Não eram mais de dez os militares que estavam destacados para proteger a base militar de Tancos na noite em que largas quantidades de material de guerra desapareceram das instalações, e as espingardas G3 que levavam consigo durante a ronda de segurança não estavam sequer armadas. Segundo fontes militares citadas pelo Jornal de Notícias é assim que funciona em todos os paióis e unidades militares do país. O tema foi debatido na reunião do Conselho Superior do ramo desta segunda-feira, de onde saíram várias propostas no sentido do reforço das medidas de segurança nas instalações do Exército. Segundo o Diário de Notícias, a segurança pode regressar a níveis equivalentes aos anos 1980.

Da reunião de segunda-feira, que juntou o Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) e uma centena de militares, entre generais e coronéis com funções de comando e direção no ramo das Forças Armadas, saíram várias recomendações, entre elas a ideia, avançada pelo CEME, de voltar a aplicar normas de segurança que se aplicavam nos anos 80, pelo menos em torno dos paióis de Tancos.

A ideia é fazer rondas de segurança mais intensas e permitir que os militares que as fazem estejam com armas carregadas. Como é que isso se faz? Juntando mais dois militares aos dez que compõem a secção responsável pelas rondas; criar uma “força de reforço”, segundo fontes ouvidas pelo DN, para ajudar em caso de necessidade, e ainda apertar as rondas concretamente na área dos paióis. Mais: desselar os carregadores das armas dos militares que fazem as rondas, que é como quem diz, permitir que as armas estejam de facto com munições, prontas a ser utilizadas.

O facto de os militares não estarem com armas carregadas tem originado várias reações e uma onda de indignação nas redes sociais. Num comentário na página de Facebook da Associação de Oficiais das Forças Armadas, o coronel António Feijó sugeria que foi bom os militares de Tancos não terem dado de caras com os ladrões do material de guerra, porque, se se tivessem atravessado no seu caminho tinham, provavelmente, sido abatidos. Isto porque, dizia indignado, “as sentinelas não podem defender as instalações que lhes são confiadas, mesmo que o queiram”.

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“Se por acaso a ronda militar apanhasse em flagrante este grupo, muito provavelmente seria neutralizada ou até eliminada. E sabem porquê? É que as sentinelas nos nossos quartéis andam sem carregadores municiados nas armas e apenas dispõem de um outro, nas cartucheiras, com poucos cartuchos e lacrado. Em resumo: não podem defender as instalações que lhes são confiadas, mesmo que o queiram: retirar o carregador vazio, deslacrar o que levam na cartucheira, colocá-lo na arma e disparar é uma impossibilidade, porque antes – já foram desta para melhor”, lê-se.

Coronel António Feijó – "DEIXEMO-NOS DE FANTASIAS"O que aconteceu com o paiol de Tancos foi realizado por quem sabe e…

Posted by AOFA – Associação de Oficiais das Forças Armadas on Sunday, 2 July 2017

O caso já motivou a demissão de cinco comandantes, e essa demissão já motivou um protesto por parte dos oficiais do Exército. O protesto está marcado para quarta-feira e consistirá num ato simbólico de depor as espadas à porta da Presidência da República.

O objetivo é pedir a exoneração do chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, e do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Pina Monteiro, e protestar contra a demissão temporária dos cinco comandantes. A intenção é “demonstrar a indignação, através da entrega da espada, símbolo do comando de oficiais, pela exoneração e humilhação pública, familiar, social a que foram sujeitos os nossos camaradas” e “pedir a recondução dos coronéis exonerados no comando das unidades e um pedido formal de desculpas pela Instituição aos seus familiares e camaradas de armas”, lê-se no e-mail da convocatória que está a chegar aos oficiais do Exército.

Também as embaixadas, segundo o Correio da Manhã, estão a pedir esclarecimentos urgentes a Lisboa.

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