Pode um hotel de cinco estrelas convencer o público de que o seu restaurante não é de fine dining? É o que quer fazer o imponente InterContinental Porto, que ocupa o Palácio das Cardosas, com o restaurante Astória. Em janeiro chegou um novo chef, agora chega uma decoração mais descontraída e uma carta toda construída de raiz, onde se incluem petiscos para partilhar.

Logo à entrada, os clientes são recebidos no Lounge by Cattier. O nome de champanhe francês é pomposo e não ajuda ao objetivo de quebrar a ideia predominante de que restaurante de hotel de luxo também é luxuoso. Na prática, o Lounge é um balcão onde as pessoas se sentam para tomar uma bebida e forrar o estômago com uma surpresa do chef, rodeadas da arte do artista plástico Pedro Guimarães. Começámos bem.

Depois de cinco anos à frente do Astória, Pedro Sequeira rumou para o Algarve no início de 2017, onde se tornou chef executivo do restaurante B&G. Aos comandos está, por agora, o chef Jorge Sousa, do Crowne Plaza, outro hotel de cinco estrelas da Invicta, que se enche de portuenses ao fim de semana por causa do brunch. Mal chegou, Jorge Sousa quis criar um novo brunch no Astoria, que é agora servido todos os sábados a partir das 12h30, com meia centena de pratos (27,50€). Já devia ter regressado de vez ao Crowne Plaza, mas o Astória ainda não encontrou um substituto permanente para Pedro Sequeira. E Jorge Sousa acabou por desenhar toda uma nova carta.

Espargos e cantarelos grelhados com presunto pata negra 5 Bolotas e ovos mexidos. © Diana Nobre / Divulgação

O objetivo principal é, então, “quebrar o fine dining e atrair pessoas de fora”, explicou o chef durante o almoço de apresentação dos novos pratos. Das mesas saíram as formais toalhas brancas e entraram os individuais. Da carta saiu tudo. Os petiscos que convidam à partilha são a grande aposta, como a tábua de espargos e cantarelos grelhados com presunto pata negra 5 Bolotas e ovos mexidos (12€). Ou a sharing mediterrânica, que inclui presunto pata negra 5 Bolotas, salmão marinado caseiro, gamba selvagem grelhada, croquetes de batata trunfados, vegetais grelhados no forno a carvão vegetal, guacamole e crostini de azeitona (25€).

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O forno Josper a carvão vegetal é o grande motor da cozinha, e é nele que são grelhados peixes, os mais variados cortes de carne e até os vegetais, o que os deixa com um leve sabor fumado. É o caso do creme de couve flor com shiitake fumado, ovo a baixa temperatura e torricado de ervas (8€). E da amêijoa do Algarve e mexilhão, ambos grelhados (12€).

O restaurante, tal como o hotel, está cheio de arte nas paredes. © Diana Nobre / Divulgação

Saindo da secção do menu que convida à partilha encontram-se cinco pratos de peixe e cinco de carne. Parece mal pedir ao empregado do hotel de cinco estrelas um prato principal para picar a três, ou vários pratos já cortados para que toda a mesa possa prová-los a todos, certo? Errado. Tudo é de todos e nada é de ninguém, assim os clientes o desejem. Lagosta selvagem grelhada com molho de whiskey e malagueta (32€)? Parta-se em doses, por favor. O mesmo para o lombo de espadarte com molho de crosta de camarão (23€).

Os acompanhamentos não estão incluídos no preço e têm de ser todos pedidos à parte. Seja a tempura de vegetais, os grelos salteados com torricado de broa de milho e alho, puré de batata-doce de Aljezur com maionese de alho assado, gratin de batata com queijo gruyere e parmesão ou a batata dourada, todos têm o preço de 4€. Só há dois pratos que já vêm com acompanhamento fixo: o bacalhau à lagareiro, que vem com batatas e legumes, e o entrecôte de vitela maronesa DOP grelhado, com molho tradicional, batata dourada e grelos salteados.

Por falar em entrecôte, nos pratos de carne destaca-se o T-bone, carne taurina de Barcelos 25 dias maturada em Espanha (55€ para duas pessoas), e o carré de borrego da Nova Zelândia, servido com crumble de frutos secos e figo confitado em vinho do Porto (23€). Também há pastas e risottos, para quem preferir sabores mais transalpinos.

Cheesecake de tangerina, gelatina de citrinos e Grand Marnier, espirais de chocolate e sorvete de ruibarbo. © Diana Nobre / Divulgação

Nas sobremesas (todas a 8€) há um fondant de chocolate com 70% de cacau, que acompanha com espuma de chocolate branco, sorbet de framboesa e pimentão doce, assim como um cheesecake de tangerina, gelatina de citrinos e Grand Marnier, espirais de chocolate e sorvete de ruibarbo. E já que a carta reúne tantos dos sabores da cozinha tradicional portuguesa, não podia falar um pastel de nata, mas em formato original e servido com creme de canela e gelado de café. Por fim, a panna cotta de morango com crumble de citrinos e sorbet de caipirinha (8€).

Falando em álcool, a carta de vinhos diminuiu bastante face à anterior. Mas as harmonizações continuam. Novidade é a nova carta de esplanada, com propostas mais leves, à base de saladas, carpaccios e, claro, os ceviches, tão na moda. Para partilhar. Ou para comer sozinho, enquanto se observa em lugar privilegiado a azáfama da principal sala de visitas da cidade.