O relatório do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) sobre as Condições Meteorológicas Associadas ao Incêndio de Pedrógão Grande já está nas mãos do primeiro-ministro, António Costa. E nele se conclui, entre outros aspetos, que é pouco provável que tenha sido um raio a causar o incêndio de Pedrógão Grande.

É que, de acordo com os técnicos do instituto, perto do local onde começou o incêndio que vitimou 64 pessoas no passado dia 17 de junho, apenas se detetaram descargas nuvem-solo às 17h37, 18h53 e 20h54, a distâncias de 11,6, 7,3 e 8,3 km, respetivamente. Ou seja, posteriores ao início das chamas (14h43) e longe de Escalos Fundeiros.

Uma vez que a eficiência da rede é de cerca de 95% para as descargas nuvem-solo, podemos concluir que existe uma probabilidade baixa (mas não nula) da ocorrência de uma descarga nuvem-solo na proximidade do local de deflagração do incêndio”, escreve o Presidente do IPMA Jorge Miranda, na carta que acompanha o relatório disponível na página do Governo.

Já este domingo, em entrevista à Rádio Renascença, o presidente do IPMA, confrontado com a tese inicial da PJ, que dava conta de que teria sido um raio provocado por uma trovoada seca a cair em cima de uma árvore e a provocar o fogo, Jorge Miguel Miranda respondeu que essa é uma questão forense.

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Não estamos a dizer que não foi como foi descrito [pela PJ], isso é uma questão forense que tem de ser analisada pelos especialistas. O que estamos a dizer é que não há evidência meteorológica desse facto”, sublinha, reiterando mais à frente: “a verdade é para se dizer, não há evidência meteorológica”.

Já o jornal Expresso dá conta de outra informação: o raio não caiu em cima de uma árvore, como a PJ avançou inicialmente, terá antes atingido um posto de transformação de linhas de média tensão que conduziram o raio até Escalos Fundeiros. Este novo indício, escreve o mesmo jornal, surgiu no decorrer das investigações da última semana e deverá fazer com que no relatório final desta polícia o incêndio de Pedrógão Grande seja classificado como tendo origem em “causa acidental de origem natural ligada a trovoada seca”.

Downburst terá ampliado chamas no período entre as 19h20 e as 20h40

Olhando para a dimensão das chamas, o IPMA refere que “durante a maior parte do período em análise, os topos não ultrapassaram os 10 km de altitude” mas houve dois momentos de intensificação situados entre as 19h20 e as 20h40 daquele sábado.

O primeiro momento começou pelas 19h20-19h30 e atingiu o auge pelas 19h50-20h, tendo alcançado cerca de 13 km de extensão vertical. E o segundo momento de intensificação iniciou-se pelas 20h20-20h30, tendo atingido o auge pelas 20h40, quando o topo do padrão de pluma se situou a cerca de 14 km de altitude.

O IPMA considera que o que terá estado na origem da amplificação do incêndio terá sido um downburst — um vento de grande intensidade que se move verticalmente em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções — , como aliás o próprio presidente do Instituto já tinha referido.

“De uma forma muito sintética, podemos concluir que a interação entre o escoamento divergente gerado pelas células convectivas e o incêndio entretanto iniciado, conduziu a uma grande amplificação da pluma do incêndio, em termos de extensão vertical e velocidade de propagação, não suscetível de previsão por modelos numéricos de previsão do tempo, e criando condições excecionais de propagação no terreno”, remata o presidente do instituto.