785kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Entrevista a Luís Fonsi. Como ele criou o fenómeno viral da canção "Despacito" em 4 horas

Este artigo tem mais de 5 anos

Luis Fonsi acordou com "Despacito" na cabeça e o resto é uma história com mais de 2 mil milhões de visualizações no YouTube. Mas 4 horas chegaram para criar a Macarena do século XXI. A entrevista.

— Estou? É o assistente pessoal de Fonsi?

— No, soy yo, Luis!

Do outro lado da linha está um homem com quase vinte anos de carreira que, em quatro horas, criou o maior sucesso latino a nível global a seguir à Macarena. Se ainda hoje sabemos de cor a coreografia do êxito de Los Del Rio, é possível que daqui a 25 anos também ainda saibamos cantar “Des-pa-cito”. Luis Fonsi esteve dezoito minutos ao telefone com o Observador e nem com a promessa de conversarmos “despacito” se atreveu a falar português: foi tudo em inglês — menos naquela parte em que nós lhe deixámos dizer “cosas al oído” e cantar o refrão de uma música com mais de 2 mil milhões de visualizações só no YouTube. Como chegar a números milionários? Nem Luis Fonsi sabe explicar.

Qual é a fórmula para criar um sucesso musical com esta dimensão?
Eu não acredito em fórmulas. Quer dizer, não acredito que tenha havido uma neste caso em particular. Não é que não acredite, mas não penso que ela exista. Se existe alguma fórmula eu gostava de a conhecer! Gostava que alguém me contasse a fórmula para criar um êxito.

Mas se alguém a conhece é o Fonsi…
Sim, quer dizer… Repara, na realidade acho que qualquer compositor de canções, quando se senta para escrever tem como objetivo criar algo importante. Escrever uma canção de que as pessoas vão gostar, vão conhecer e se vão recordar. Escrever uma canção que vai mudar a vida das pessoas de uma forma positiva. Esse é o objetivo de toda a gente. Conseguir cumprir isso é uma bênção. É algo muito especial. Ser capaz de criar uma canção que, não só se transforma num êxito, como se torna num fenómeno mundial e bate recordes, isso já é uma sorte de um num milhão. Acredita, quem me dera ter a fórmula. A minha fórmula a escrever canções — não êxitos, mas canções — é tentar criar uma boa melodia que seja fácil de cantar, que seja fácil de ser lembrada. E escrever uma letra que combine bem com a melodia, que seja especial e que não pareça demasiado pensada ao escrever. Acho que há muitas pequenas coisas que precisam de ser feitas: melodia forte, boa letra, uma produção refrescante. Se for uma canção como “Despacito”, que é mais uma música dançante, tem de soar bem… Para responder à questão, não há uma fórmula: apenas tens de seguir o coração e tentar escrever a melhor canção possível.

Então como é que ideia da “Despacito” lhe veio à cabeça?
Acordei de manhã com a ideia “Despacito” na minha cabeça. Só tinha aquele “Des-pa-cito, tarirarida, despacito”, simplesmente tinha isso na minha cabeça, veio à minha mente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Acordei de manhã com a ideia “Despacito” na minha cabeça. Só tinha aquele “Des-pa-cito, tarirarida, despacito”, simplesmente tinha isso na minha cabeça

Mas houve alguma inspiração, talvez alguma coisa que tenha acontecido na noite anterior?
Simplesmente me veio à cabeça. Não a procurei, veio até mim e depois, nessa tarde, comecei a escrever a canção em redor disso. Encontrei-me com um amigo que escreve canções e desenvolvemos a ideia. Falámos da base inicial que me veio à cabeça de manhã e escrevi. Escrevi a canção em quatro horas.

Então só são precisas quatro horas para criar um êxito musical?
Sim, sabes, normalmente as melhores canções são aquelas que não demoram muito tempo a fazer. Em quatro horas tem-se uma canção.

Fale-me um pouco da sua carreira e do seu percurso de vida.
Eu tenho dezanove, quase vinte anos de carreira. Tenho nove álbuns e na universidade estudei música. Comecei a estudar música nos Estados Unidos, porque mudei-me para lá [Fonsi é natural de Porto Rico] quando tinha dez anos. Enquanto estudava também estava a preparar o meu primeiro álbum e comecei logo a trabalhar. Nunca parei desde então.

Luís Fonsi convidou Daddy Yankee para cantar “Despacito”.

Quais são as suas inspirações?
Eu oiço muita música. Digo sempre que sou um fã de música, não um fã de um género específico de música. Simplesmente gosto de ouvir boas músicas. Mas há cantores que me influenciaram muito, como Stevie Wonder ou Michael Jackson, Sting… Porque são grandes escritores de músicas, grandes homens de espectáculo. Mas gosto de ouvir tudo, desde salsa até rock n’roll.

Pensa que “Despacito” fará com que fique na história da música?
Não sei. O tempo passa e não sei se esta canção vai ser relembrada. Mas espero que sim. Espero que seja recordada com um sorriso e que as pessoas continuem a gostar dela. Está definitivamente a tornar-se numa música importante, que está a bater todo o tipo de recordes. Até o vídeo está a bater recordes. Esta música é número 1 em vários países. Recentemente recebi a notícia de que isto só aconteceu com outras duas canções, que foram “La Bamba” e “La Macarena”. E agora é “Despacito”. Está a fazer história e claro que tenho muito orgulho nisso.

Acha que “Despacito” vai ser a “Macarena” do século XXI?
Acho que “Despacito” é um novo “Despacito”. Não acho que tenha alguma coisa a ver com qualquer outra canção. É uma música diferente. “Macarena” foi um êxito mundial e também é em castelhano, mas acho que musicalmente “Despacito” não tem nada a ver com essa música porque é de um género diferente. Simplesmente estou orgulhoso do que a música anda a fazer e estou feliz de que as pessoas estejam a gostar dela.

Não perdeu nada por causa desta canção?
É muito difícil identificar os aspetos negativos. Exige muito trabalho, estou muitas vezes longe de casa e em “tours” longas. Agora, por exemplo, não vou a casa há dois meses e meio. Mas não vejo isso como algo negativo. Claro que causa danos no lado familiar e tudo, mas mais uma vez: vejo tudo isso como uma bênção.

Nem toda a gente foi capaz de ter um fenómeno como esta canção, quebrar barreiras de linguagem, bater todo o tipo de recordes.

Teme que esta canção ganhe uma dimensão tal que ofusque as suas outras criações?
Não. O facto de “Despacito” ser tão grande que ofusque outras criações não me pode incomodar porque, no fim do dia, tudo o que nós queremos é ter êxitos e ter grandes êxitos. Seria completamente errado da minha parte dizer: “Não, não quero um grande êxito” por causa disso. Isto é um sonho. Nem toda a gente foi capaz de ter um fenómeno como esta canção, quebrar barreiras de linguagem, bater todo o tipo de recordes. Não tiro nada de negativo de ter um grande “hit”. É tudo positivo, é tudo uma bênção. Aceito isso com muita gratidão. Estou honrado e estou muito feliz em continuar a trabalhar e dar ao público boa música e grandes canções.

Mas se “Despacito” é assim tão diferente, o que tem que mais nenhuma música tem?
É uma boa combinação de todos os ingredientes das outras músicas: bom ritmo, boa melodia, boa letra e um bom vídeo. Acho que tudo se juntou: é uma melodia simples e uma canção simples. As pessoas podem cantá-la, mesmo que não falem espanhol. Mesmo que não falem a língua podem dizer: “Des-pa-cito”. É fácil de dizer.

Está em tour e por isso comunica com muita gente. Há alguma história especial?
Sim, todos os dias nos cruzamos com novas histórias de fãs ou na Internet. Há uma história incrível de uma rapariga com cancro, uma menina com nove anos que está a combater um cancro no hospital. E em cima da cama começa a dançar a minha canção. O vídeo tornou-se viral e para mim isso foi muito especial: ver alguém atravessar uma fase tão dura e ver como a música lhe tirou da cabeça o tratamento… Essa é a beleza por detrás da música. É do tipo de coisas que não esquecemos.

Há uma história incrível de uma rapariga com cancro, uma menina com nove anos que está a combater um cancro no hospital. E em cima da cama começa a dançar a minha canção

Está entusiasmado por vir a Portugal?
Claro! Enquanto cantor, acho que o sonho de toda a gente é conseguir partilhar a sua música com um público diferente. Agora consegui estar em Portugal pela primeira vez, nunca estive aí. É um sonho. E estou muito entusiasmado em cantar em Lisboa e em Gondomar [concertos dias 18 e 19, no Campo Pequeno e no Multiusos gondomarense, bilhetes a 32 a 35 euros]. É uma honra ter sido convidado.

Sabia que cá em Portugal tivemos um candidato a uma Câmara Municipal que adaptou a “Despacito” para o seu hino de campanha?
Não, não fazia ideia.

O que acha de a canção até já ter um lugar na política local?
Bem.. É algo ardiloso. Normalmente não gosto de misturar música com política, especialmente quando não se conhece o candidato. Toda a gente tem a sua opinião e respeito todas. Mas quando os políticos pedem para utilizar as minhas canções para elas fazerem parte das campanhas, tento manter-me longe disso. A minha música é para toda a gente, é para toda a gente que a queira ouvir. Se ela chega a políticos, tudo bem. Fico feliz. Mas pessoalmente tento não me envolver com nenhum partido porque nunca se sabe onde está o bem e o mau. No fim de contas, fazemos música para as pessoas poderem dançar e terem bons momentos. Se isso chega a um político ou a uma equipa desportiva, seja quem for, ótimo. Só quero que as pessoas gostem da canção.

Já é público que está a criar uma versão de “Despacito” com um artista brasileiro, não é assim?
Sim, é com o Israel Novaes. Estamos agora a preparar uma versão em português.

https://www.youtube.com/watch?v=hxkTb9We7IY

Mas podemos esperar uma versão com um cantor português?
Adorava! Absolutamente.

Que cantor escolheria para cantar “Despacito” consigo?
Oh, não sei! É uma pergunta difícil. Portugal tem músicos fantásticos e há tantos que nem sequer conheço. Mal posso esperar para os conhecer. Não há ninguém em específico que me lembre agora, mas sim. Quero conhecê-los.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos