Abrir uma ligação numa SMS pode ser suficiente para que o governo do México controle o que é dito pelo telemóvel. É desta maneira que terá espiado jornalistas, ativistas e outras organizações anti-fraude. O objetivo é detetar casos de crime, corrupção e abuso de autoridade no país.

O método é bastante simples: os alvos recebem um SMS com links que aparentam ser legítimos, mas que levam a falsos sites e à instalação de programas de espionagem nos seus telemóveis. A partir daí, o programa guarda a atividade que é feita no smartphone, tal como a lista de contactos.

A revelação é feita pela pesquisa da Article 19 – uma organização para a liberdade de imprensa – e da Universidade de Toronto, citados pelo The Guardian.

O programa de espionagem é produzido em Israel e só é vendido a governos. Assim, a pesquisa leva a querer que seja o governo mexicano a estar por trás destes envios, embora não haja evidências conclusivas que atribuam “essas mensagens a agências governamentais específicas no México”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando certas notícias são manchete, as SMS que transportam esses ligações rapidamente chegam aos telemóveis dos alvos, dizem os investigadores. John Scott Railton, pesquisador sénior, confessa que o efeito do vírus é irreversível.

Uma vez ativado, é game over”, revela o investigador.

Já Juan Pardinas, diretor da IMCO (Instituto Mexicano para a Competitividade), confirmou estes casos. Diz Pardinas que a mulher recebeu mensagens falsas que alegavam um caso extraconjugal e histórias de indivíduos armados fora da sua casa, para a incitar a aceder ao link. A IMCO tem defendido a criação de um sistema anti-corrupção e tem incentivado a partilha pública dos patrimónios dos políticos.

Também Manuel Molado, vice-diretor desse instituto, diz ter recebido o malware e compara este esquema a “tendências autoritárias”.

As conversas privadas dos políticos têm sido constantemente expostas e as comunicações das campanhas. A prática está a espalhar-se aos jornalistas e ativistas que têm sido as últimas vítimas.

A espionagem tem marcado a tensa relação entre o governo de Penã Nieto e o seu partido revolucionário e a sociedade civil mexicana. Peña Nieto promoveu internacionalmente o México como progressista e reformista e denunciou ativamente a corrupção na democracia da Venezuela. Porém, as últimas críticas relacionadas com esta espionagem expõem os excessos da administração mexicana.