo o país e nós respondemos. Ontem à uma da manhã acertámos tudo e hoje de manhã pegámos na carrinha e viemos”, conta ao Observador o dirigente de escuteiros, que encontramos de lenço verde escuro ao peito a trabalhar lado a lado com as forças especiais da GNR. Na carrinha, Gonçalo e o seu grupo já traziam mantimentos e águas para distribuir a quem necessitasse de ajuda pelo caminho.

O lenço de escuteiro de Gonçalo Romeiro salta à vista por entre militares da GNR e agentes da Proteção Civil (Fotografia: HENRIQUE CASINHAS/OBSERVADOR)

Assim que chegaram, um chefe de escuteiros responsável por centralizar todo o apoio prestado por estes voluntários atribui-lhes uma tarefa fundamental: a preparação e transporte da alimentação para o corpo de bombeiros que está a lutar contra as chamas na zona envolvente da vila de Pedrógão Grande — cerca de 560 operacionais. A manhã foi passada, primeiro, a descarregar as inúmeras carrinhas com donativos que chegavam aos bombeiros da vila e, depois, a cortar pães e a preparar bifanas, para distribuir aos bombeiros a meio da manhã. Cada chefe de unidade de bombeiros deslocava-se ao posto de comando e recebia da parte dos escuteiros um pacote já com a quantidade adequada de comida para a sua equipa.

Finda a distribuição do lanche, foi tempo de preparar o almoço: doses individuais de sopa de legumes e caixas de plástico com rojões ou com polvo com batatas. Também estas caixas eram entregues aos chefes de unidade dos bombeiros no posto de comando. Já à noite, a refeição foi servida no quartel dos bombeiros, pelo que a logística foi transferida do posto de comando para lá.

Para Gonçalo Romeiro, fazer este serviço discreto “faz parte daquilo que é ser escuteiro, é inerente ao papel do escuteiro na sociedade”. Apesar de admitir que gostava de “ir mesmo para a frente do incêndio combater”, reconhece que é necessário assegurar o apoio de retaguarda. “Gostamos de estar nestas envolvências. Quando vejo estas coisas na televisão, penso sempre que gostava de ajudar. Gostava de ter a coragem dos bombeiros, ou pelo menos gostava de os ajudar”, explica o escuteiro. Até quando cá vão ficar? “Agora é até ser preciso”, garante Gonçalo, assegurando que está preparado para ajudar nos próximos dias.

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