A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) assume falhas na rede SIRESP, entre sábado e terça-feira, no teatro de operações de combate ao incêndio de Pedrógão Grande, mas alega que foram supridas por “comunicações de redundância”.

Esta posição consta de uma resposta enviada esta sexta-feira pelo presidente da ANPC, Joaquim Leitão, ao primeiro-ministro, que na terça-feira o questionou sobre falhas na rede de comunicação SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) durante a operação de combate ao incêndio que deflagrou no sábado em Pedrógão Grande, distrito de Leiria.

Poder-se-á inferir que, desde as 19h45 do dia 17 de junho até ao dia 20 de junho, se verificaram falhas na rede SIRESP no TO (Teatro de Operações). Por forma a minimizar as falhas da rede SIRESP, foram utilizadas as comunicações de redundância, nomeadamente, REPC – Rede Estratégica de Proteção Civil e ROB – Rede Operacional de Bombeiros, conforme se pode constatar na fita do tempo do sistema SADO (Sistema de Apoio à Decisão Operacional)”, refere-se na carta enviada a António Costa e que está publicada no portal do Governo na Internet.

Como falhou o SIRESP, minuto a minuto

14h43 de sábado: o início da ocorrência

No documento enviado ao gabinete do primeiro-ministro, a Proteção Civil esclarece que o SIRESP, a par da ROB (Rede Operacional de Bombeiros), foi ativado pelas 14h43 do último sábado.

19h45: as primeiras falhas de comunicações

As primeiras falhas de comunicações, “inclusive na rede GSM [rede dos telemóveis], são registadas às 19h45”, esclarece-se.

Foi precisamente entre as 19h e as 20h que 47 pessoas perderam a vida na EN 236-1, uma estrada que a GNR diz não ter tido indicações para fechar.

“Após esta hora, existem vários reports de dificuldades sentidas ao nível global das comunicações, designadamente entre o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria e o Posto de Comando Operacional (PCO), instalado em Pedrógão Grande e entre este e os operacionais no terreno”, detalha o comunicado.

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Tendo em conta as falhas da rede SIRESP, “ao nível do PCO foi elaborado um novo plano de comunicações baseado apenas na rede ROB”, que garantiu “a necessária interligação entre os três escalões da operação que estava em curso”.

21h12 — 21h16: três antenas em baixo

“Entre as 21h12 e as 21h16, a ANPC recebeu três comunicações da SIRESP a dar conta da queda de três sites, a saber, Serra da Lousã, Malhadas e Pampilhosa da Serra, facto este que afetou as comunicações”, lê-se na resposta da Proteção Civil ao primeiro-ministro.

21h22: começam a ser utilizadas comunicações alternativas

A esta hora, “por forma a minimizar as falhas da rede SIRESP, foram utilizadas as comunicações de redundância, nomeadamente, REPC [Rede Estratégica de Proteção Civil] e ROB [Rede Operacional de Bombeiros]”.

21h29: Proteção Civil pede a mobilização de duas antenas móveis

“Perante a informação, às 21h29, a ANPC solicitou à SIRESP a mobilização das duas estações móveis”, pertencentes uma à PSP e a outra à GNR, esclarece o comunicado. No entanto, era impossível utilizar, quer uma quer outra.

A estação pertencente à GNR encontrava-se “inoperacional” e a estação móvel 2, petencente à PSP, encontrava-se “em reparação na empresa UNIVEX, pelo que, não era possível, no momento, a mobilização da mesma para a zona de Pedrógão Grande”.

As contradições sobre a falha do SIRESP

00h51 de domingo: mais uma antena em baixo

A Proteção Civil é informada de que o site de Pedrógão Grande também estava inoperacional, “ficando na área de intervenção quatro sites SIRESP sem comunicações entre si, facto este que alargou a área de inoperacionalidade daquela rede”.

03h17: mobilização da antena móvel que estava em reparação

“A Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna solicitou o levantamento da viatura Estação Móvel 2 SIRESP das instalações da empresa UNIVEX e determinou que a mesma ficasse localizada no PCO da ANPC em Pedrógão Grande, com hora prevista de chegada ao TO (teatro de operações) pelas 05h50”, diz o comunicado.

04h12: antena de Figueiró dos Vinhos também vai abaixo

É a quinta antena da rede SIRESP (que tem mais de 500 espalhadas pelo país) a ir abaixo em menos de nove horas.

09h58: Proteção Civil sem previsão para a reposição das linhas

Já a meio da manhã de domingo, a Autoridade Nacional de Proteção Civil ainda não tinha uma previsão de quando seriam repostas as linhas de comunicação. O incêndio tinha obrigado ao corte das comunicações.

12h00 de segunda-feira: antena de Pedrógão Grande torna a funcionar

Só na segunda-feira é que a antena de Pedrógão Grande, em baixo desde a madrugada de domingo, torna a estar operacional. Mas as antenas mais próximas continuavam sem funcionar.

12h04: antena móvel deslocada para Avelar

O posto de comando foi deslocado de Pedrógão Grande para Avelar, por forma a poder acompanhar a progressão do incêndio para noroeste. Por isso, a Proteção Civil “solicitou a deslocação da estação móivel SIRESP para a zona de Avelar”. Começou a funcionar em Avelar às 18h19.

21h17: antena de Figueiró dos Vinhos torna a funcionar

Com a reposição do funcionamento da antena de Figueiró dos Vinhos, as comunicações começam a ficar normalizadas na região.

23h59: incêndio em Góis obriga a nova deslocação da antena móvel

“Por se verificarem várias falhas de comunicação no TO de Góis, a ANPC, nesse mesmo dia, às 23h59, solicitou à SIRESP a deslocação da estação móvel SIRESP do Posto de Comando/ANPC em Pedrógão Grande para Chã de Alvares”, lê-se no comunicado.

Conclusão: quase quatro dias com problemas no SIRESP

“Neste contexto, poder-se-á inferir que, desde as 19h45 do dia 17 de junho até ao dia 20 de junho, se verificaram falhas na rede SIRESP no TO (Teatro de Operações). Por forma a minimizar as falhas da rede SIRESP, foram utilizadas as comunicações de redundância, nomeadamente, REPC – Rede Estratégica de Proteção Civil e ROB – Rede Operacional de Bombeiros, conforme se pode constatar na fita do tempo do sistema SADO (Sistema de Apoio à Decisão Operacional)”, lê-se no comunicado assinado pelo presidente da ANPC, Joaquim Leitão.

“O impacto da interrupção da rede SIRESP fez-se sentir, sobretudo, ao nível do comando e controlo das operações, por não permitir, em tempo, o fluxo de informação entre os operacionais e o posto de comando, situações que foram supridas com recurso às redes redundantes já referidas, permitindo assegurar as comunicações associadas à operação”, remata a nota da Proteção Civil.