Quatro milhões, quinhentos e vinte e seis mil, seiscentos e trinta e dois euros. Foi este o montante que as famílias portuguesas gastaram a tratar da saúde em 2016, mais 1,6% do que no ano anterior, quando a despesa já tinha crescido 3% face a 2014. Apesar disso, a fatia suportada pelas famílias estreitou porque a fatura do Estado com a saúde dos portugueses cresceu ainda mais nesse período (2,8% e 3,3%, respetivamente), para os 10.960.212 euros, e também os seguros assumiram um peso maior, de acordo com os dados preliminares divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Em 2016, as famílias suportaram, segundo dados preliminares, 27,4% da despesa corrente total com saúde, contra os 27,7% dos dois anos anteriores. E o SNS e Secretarias Regionais de Saúde (Açores e Madeira) suportaram 57,2% (em 2014 contribuíram com 58,2% do financiamento). Em contrapartida, verificou-se, nesse período, “um reforço da importância
relativa do financiamento das sociedades de seguros (4,0% da despesa corrente em 2016, mais 0,4 pontos percentuais que em 2014)”, lê-se no documento do INE.

A julgar pela tendência dos últimos anos, o crescimento da despesa corrente das famílias ter-se-á justificado sobretudo com o aumento da despesa com os hospitais privados. Em 2015, os portugueses gastaram 655.776 diretamente do seu bolso com cuidados médicos em hospitais privados, mais 5,2% do que no ano anterior, e mais 14% quando comparando com 2013. Recuando ao ano pré-troika essa despesa disparou 45,3%. Outra despesa que também subiu com alguma expressão entre 2014 e 2015 foi a da farmácia (+ 4%, para os 1.086.797 euros). Já com hospitais públicos a despesa caiu 0,6% entre 2015 e 2014 e 8,7% de 2013 para 2015.

Mas não foram só as famílias que gastaram mais com os privados. Em 2015, a despesa corrente (total) em prestadores privados (hospitais, prestadores de cuidados em ambulatório e prestadores de serviços auxiliares) aumentou 5,1%.

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“Em 2015, o peso relativo da despesa em hospitais públicos (31,2% em 2014 e 30,9% em 2015) e nos prestadores
públicos de cuidados em ambulatório (8,1% em 2014 e 7,6% em 2015) diminuiu. Em sentido oposto, reforço do peso relativo da despesa em prestadores privados de cuidados de saúde em ambulatório, destacando-se os hospitais privados (10,7% em 2014 e 11,1% em 2015)”, escreve o INE.

Despesa dos hospitais públicos voltou a aumentar ao fim de cinco anos

Apesar da despesa total corrente com saúde estar a aumentar — 16.545,3 milhões de euros em 2016 (mais 2,7% do que em 2015) — está a crescer a ritmo inferior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que, em 2016, cresceu 3%. Já em 2015, a despesa corrente com saúde cresceu 3,1%, e o PIB tinha crescido 3,7%.

“Esta evolução traduziu-se na diminuição continuada do peso relativo da despesa corrente em saúde no PIB que, em 2016, atingiu 8,9%, idêntico ao registado em 2003”, sublinha o Instituto.

Outro ponto a destacar da Conta Satélite da Saúde é o da despesa corrente com hospitais públicos que aumentou 2,3% em 2015, “invertendo a tendência de diminuição que se observava desde 2010”. “Esta evolução deveu-se, principalmente, ao aumento da despesa em consumo intermédio (em produtos farmacêuticos – medicamentos inovadores utilizados no tratamento de doenças oncológicas, SIDA e hepatite C – e em material de consumo clínico).”

Também depois de seis anos a cair ininterruptamente, a despesa em farmácias aumentou 3,8% em 2015 muito por conta do aumento da despesa em novos medicamentos, nomeadamente anticoagulantes orais e antidiabéticos.