A Ordem dos Médicos calcula que faltem no Serviço Nacional de Saúde (SNS) entre quatro a cinco mil clínicos especialistas para cumprir o rácio de médicos por habitante aconselhado internacionalmente.

“Faltam milhares de médicos no SNS, vários milhares. Estamos a fazer um trabalho de fundo para saber quantos faltam exatamente”, afirma em entrevista à agência Lusa o bastonário Miguel Guimarães.

Cerca de 45 mil médicos estão registados na Ordem e trabalham no SNS 27.900, mas, destes, dez mil clínicos estão em formação interna de especialidade. Significa que, na prática, há cerca de 18 mil médicos especialistas a trabalhar no SNS.

Dezoito mil médicos especialistas daria 1,8 médicos por mil habitantes. Este número é claramente insuficiente. Para atingirmos aquilo que seria a média indicada pela OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] precisávamos, seguramente, de cerca de mais quatro ou cinco mil médicos especialistas dentro do SNS”, explica o bastonário.

Todos os hospitais necessitam de mais médicos, mas, segundo Miguel Guimarães, há situações “caóticas e assustadoras”. No hospital de Vila Real, por exemplo, há 11 anestesiologistas quando deviam estar no quadro 41 médicos desta especialidade.

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Outro caso identificado pelo bastonário é o do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), onde faltarão cerca de 100 médicos especialistas, o que obriga este hospital a uma necessidade de contratação externa de médicos, vulgarmente designados como tarefeiros.

A propósito da imposição de reduzir em 35% o gasto com os médicos tarefeiros, a Ordem diz que todos os hospitais estão com dificuldades, embora haja algumas situações mais críticas do que outras.

“É uma péssima medida do Ministério das Finanças. Infelizmente, o ministro das Finanças, que é louvado porque percebe de Finanças, não percebe nada de pessoas. É lamentável que o nosso ministro da Saúde aceite que o ministro das Finanças faça uma coisa dessas. Não aceito muito bem que o ministro das Finanças não perceba de pessoas, mas percebo. Agora, o ministro da Saúde tem de dizer que não consegue com menos 35% assegurar determinado tipo de serviços”, comentou o bastonário.

Para Miguel Guimarães, um dos “grandes desafios a que o Governo não está a conseguir dar solução” é a capacidade de ser concorrencial e de reter médicos no SNS.

Em quatro ou cinco anos já emigraram 3.500 médicos, a maioria jovens, e com isto “o Governo está a perder a capacidade de inovação e a capacidade de acompanhar o desenvolvimento daquilo que é a nova medicina”, argumenta. Outro “drama a que se assiste no país”, diz o bastonário, é o envelhecimento da população médica, que é atualmente superior ao da população em geral.

“O número de médicos que dentro de alguns anos se vai reformar, sobretudo em áreas como Bragança, Beja ou outras, vai causar uma perturbação muito grande naquilo que são os cuidados de saúde nessas regiões. E nada está a ser feito, objetivamente, para acautelar esta matéria, o que pode ter consequências desastrosas. É necessário começar a contratar para poder substituir pessoas”, sustentou Miguel Guimarães na entrevista à Lusa.