Prosseguem, nos EUA, as investigações ao acidente que vitimou, no estado da Florida, o condutor de um Tesla Model S, Joshua Brown, quando este circulava com o conhecido sistema de condução semiautónoma Autopilot da marca californiana activado. O mais recente relatório acerca do tema, com mais de 500 páginas, acaba de ser apresentado pelo National Transportation Safety Board (NTSB), que, apesar disso, mantém a investigação em aberto.

Uma das principais conclusões do documento é que Joshua Brown não só manteve as suas mãos fora do volante durante largos períodos de tempo, como ignorou os vários alertas visuais e sonoros emitidos pelo veículo para o impedir. Seguro é também que, na altura do embate com um camião, num cruzamento, o antigo SEAL da marinha norte-americana tinha o sistema Autopilot activado – algo que, já no ano passado, a Tesla referiu “não permitir ao condutor abdicar da sua responsabilidade”.

O relatório refere que, durante o período de 37 minutos durante o qual o sistema solicitou ao condutor que este mantivesse as suas mãos no volante, este só o fez durante 25 segundos. E que o modo de condução semiautónoma esteve activo durante a maior parte da viagem, emitiu por sete vezes o alerta visual que de não estavam a ser mantidas as mãos no volante, por seis vezes intercedidos por um alerta sonoro com a mesma finalidade.

Recorde-se que, em Janeiro, o relatório da autoridade de segurança rodoviária norte-americana, a NHTSA, acerca do mesmo episódio, isentou a Tesla de responsabilidades, referindo não ter encontrado vestígios de mau funcionamento ou defeitos no sistema Autopilot do veículo em questão. E que Joshua Brown não só não tomou qualquer medida (travar, virar o volante ou outra) para evitar a colisão, apesar de o camião estar no seu campo de visão, pelo menos, sete segundos antes do embate, como a sua última acção ao volante foi programar o cruise control para 119 km/h dois minutos antes do sinistro, quando a velocidade máxima permitida no local era de 105 km/h.

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Relatório isenta Tesla de culpa em acidente mortal

Boa parte destes elementos têm por base informações fornecidas pela própria Tesla, uma vez que o Model S recorre a um software proprietário de registo de dados, a que as autoridades não conseguem aceder com as ferramentas normalmente utilizadas para recolher a informação registada na maioria dos automóveis ditos convencionais. Isso mesmo é sublinhado pela NTSB, que afirma ter tido que “confiar na Tesla para disponibilizar os dados recolhidos pelas unidades que recorrem a software proprietário do fabricante”.

Na ordem do dia está, ainda, a possibilidade então aventada, de Joshua Brown estar a assistir a um filme no ecrã de bordo do seu Tesla Model S enquanto “conduzia”, e também no momento em que o embate ocorreu. O que a Tesla se apressou a negar, ao afirmar não ser possível reproduzir vídeos nesse ecrã táctil, apesar de o condutor de um outro camião envolvido no acidente ter na altura afirmado, à Associated Press, que após a colisão estava a passar um filme da saga Harry Potter nesse mesmo ecrã.

Sobre esta questão, o relatório da NTSB também disponibiliza alguns dados relevantes. Nomeadamente as declarações prestadas aos investigadores por uma testemunha ocular, uma das primeiras a acercar-se do veículo após o acidente fatal, que afirma não ter visto ou ouvido um filme a ser reproduzido no Model S nos momentos após este ter-se imobilizado, e que também não viu o tal condutor do outro camião no local do sinistro durante o tempo (mais de uma hora) em que aí permaneceu para falar com os prestadores de socorro e as autoridades.

Todos me perguntam por um vídeo. Não posso afirmar que não estivesse a ser reproduzido, mas não vi nenhum a ser reproduzido, nem ouvi nenhum a ser reproduzido, e estive no veículo por duas vezes”, refere Terrence Mulligan, citado pelo documento agora divulgado.

Algo que a família da vítima aproveitou para reiterar o que vem afirmando desde o início da investigação – que tal possibilidade seria “inequivocamente falsa”.

Quanto ao motorista do camião em que o Tesla Model S embateu, Frank Baressi, começou por declarar às autoridades policiais que não se tinha apercebido do que havia embatido no atrelado, apesar de o veículo ter passado por baixo do mesmo e percorrido quase 300 metros antes de imobilizar-se. Mais tarde, recusou-se a falar com os investigadores, remetendo-os para o seu advogado, com o relatório da NTSB a provar, agora, que apresentava vestígios de marijuana no organismo pouco depois do acidente. Irá ser ouvido ainda esta semana em tribunal.