A agência de notação de risco Fitch considerou esta quarta-feiraque a revisão para baixo das metas de inflação do Brasil deve contribuir para o ajuste macroeconómico e a recuperação do crescimento do país. “A meta mais baixa da inflação no Brasil deve ajudar a ancorar as expectativas de inflação de médio prazo à medida que a meta de inflação do Banco Central do Brasil ganha credibilidade. Isso deve apoiar o ajuste macroeconómico e uma recuperação do crescimento”, lê-se no relatório hoje divulgado pela Fitch.

Na semana passada, o Conselho Monetário Nacional (CMN) do Brasil estipulou que as metas de inflação para 2019 e 2020 serão, respetivamente, 4,25% e 4,0%. Foi a primeira mudança no centro da meta para a inflação brasileira confirmada desde 2005.

O CMN manteve a margem de tolerância de 1,5 pontos percentuais para cima ou para baixo da meta e anunciou que no próximo ano começará a definir seus objetivos para a inflação com três anos de antecedência. A agência de notação destacou que neste cenário de queda do ritmo do reajuste dos preços no Brasil, decidiu cortar as suas previsões de inflação de 4,8% para 4,2% em 2017, e de 4,6% para 4,5% em 2018.

“A nossa previsão para 2019 é de que a inflação fique também em 4,5%. Essas previsões poderiam ser reduzidas, uma vez que as metas de inflação estabelecidas pelo CMN ajudam a reforçar as expectativas de inflação mais baixas”, destacou a Fitch. A análise reforça que a queda nas expectativas de inflação permitiu ao Banco Central do Brasil a intensificar a flexibilização monetária, reduzindo a sua taxa básica de juros de 14,25%, em 2016, para 10,25% em maio deste ano.

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“Esperamos que a flexibilização monetária e que os ganhos salariais reais possam apoiar uma recuperação da economia. Nossas últimas previsões estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescerá 0,5% neste ano, após uma contração de 3,6% em 2016”, destacou a agência de classificação de riscos.

A Fitch manteve a previsão de que haverá um crescimento mais acelerado da economia brasileira nos próximos dois anos, com o PIB crescendo 2,5% em 2018, e 2,7% em 2019. No entanto, alertou que o ambiente político conturbado pode alterar as expectativas de crescimento do Brasil, principalmente se as reformas em discussão no Congresso do país não forem aprovadas. “A incerteza política aumentou nas últimas semanas, com denúncias de corrupção contra o Presidente Temer”, destacou.

O alto desemprego, a dívida interna e a desalavancagem do setor privado são outros fatores mencionados pela Fitch como problemas que podem pesar sobre a recuperação económica do Brasil. “Esses problemas estão prejudicando as perspetivas das reformas fiscais, em especial a reforma do sistema de pensões, que são fundamentais para que o limite de despesas públicas aprovado em dezembro seja efetivo e credível ao longo do tempo”, avaliou a Fitch.

Para a agência, a recuperação dos indicadores de confiança nos negócios e dos consumidores após a transferência de poder no ano passado “se mostrou desigual e a abordagem das eleições presidenciais e parlamentares em 2018 poderia reduzir a janela política para prosseguir as reformas”. Na conclusão do relatório, a Fitch afirmou que mesmo que a economia cresça com mais força nos próximos anos, a recuperação do grau de investimento do Brasil será comparada com a de outros países.

“O crescimento do PIB brasileiro será em torno de 1 ponto percentual menor que a mediana da categoria BB nos anos de 2018 e 2019. Esta perspetiva mantém a fraqueza do ‘rating’ do Brasil como observamos quando afirmamos a classificação soberana de risco do Brasil em BB negativo em maio”, concluiu a Fitch.