Lisboa, 20 jun (Lusa) – O governador do BdP defendeu hoje que o modelo de governo das empresas não pode permitir a sua captura por uma parte, geralmente o proprietário que a controla, e que tem de equilibrar interesses de donos, trabalhadores, fornecedores e clientes.

Carlos Costa participou esta terça-feira numa conferência da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) sobre ‘corporate governance’, o modo de governo das empresas, e defendeu que este deve promover a inclusão de “todos os ‘stakeholders'”, ou seja, de todas as partes interessadas numa empresa, sejam acionistas ou sócios, administração, mas também trabalhadores, fornecedores e clientes, de modo a “não criar nenhum privilégio para um ‘stakeholder’ em matérias de captura de benefícios”.

Para o governador, é necessário que a empresa comunique a todas as partes o que se passou, os desafios que tem pela frente e como os pensa superar.

É necessário o “reequilíbrio entre as partes interessadas no desenvolvimento da instituição, de forma a não facilitar capturas por interesses parcelares. Isto é um risco enorme”, reiterou.

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Carlos Costa afirmou que há que ter em conta que, quando uma empresa se desagrega, não é apenas “a separação entre capital e trabalhadores” que acontece, mas há um impacto em fornecedores, clientes, no emprego, há um impacto geral que não é imediatamente mensurável.

Por isso, defendeu, “temos de dar o salto para perceber que a ‘governance’ não é assunto privado, é de interesse geral”.

Carlos Costa defendeu que aqui “há um papel-chave da informação”, uma vez que é preciso assegurar que a informação que a empresa dá a todas as partes interessadas é suficiente e certificada.

Hoje insisto muito na escassez de informação, na falta de certificação. Tivéssemos nós as garantias de pertinência, eficiência de informação e certamente teríamos outro tipo de comportamentos, porque o escrutínio teria sido feito”, afirmou.

O governador disse ainda defender que as empresas estejam cotadas em bolsa, uma vez que nesse caso o escrutínio é maior.

“Uma empresa não cotada é ter a vida da empresa indexada a quem a controla. Sou a favor de tornar as empresas de capital público, por razões escala, e por razões associadas à continuidade da empresa. Pode haver volatilidade da cotação, mas a empresa continuará”, afirmou.