O futebol é principalmente jogado com os pés mas, por incrível que pareça, até há bem pouco tempo não havia podologistas nas equipas médicas de muitas equipas de futebol. Uma pesquisa rápida no Google dá-nos o seguinte significado para “podologia”: a ciência da área da saúde que tem como objetivo a investigação, o estudo, a prevenção, o diagnóstico e a terapêutica de afeções, deformidades e alterações dos pés. Apesar dos pés serem aquilo que permite aos jogadores profissionais exercer a sua profissão, ainda existem muitos clubes que não têm um especialistas na área da podologia a trabalhar com as equipas médicas.

Carlez Gáldon, um podologista espanhol citado pelo El Español, admite que as principais condicionantes dos jogadores de futebol estão nos pés, como por exemplo “calos, bolhas, problemas nas unhas… complicações que podem ser muito dolorosas e até mesmo incapacitantes”.

Os especialistas dizem que esta especialidade médica é “muito mais que unhas e calos”. O seu principal objeto de estudo é a passada, que está relacionada com um número elevado de lesões noutras partes do corpo. De acordo com dados do podologista José Berna, em cada 100 futebolistas profissionais 20 ou 30 têm lesões nos pés durante a época desportiva. As mais frequentes são fraturas por stress, especialmente no quinto metatarso.

Os pés guarda-redes português Bruno Varela.

Com o passar dos anos, as empresas de roupa e calçado desportivo têm vindo a refinar e melhorar as chuteiras, para as tornar mais leves, personalizáveis e flexíveis. Também têm vindo a reduzir os saltos dos sapatos, especialmente nos modelos infantis, já que foi observado, pelo Manuel Mosqueira, que estes faziam dores nas costas.

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Real Madrid vs. Barcelona. Quais as diferenças?

“O pé é a nossa base. É como um edifício, se a base nos falhar, tudo o resto se desintegra”, argumenta o Martín Rueda, podologista FC Barcelona. Considera que para uma alta performance é necessário conhecer as várias partes do corpo em conjunto e não em separado.

Rueda diz que esta abordagem foi algo revolucionário na década de 1970. “Começámos por medir partes que nunca tinham sido medidas: os quadris, os joelhos,… e começámos a detetar padrões de lesões para os impedir”. Assim, se iniciou a colaboração dos podologista com os fisioterapeutas.

Numa altura em que a robótica parece ganhar cada vez mais terreno, futebolistas como Leonel Messi, Andrés Iniesta e Neymar continuam a preferir que as suas chuteiras sejam fabricadas à mão. Rueda e a sua equipa fabricam as botas dos jogadores sem ajuda de robôs: “Com um processo de termoformação a vácuo. É preparado um molde prévio carregado com pressões de controlo computorizadas e que têm em conta não só o pé, mas como todo o funcionamento das extremidades.”, acrescenta.

Embora admita que o futuro das botas passe pela sua elaboração em impressoras 3D, o antecessor de Rueda no Barcelona, Bernat Vázquez, tem a sua opinião sobre as limitações da robótica aplicada à podologia: “As impressoras 3D, por exemplo, injetam o material, mas não o misturam, e é importante misturá-lo, já que os pés podem ser muito diferentes e é muito difícil fazer esse trabalho pelo computador. É como uma padaria, um pão com uma massa amassada à mão e cozinhada em forno de lenha não é igual a um pão cuja base é uma massa congelada”.

Jogador Philippe Coutinho agarrado ao seu pé, depois de ter sofrido uma lesão durante um jogo da Primeira Liga inglesa

Porém, o Real Madrid funciona de uma maneira completamente diferente. Cristiano Ronaldo é um exemplo de um futebolista que tem as suas chuteiras fabricadas com a ajuda de tecnologia.

O podologista da equipa média do Real Madrid, Victor Alfaro, é o representante máximo da podologia robotizada.

A robotização do tratamento é importante, mas não é mais importante que a precisão do diagnóstico da marcha e da passada”, afirma Alfaro. “Colocamos uma série de sensores dentro das chuteiras e analisamos a sua passada e desempenho durante uma situação de jogo real”.

Com os diferentes métodos, que são melhorados de dia para dia, como pode haver tantas lesões? E podem realmente ser evitadas? Alfaro responde afirmativamente. “Sim, elas podem melhorar as lesões. Mas, não há botas mágicas e que previnam todas as lesões”.