A ideia tinha tudo para ser um êxito, sobretudo junto das potenciais clientes, as mulheres: a Renault criou uma gama de verniz para as unhas, produto de que as senhoras tanto gostam, mas que desta vez tinha a curiosidade de ser idêntica à cor da carroçaria de uma série especial do Twingo, em tons de vermelho, amarelo, azul e preto. A ideia era, por um lado, proteger e embelezar as unhas das clientes e, por outro, quando fosse necessário, recorrer ao mesmo verniz para reparar eventuais arranhões na pintura do carro. Era o perfeito dois em um, sendo que se o verniz é tipicamente algo mais feminino, os riscos que surgem nos automóveis, sobretudo sempre que se esfrega o carro na parede, é um problema mais multisexo.

Além da ideia ser prática, nem sequer era muito onerosa, com a gama de vernizes a ser proposta por apenas 8.90€ o frasquinho, o que não fazendo concorrência à pechincha dos produtos chineses ou brasileiros, estava longe de ser dos produtos mais caros do mercado. Contudo, a ideia de conciliar a manicura com o automóvel acabou por rebentar nas mãos – mais precisamente nas unhas – do fabricante francês.

Se a campanha até arrancou bem, pois não só as senhoras aderiram, como até os homens perceberam o potencial da coisa, tudo se complicou quando as Chiennes de Garde – Cadelas de Guarda, numa tradução literal – atacaram o projecto dos marketeers da Renault.

A líder da organização feminista, Marie-Noelle Bas, iniciou uma campanha contra a marca e a própria campanha do verniz, acusando-a de catalogar a mulher como má condutora e a necessitar do tal verniz para esconder, ou pelo menos para disfarçar, os pequenos toques. Em declarações ao Automotive News, a chefe das Chiennes acusou iniciativas como estas de serem insidiosas, ordinárias e sexistas, fornecendo as condições para ser negado à mulher o lugar que merece na sociedade.

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A Renault ripostou, afirmando que o conceito do verniz na cor do carro não pretendia dar a entender que as mulheres são condutoras menos cuidadosas – mais que não seja, porque também os homens contribuem com a sua dose de riscos –, mas sim criar versões especiais do Twingo para mulheres urbanas, que apreciam a personalização dos seus veículos.

Curiosamente, esta não é a primeira vez em que verniz e automóveis caminham de mãos dadas. Ainda há pouco tempo, a DS – tinham de ser os franceses – criou uma versão especial do DS3, em colaboração com a Givenchy, em que oferecia um kit de maquilhagem que incluía batom, blush, rímel e… verniz. E tudo isto sem qualquer reacção das Cadelas de Guarda. Será que estas privilegiam os kits completos, em detrimento do verniz fornecido a avulso? Pelo nosso lado, só temos pena de não haver um verniz com a cor do nosso automóvel, pois temos ali uns risquinhos que bem precisavam de uma pincelada…