Fragmentos de três crânios do neolítico foram descobertos no Göbekli Tepe com marcas de rituais. Neste templo, que é considerado o mais antigo do mundo, investigadores desenterraram ossos esculpidos que apontam para práticas relacionadas com o “culto do crânio” do neolítico – praticado por um grupo cuja “religião” era praticada em torno da cabeça dos mortos.

Erguido há cerca de 10 mil anos no sudeste da Turquia, Göbekli Tepe é um local que desperta especial curiosidade de arqueólogos e investigadores. Agora, de acordo com uma investigação publicada na revista científica Science Advances, estes novos fragmentos descobertos evidenciam um tipo de modificação única feita post-mortem (após a morte). Os investigadores do Instituto Arqueológico Alemão acreditam que tenham sido descarnados e posteriormente esculpidos com sílex – uma rocha sedimentar muito dura. Uma prova que a tarefa nem sempre era fácil, é a existência de múltiplas marcas em várias zonas onde o músculo se vinculava ao osso.

Os vincos lineares, profundos e intencionais, são alterações únicas nunca antes vistas, afirma Julia Gresky, autora principal do estudo e antropóloga do Instituto Arqueológico Alemão, segundo a National Geographic. As marcas feitas propositadamente nos crânios eram muito menos ornamentadas do que as cuidadas representações de pessoas e animais que decoram os pilares de calcário do templo. Razão pela qual os investigadores suspeitam que estas não tinham uma função decorativa, mas sim o objetivo de facilitar colocar vários crânios numa corda.

A. Uma estátua humana propositadamente decapitada. B. Uma escultura de uma pessoa a oferecer um crânio. C. Um pilar a retratar um indivíduo com cabeça de pássaro. Foto: Instituto Arqueológico Alemão

Os crânios eram suspensos ou exibidos para os inimigos no local, que era frequentado com o objetivo de homenagear os antepassados, pois acreditava-se que os poderes dos mortos passariam para os vivos, dizem os investigadores. “O culto dos crânios não é invulgar em Anatólia (Turquia)”, diz Julia Gresky. A arqueóloga explica que os restos mortais da região indicam que o povo tinha por hábito enterrar os seus mortos e, posteriormente, exumá-los para poder retirar o crânio e dispô-lo criativamente. Uma reconstituição com os fragmentos mostra que a posição do buraco feito no osso, auxiliado pelos então referidos vincos, permitia a suspensão segura do crânio e impedia a queda do maxilar.

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Imagem: Instituto Arqueológico Alemão

Göbekli Tepe remonta à era de transição dos humanos de caçadores-coletores para a fase da agricultura, portanto ainda não existia o hábito de domesticar animais ou de ficar num sítio durante muito tempo. O estilo de vida nómada fazia com que estes povos subsistissem com os recursos existentes à sua volta. Há muito poucas evidências de que alguma população se tenha fixado no local, segundo os investigadores, o que leva a crer que a criação foi feita única e exclusivamente para cultos ancestrais.