O governo da Birmânia não vai emitir vistos aos membros das Nações Unidas que estavam destacados para investigar as alegações de genocídio da minoria muçulmana Rohingya que recaem sobre o recém-eleito governo de Aung San Suu Kyi.

A líder do governo da Birmânia, laureada com o prémio Nobel da Paz em 1991 pela sua luta contra o regime militar do seu país, tem deixado perplexos alguns ativistas pelos direitos humanos que já criticaram a sua aparente inoperância em relação ao massacre dos Rohingya. Os dados mais recentes dão conta de mais de mil mortos e centenas de milhares de refugiados. Mesmo os que ainda permanecem no estado de Rakhine, no oeste do país, vivem completamente segregados, sem identificação, efetivamente sem pátria e sem acesso a serviços públicos. Relatos de violações em massa e mortes muito violentas levaram o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos a emitir um alerta que menciona a provável ocorrência de crimes contra a humanidade.

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Mas o governo não cede. Yanghee Lee, representante do país nas Nações Unidas, disse, em março, que o “extermínio dos Rohingya” poderia ser “objetivo final da perseguição institucional e da violência horrível” perpetradas conta a minoria. A ONU emitiu então uma resolução onde defendia a necessidade de uma investigação independente ao alegado massacre, que passaria necessariamente pelo envio de pessoal para a província de Rakhine.

“Se eles vão enviar alguém numa missão para tentar encontrar os factos todos, não há razão nenhuma para os deixarmos entrar”, disse Kyaw Zeya, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, na nova capital, Naypyidaw, esta sexta-feira, confirmando logo a seguir que todas as missões diplomáticas da Birmânia estão proibidas de emitir vistos ao pessoal da ONU.

Também Aung San Suu Kyi já se tinha distanciado desta missão de investigação quando disse, em maio, ao lado de Federica Mogherini, chefe da diplomacia europeia, que a Birmânia não se associaria aos esforços das Nações Unidas porque não considera “a resolução esteja em linha com aquilo que se passa no terreno”. A Nobel da Paz disse que receberia de bom-grado recomendações “desde que estas se debruçassem sobre as necessidades reais da região” mas, na opinião de Aung San Suu Kyi, as da ONU “iria dividir ainda mais as comunidades de Rakhine” e isso a Birmânia “não aceita” porque “não ajudaria a resolver os problemas que estão a surgir neste momento”.

A Birmânia insiste que a investigação interna é suficiente e já está a decorrer. “Porque é que aceitaríamos pressão externa que não pedimos quando os mecanismos internos ainda não foram completamente esgotados? Isso não contribuiria em nada para a nossa tentativa em abordar este assunto de uma forma holística”, disse Kyaw Zeya. A Birmânia, e a sua maioria budista, consideram os Rohingya imigrantes ilegais.