O ex-líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto, Luís Artur Pereira, desfiliou-se do partido por um “imperativo de consciência”, decidindo agora apoiar a recandidatura do independente Rui Moreira à presidência da câmara municipal.

Numa carta datada de terça-feira que enviou ao líder do PSD, Pedro Passos Coelho, citada pela agência Lusa, Luís Artur admite que é “doloroso abandonar um partido” do qual é militante há 41 anos, mas diz ter ficado sem opções: o PSD do Porto “radicalizou-se”, argumenta.

“O PSD do Porto, nos últimos tempos radicalizou o discurso, tem um candidato à presidência da Câmara [Álvaro Almeida] que não tem afinidades com o PSD, que não tem uma ideia de cidade e que a única coisa que sabe fazer é dizer mal de tudo, acentuando a via radical da candidatura”, refere.

O deputado da Assembleia Municipal do Porto, recentemente designado por Rui Moreira para representar até abril de 2020 a autarquia no Coliseu do Porto, explica ainda que não tem nada contra Passos Coelho ou contra a sua liderança. No entanto, escreve Luís Artur Pereira, “em primeiro lugar” está o Porto e a necessidade que sente de agir “em total liberdade, como sempre”.

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“Fui líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto nos últimos três anos e meio e atrevo mesmo a dizer-te que fui o rosto da oposição do Porto. Mas, como disse no meu discurso de tomada de posse, nunca fui oposição ao Porto. Fui uma oposição firme mas moderada e construtiva, como deve ser a de um partido responsável com ambições de poder. Fui leal ao PSD e à minha cidade”, diz a Passos.

Luís Artur Pereira abandonou a liderança da bancada do PSD naquele órgão autárquico no início de junho precisamente por não estar disposto a “seguir a via radical que o partido quer”. Crítica que reitera na carta que endereçou a Passos Coelho esta terça-feira: “a via radical da candidatura” do PSD à liderança da autarquia motivou-o a pedir a demissão de líder da bancada na Assembleia Municipal, porque, diz, “estava impedido de continuar a fazer uma oposição construtiva e responsável”.

Mais: o agora ex-líder militante social-democrata diz que foi “vítima de ataques de caráter”, que considera terem sido “o fim da linha”. “O PSD precisa de repensar com urgência a sua organização interna, nomeadamente as estruturas da área residencial”, defende Luís Artur na carta.

Terceira baixa do PSD no Porto em menos de duas semanas

Como recorda o Expresso, esta é a terceira baixa do PSD no Porto em menos de duas semanas. A 24 de junho, Luís Valente de Oliveira, um histórico social-democrata, enviou uma carta a Pedro Passos Coelho pedindo a sua desvinculação de militante, depois de ter aceitado o convite de Rui Moreira para ser mandatário da recandidatura independente “Porto, o Nosso Partido”.

Na semana passada foi a vez de Nuno Lemos, presidente da empresa Municipal Porto Lazer, entregar o cartão de militante, por discordar “inteiramente da estratégia política de Pedro Passos Coelho a nível nacional, regional e para a cidade do Porto”.

Na altura, Nuno Lemos explicou ao mesmo Expresso que, apesar de já ter estado contra a decisão do partido de apoiar Luís Filipe Menezes nas autárquicas de 2013, a decisão de romper com o partido justifica-se agora como forma de evitar “ser expulso” do partido como aconteceu há quatro anos — na altura, vários militantes foram expulsos do PSD por discordaram da escolha o ex-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia como candidato social-democrata ao Porto.

Nuno Lemos deixou ainda um aviso: se nada for feito, os militantes do PSD do Porto vão continuar a abandonar o partido, seja por discordarem do “discurso” de Pedro Passos Coelho, seja por discordarem da escolha de Álvaro Almeida para encabeçar a candidatura do partido no Porto.