Pelo menos quatro pessoas morreram na sequência de protestos antigovernamentais na sexta-feira no centro da Venezuela, elevando para 86 o número de mortes desde o início, há três meses, da onda de manifestações, informaram as autoridades.

A procuradoria-geral confirmou no sábado que foram registadas quatro mortes nos confrontos de sexta-feira em Barquisimeto, no estado de Lara.

Este sábado cumpriram-se três meses de protestos, dia que foi assinalado pela oposição em Caracas com uma manifestação de apoio à procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz, que terminou sem confrontos.

Centenas de manifestantes, que partiram de diferentes pontos de Caracas, marcharam pelas ruas em direção ao leste da cidade — zona considerada como um ‘bastião’ da oposição –, onde se reuniram para protestar contra o procedimento admitido pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

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O STJ marcou uma audiência para terça-feira, dia 04, para decidir se a procuradora-geral pode ser julgada, após a ter impedido de sair do país e ordenado o congelamento das suas contas bancárias e bens, uma decisão contestada por Luisa Ortega Díaz para quem o STJ está a “desmantelar” o Estado.

“Toda a gente na rua para denunciar e impugnar esta manobra”, afirmou, no Twitter, Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia Nacional (parlamento), única instituição venezuelana controlada pela oposição.

Os dirigentes da oposição congratularam-se com a jornada “de paz” através das redes sociais. “Hoje [sábado] voltamos a demonstrar nas ruas que somos um povo pacífico mobilizado para impedir a fraudulenta Constituinte de [Nicolás] Maduro”, escreveu o deputado Tomás Guanipa no Twitter.

A manifestação serviu também para apoiar uma série de ações da chefe do Ministério Público contra o poder judicial, o qual acusou ter rompido a ordem constitucional; e contra a Assembleia Constituinte, impulsionada pelo Presidente da Venezuela, cuja eleições foram marcadas para o próximo dia 30.

Luisa Ortega Díaz agradeceu, através do Twitter, o apoio do povo venezuelano e de organizações internacionais, garantindo estar comprometida com os direitos humanos e as “liberdades democráticas”. A procuradora-geral tem vindo a distanciar-se, nos últimos meses do Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Além de se ter oposto à Constituinte, a procuradora-geral também criticou a atuação dos agentes das forças de segurança e atribuiu pelo menos 23 mortes ocorridas durante os protestos aos corpos policiais e militares que intervêm na contenção das manifestações, avançando com acusações contra membros do Executivo.

O gabinete de Luisa Ortega Díaz anunciou na sexta-feira ter citado nomeadamente o diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), Gustavo González López, devido à suspeita da prática de “graves e sistemáticas violações aos direitos humanos”.

Os procuradores indicaram estar a investigar incidentes de detenções ilegais, rusgas arbitrárias e casos de pessoas foram privadas de liberdade não obstante ordens judiciais para que fossem soltas.

Na sequência do anúncio, o vice-presidente da Venezuela, Tareck El Aissami, acusou o Ministério Público e Ortega Díaz de “dirigir” ou “fazer parte de um golpe de Estado”.