Cerca de 200 pessoas participaram esta quarta-feira numa “ação de solidariedade com o povo da Venezuela”, organizada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação com apoio da embaixada venezuelana, que foi perturbada por um incidente com um cartaz.

A “ação de solidariedade”, apoiada pela Embaixada da Venezuela em Portugal, foi promovida, segundo o CPPC, para “expressar apoio às forças progressistas” venezuelanas, alvo de “um golpe antidemocrático” que visa a “recuperação do domínio dos Estados Unidos”, “posto em causa com os processos progressistas na América Latina”.

A manifestação, na qual participaram dirigentes políticos e sindicais, entre os quais a presidente do CPPC e candidata comunista à Câmara Municipal do Porto, Ilda Figueiredo, e o líder parlamentar do Partido Comunista Português (PCP), João Oliveira, seguiu-se a um “ato protocolar” de comemoração do Dia da Independência da Venezuela junto à estátua de Simon Bolívar, na Avenida da Liberdade.

Antes do início da comemoração, e pouco após a chegada da maioria dos manifestantes, um jovem que segurava um cartaz com a inscrição “Venezuela Livre” foi rodeado por várias pessoas, algumas delas agitando bandeirolas do CPPC, e o cartaz desapareceu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Eu trazia um cartaz, que nos foi oferecido por um jovem artista venezuelano recém-chegado, com [a imagem de] uma mulher com uma pessoa nos braços, que representa a Venezuela, e que dizia ‘Venezuela Livre’, não dizia mais nada”, explicou à Lusa o jovem, Christian Hohn, esclarecendo que é presidente da Associação Civil de Venezuelanos em Lisboa, Venezos.

Foi-me arrancado, foi-me tirado. Eu estava a caminhar com ele, de cada vez que me mexia alguém se punha à minha frente, com bandeiras. Comecei a levantar o cartaz, não falei, não gritei, e encurralaram-me ao pé do ‘mupi’, puxaram-me pelas calças, puxaram-me aqui em baixo [apontando para a bainha das calças] e tiraram-me o cartaz”, explicou.

No ato protocolar que antecedeu o protesto, o embaixador da Venezuela em Lisboa, Lucas Rincón Romero, afirmou “a determinação” dos venezuelanos “na independência” e, sublinhando a “legitimidade constitucional” do presidente, Nicolas Maduro, enalteceu o “apoio constitucional e popular à paz” na Venezuela.

“Hasta la Victoria, siempre!”, disse, ao concluir a intervenção e declarar terminado o ato protocolar, no qual participaram representantes da Câmara Municipal de Lisboa e a Banda do Exército, que tocou os hinos nacionais dos dois países. Após os hinos, e enquanto as entidades oficiais e a banda abandonavam o local, os manifestantes gritaram palavras de ordem como “Venezuela vencerá” e “Viva Maduro”.

Na sua intervenção, muito aplaudida pelos manifestantes, Ilda Figueiredo lamentou a “fase difícil” que a Venezuela atravessa e que “visa paralisar a atividade legítima do Governo”, vítima de “um golpe fascista” promovida por “grupos reacionários e de extrema-direita” que “tentam lançar o caos no país”. “É uma vergonha”, considerou Christian Hohn, cuja associação diz ter 26.000 membros em Portugal e na Venezuela. “Um evento que foi criado pelo Consulado e pelo CPPC para homenagear, enaltecer, o regime na Venezuela”.

Penso que [estas] pessoas não veem as mesmas notícias que eu. […] Em 85 dias de protestos houve 72 mortos, não há comida, não há medicamentos, as pessoas estão a passar fome e a morrer por falta de medicamentos”, disse.

Enquanto presidente da Venezos, Hohn tem acompanhado muitos portugueses residentes na Venezuela que regressam a Portugal: “Na Madeira, a situação é gravíssima. Mesmo aqui no continente, desde o início do ano, já recebemos 72 ou 74 famílias […] Os venezuelanos vão para Espanha, quem vem para cá é o português, que está a perder a sua padaria, o seu talho, o seu negócio, e está a tentar vender o que pode para vir para cá”.

Venezuela enfrenta a “mãe de todas as manifestações”

Na Venezuela, as manifestações a favor e contra Nicolás Maduro intensificaram-se a partir 1 de abril, depois de o Supremo Tribunal de Justiça divulgar duas decisões que limitavam a imunidade parlamentar e atribuíam àquele órgão de soberania as funções do Parlamento. Entre queixas sobre o aumento da repressão, os opositores manifestam-se também contra a convocação de uma Assembleia Constituinte, feita a 1 de maio, para mudar a Constituição do país.