O hospital chinês onde está internado o Prémio Nobel da Paz Liu Xiaobo informou que suspendeu o uso de medicamentos para combater o cancro de que padece o ativista para evitar sobrecarregar o fígado debilitado do prisioneiro.

Numa declaração difundida no respetivo site, o First Hospital of China Medical University disse que a equipa médica decidiu suspender o uso de um medicamento devido à deterioração das funções do fígado de Liu Xiaobo. Também referiu que o uso de medicina tradicional para tratar o tumor foi igualmente suspenso. A mesma declaração indica que a equipa médica adicionou ao tratamento um medicamento para tratar a trombose venosa que o ativista estava a desenvolver numa perna.

Condenado em 2009 a uma pena de 11 anos de cadeia por subversão, Liu Xiaobo, de 61 anos, foi colocado em liberdade condicional após lhe ter sido diagnosticado, em maio, um cancro no fígado em fase terminal. Na semana passada, a mulher de Liu Xiaobo deu a entender que o cancro no fígado de que padece o Nobel da Paz chinês é inoperável, num vídeo difundido na Internet. Sem conter as lágrimas, Liu Xia sugeria que eram inúteis tratamentos médicos como quimioterapia ou radioterapia, durante o vídeo, de apenas dez segundos, difundido através do Twitter.

Esta quarta-feira a China convidou médicos estrangeiros para examinar o estado de saúde do Nobel da Paz chinês. Vários países tinham pedido a Pequim para autorizar Liu Xiaobo a viajar para o estrangeiro para tratamento médico, um pedido também manifestado por organizações não-governamentais e de defesa dos direitos humanos.

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Símbolo da luta pela democracia na China, Liu Xiaobo, de 61 anos, foi condenado depois de ter sido um dos promotores da chamada “Carta 8”, um manifesto a favor da introdução de reformas políticas democráticas e do respeito pelos direitos humanos no país, subscrito inicialmente por mais de 300 intelectuais, inspirado na “Carta 77” lançada por Vaclav Havel na antiga Checoslováquia socialista.

O antigo professor de Literatura na Universidade de Pequim escreveu sobre a sociedade e a cultura chinesas, centrando-se na democracia e nos direitos humanos e era influente no meio intelectual. Liu foi um dos animadores do movimento estudantil pró-democracia da Praça Tiananmen, em 1989, tendo estado preso durante 21 meses após a violenta repressão dos protestos. Em 1996, foi condenado a três anos de “reeducação através do trabalho”, em resultado de mais ações de luta pelos direitos fundamentais.

Foi novamente detido a 8 de dezembro de 2008, dois dias antes da publicação, por ocasião do 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da “Carta 8”, embora a data formal da detenção tenha sido 23 de junho de 2009, por suspeita de “alegadas ações de agitação destinadas a subverter o Governo e derrubar o sistema socialista”. Em 9 de dezembro de 2009 foi oficialmente acusado de “incitar à subversão do poder do Estado” e a 25 do mesmo mês, após um julgamento que não cumpriu os padrões processuais internacionais mínimos, foi condenado a 11 anos de cadeia.

A Academia Nobel atribuiu-lhe em 8 de outubro de 2010 o galardão da Paz, em reconhecimento da “longa e não-violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”.