Dado a conhecer, naquela que foi a sua primeira geração, em 2008, a verdade é que nem mesmo quase uma década foi suficiente para fazer do Koleos um sucesso comercial. Aquela que era, então, a mais inovadora das propostas da Renault, para um ainda incipiente segmento SUV, acabou mesmo por, com o passar dos anos, ser votada a uma espécie de ostracismo, até ao desaparecimento total. Decisão que, aliás, Portugal foi um dos primeiros mercados a concretizar.

Mas apesar da aposta inicial falhada da marca do losango, os SUV e crossover acabaram mesmo por triunfar e tornar-se um sucesso de âmbito mundial, graças à acção de muitos construtores, entre os quais, a própria Renault. Que, depois do enorme sucesso alcançado com o Captur e das elevadas expectativas comerciais relativamente ao ainda jovem Kadjar, recupera agora um modelo que muitos davam já como “morto e enterrado” – o Koleos.

Nesta segunda geração, total e profundamente renovado, com um posicionamento mais estatutário – não só como topo de gama, mas também destinado ao alemão segmento D-SUV – e a assumir-se claramente como uma opção mais barata e mais equipada, face às versões de entrada de gama de propostas premium como o Audi Q5, o BMW X3 ou o Mercedes-Benz GLC. Além de, acrescente-se, com a possibilidade de pagar apenas classe 1 nas portagens.

Koleos, o Talisman aventureiro

Apresentado pela primeira vez no Salão Automóvel de Pequim de 2016, o novo Renault Koleos assume-se como uma espécie de derivação offroad daquele que é o novo topo de gama da marca do losango para o segmento D, o Talisman. Oferecendo, nos seus 4,67 m de comprimento e 2,71 m de distância entre eixos, graças também à utilização da mesma plataforma CMF-C/D que o sedan tem por base, a mesma qualidade, distinção, equipamento e posicionamento do executivo, acrescidos da mais-valia de poder circular não apenas no alcatrão, mas também em territórios desconhecidos e onde a sensação de aventura é certamente maior.

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Nesta nova geração com uma estética exterior que nada tem a ver com a do antecessor, inquestionavelmente bem mais conseguida, também por não esconder as semelhanças com o já referido Talisman, o novo Koleos assume muitos dos pormenores estilísticos que fazem a identidade não só do sedan, mas de toda uma nova geração de modelos que a Renault tem vindo a lançar. A começar pela secção frontal e pelas ópticas com a nova assinatura luminosa Full LED em “C”, a ladearem uma grelha em tudo idêntica à do executivo. Com as diferenças a acentuarem-se numa lateral marcada pela maior altura ao solo (210 mm) e rodas generosas de 730 mm (jantes de 17 e 18”), para voltarem a dissipar-se na traseira, onde os emblemáticos farolins esguios abarcam todo o portão, separados apenas pelo losango ao centro. Isto, além de equipados com a já conhecida tecnologia Edge Light com efeito 3D, que se mantém permanentemente acesa, seja de noite ou de dia.

Interior espaçoso para ocupantes e carga

O habitáculo também é em quase tudo idêntico ao do Talisman, a começar pela boa qualidade de construção e uma ainda mais cuidada escolha nos materiais (consegue dar a impressão de já não haverem tantos plásticos rijos…), a que se junta o mesmo volante de óptima pega; o mesmo painel de instrumentos totalmente digital e configurável; e até as mesmas variantes de ecrã táctil na consola central para acesso ao sistema R-Link 2 (de 7” e colocado na horizontal, ou de 8,7” e disposto na vertical, sendo ambas compatíveis tanto com Apple CarPlay, como com Android Auto.

Diferente? Talvez, só mesmo as pegas para condutor e passageiro da frente na continuação da consola central, algo que o Talisman não possui.

Com uma lotação anunciada de cinco lugares (versão de sete lugares é algo que, segundo a marca, não está previsto, até para não canibalizar a nova Espace), elevada funcionalidade e uma posição de condução que, ao contrário de muitos rivais, mostra-se correcta e a proporcionar boa integração no cockpit, vale a pena destacar, igualmente, a excelente abertura das portas (70º à frente, 77º atrás), a facilitar o acesso, por exemplo, aos lugares traseiros. Onde, de resto, também existe mais e melhor espaço para as pernas (289 mm) dos três ocupantes que no sedan, embora já o mesmo não se possa dizer do acesso, que obriga a baixar a cabeça para não batermos no tecto ao entrar, assim como da habitabilidade em altura, com assentos traseiros visivelmente elevados a colocarem um ocupante de 1,70 m demasiado perto do tejadilho.

Ainda assim, e tal como os ocupantes dos lugares da frente podem beneficiar, nas versões mais equipadas, de bancos em couro aquecidos ou ventilados, a par de regulação eléctrica, também os dos lugares de trás dispõem de sistema de aquecimento dos bancos. Sendo que, para os momentos em que é a capacidade de carga que mais importa, a mais-valia resultante não só dos bancos traseiros que rebatem 1/3 – 2/3 na horizontal, mediante o accionamento de alavancas nas laterais da mala, fazendo disparar a capacidade dos iniciais 579 litros para uns mais substanciais 1.759 litros, como também de um generoso acesso através de um portão que pode ser de accionamento eléctrico, com simples passagem do pé por baixo do pára-choques traseiro. Sem esquecer a capacidade de reboque de até duas toneladas.

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Initiale Paris, o Koleos no luxo pariense

E já que falamos de equipamento, oportunidade para destacar o facto de, também aqui, a Renault promover uma colagem ao Talisman, com o Koleos a procurar um posicionamento topo de gama idêntico ao do executivo. Sendo proposto para comercialização em Portugal não apenas em duas versões já conhecidas de outros modelos do construtor, Zen e Intense, mas também numa mais exclusiva e rica versão Initiale Paris. A mesma, aliás, que a marca já disponibiliza, por exemplo, no Talisman.

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Tal como já acontece com o sedan, também no SUV esta versão destaca-se por uma cor exterior específica, jantes de 18” diamantadas, badges específicos e um embelezado cromado na lateral. Além de estofos, volante e punho da caixa de velocidades em pele, tapetes exclusivos, acesso por cartão mãos-livres específico e sistema de som BOSE com 13 altifalantes. Tudo pensado para agradar, ainda que com algumas falhas inesperadas – como é o caso do sistema de accionamento do vidro lateral na porta do passageiro da frente, à qual falta o sistema de abertura/fecho total com um só toque…

Motor único, tracção comprovada

Fabricado na Coreia do Sul e China, com as unidades destinadas ao mercado europeu a provirem da fábrica da Renault Samsung Motors, na sul-coreana Busan, o novo Koleos assume-se como um SUV de utilização diária, para os mais diferentes cenários e ambientes, graças também à competência oferecida pelas soluções offroad. Desde logo, os ângulos de ataque e de saída de 10 e 26 graus, respectivamente, mas principalmente o sistema ALL MODE 4×4-i que, disponível na variante 4×4, permite escolher entre tracção dianteira (2WD), integral automática (4WD AUTO) e integral com bloqueio do diferencial (4WD LOCK).

Solução de créditos comprovados que a Renault foi buscar à “irmã” Nissan, esta solução de tracção integral inteligente permite variar a transferência de binário entre eixos segundo o modo escolhido e as necessidades do momento, oferecendo desde uma tracção à frente permanente, até um modo 4×4 AUTO em que é o próprio sistema a definir, de acordo com a tracção, a percentagem de potência a enviar para as rodas traseiras (pode chegar aos 50%), assim como um modo 4×4 fixo, em que a distribuição permanece fixa nos 50/50. Embora disponível apenas quando a velocidades até 40 km/h.

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No entanto, no caso específico do mercado português, a aposta da filial nacional da marca francesa passa, quase exclusivamente, pela variante 4×2, assim como pelo motor maior e mais potente à disposição no modelo – o quatro cilindros turbo 2.0 dCi de 175 cv às 3.750 rpm e 380 Nm de binário entre as 2.000 e 3.000 rpm. Acoplado, neste caso, única e exclusivamente a uma caixa de variação continua (CVT), “oferta” também da Nissan, a que a Renault dá o nome de X-Tronic.

Quanto às razões para a não comercialização do mais pequeno 1.6 dCi de 130 cv, motor acoplado de série à tradicional caixa manual de seis velocidades e que também tivemos oportunidade de ensaiar – e gostar – na apresentação dinâmica que decorreu em solo finlandês, apenas uma: a necessidade de homologar o Koleos como classe 1 nas portagens! Algo que, explicou-nos um responsável da Renault Portugal, só é possível com a motorização mais potente, já que é a única que consegue ultrapassar, com garantias de segurança, os 2.300 kg de peso bruto exigidos pela Brisa, para atribuição da classe 1.

Grande, até no comportamento

Com mais 15 cm no comprimento que o antecessor, maior largura e maior distância entre eixos, não é só nas dimensões exteriores que o novo Koleos é grande. É-o também no comportamento.

Oferecendo uma direcção competente e agradável, mesmo nas manobras em cidade, assim como um sistema de travagem à altura das necessidades, é no pisar firme e informativo, mais até do que estaríamos à espera, sem contudo beliscar o conforto, que o Koleos começa por se afirmar. Opção que, embora garantindo boa estabilidade e pouco rolamento da carroçaria, também não nos deixa esquecer que temos em mãos um automóvel alto, de dimensões generosas e acentuada distância entre eixos.

A contribuir igualmente para a boa nota que facilmente se atribui a este Koleos de vocação claramente familiar, o bom desempenho do 2,0 litros turbodiesel de 175 cv, potente, sempre disponível e agradavelmente insonorizado, que nem mesmo a opção por uma pouco categorizada caixa CVT, mais discreta nas passagens que propriamente rápida, consegue denegrir. Ainda que a sua troca por uma verdadeira caixa automática de dupla embraiagem fosse sempre bem-vinda.

Competente no alcatrão, o novo SUV topo de gama da Renault não deixou de colocar também em evidência as suas aptidões para o todo-o-terreno, então já na variante 4×4, ao cumprir com sucesso um trajecto pré-definido, numa pista de todo-o-terreno, especialmente construída para o efeito. O que permitiu constatar a facilidade com que o modelo, desenvolvido com muito do know-how da experiente (neste tipo de veículos) Nissan, consegue enfrentar percursos com acentuados cruzamentos de eixos, passagens a vau repletas de água, ou até mesmo com acentuada inclinação, seja a subir ou a descer. E apesar de não contar com um quase obrigatório sistema de ajuda à descida em planos íngremes!

Preços a partir de 41.250€

Justificando as expectativas da marca francesa de que o novo Koleos possa vir a ser uma alternativa às versões de entrada dos produtos premium, os preços começam nos 41.250€ para a versão de entrada com motor 2.0 dCi 175, caixa de velocidades X-Tronic, tracção apenas dianteira (4×2) e nível de equipamento Zen. Ou seja, exactamente o mesmo da geração anterior.

Optando pelo nível de equipamento intermédio Intens, os valores arrancam nos 44.000€ (seja com jantes de 17 ou 19”), ao passo que o topo de gama Initiale Paris exige 49.500€ – ou 52.900€, caso se opte por contar também com tracção 4×4.