O ex-ministro social-democrata António Figueiredo Lopes admitiu esta segunda-feira que o furto de material de guerra em Tancos pode gerar quebra de confiança nas instituições mas considerou prematuro assacar responsabilidades antes de concluídas as investigações.

“Como infraestrutura crítica, uma das consequências de qualquer violência sobre essas infraestruturas, neste caso o furto de armas, gera normalmente um sentimento de insegurança e pode gerar alguma quebra de confiança nas instituições que detém essa responsabilidade”, reconheceu, em entrevista à agência Lusa.

Contudo, para o ex-ministro da Defesa, “é preciso deixar muito claro” que o incidente “não abala nem pode abalar a confiança que os portugueses têm na instituição militar”.

Ao longo dos anos, [a instituição militar] tem mostrado que é conduzida por homens e mulheres que se pautam por valores e princípios éticos que colocam o princípio da abnegação e do empenhamento pessoal como regra da sua conduta e que participam de uma maneira muito generosa e eficaz em missões de serviço público como se viu agora nos incêndios do Pedrógão”, sublinhou.

A questão da confiança dos portugueses nas Forças Armadas é crucial para o ex-ministro, que defendeu que o tratamento do problema colocado pelo furto de Tancos “tem de ser feito com a maior transparência, porque a transparência é uma condição fundamental para a confiança”. O ex-governante recusou juntar-se aos que já pediram a demissão do ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, e do Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, considerando que “é prematuro” qualquer espécie de “tiro ao alvo”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não, tudo aquilo que se possa hoje falar sobre a assunção de responsabilidades é prematuro porque os factos não estão averiguados e todo o cenário envolvente está ainda por esclarecer. Obviamente que há responsabilidades e a vários níveis, há responsabilidades políticas e há responsabilidades operacionais, mas não adiantaria de nada se neste momento de uma maneira precipitada começássemos a fazer um pouco o tiro ao alvo”, declarou.

“É evidente que quem está na primeira linha da responsabilidade política é conhecida, sabe-se quem é. Quem está na primeira linha da responsabilidade militar também se sabe quem é, agora compete-nos a nós com tranquilidade aguardar que tudo seja esclarecido”, acrescentou.

Figueiredo Lopes disse concordar “plenamente” com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “quando diz que é preciso avaliar e desenvolver exaustivamente os factos, retirar responsabilidades e as devidas consequências doa a quem doer”. O furto de material de guerra na base de Tancos é “uma ocorrência muito grave que demonstra uma vulnerabilidade numa infraestrutura crítica militar”, reconheceu.

O ex-ministro da Defesa, professor universitário e presidente da Associação Eurodefense, assinalou contudo que furtos de armas em instalações militares “acontecem com alguma frequência noutros países” que até estão mais bem preparados.

“Basta pensar no que aconteceu em França em pleno cenário de ataques terroristas em que houve também um furto num paiol deste tipo e foram desviadas armas e mais tarde se veio a reconhecer que algumas delas foram parar às mãos de terroristas”, lembrou.

Para Figueiredo Lopes, “estas coisas acontecem, o que é fundamental é saber encará-las como uma anomalia, que sejam devidamente corrigidas e que não se abale dessa maneira aquilo que é a essência e o fundamento principal da existência de Forças Armadas ao serviço de portugueses”.

Granadas de mão, granadas anticarro e explosivos estavam entre o material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos, Vila Nova da Barquinha, Santarém, anunciou o Exército no dia 29 de junho.

A Procuradoria-Geral da República anunciou na terça-feira que abriu um inquérito ao caso, por suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional.

No Exército decorrem averiguações internas e o ministro da Defesa Nacional, que afirmou desconhecer problemas de insegurança naquela base militar, determinou uma inspeção extraordinária às condições de segurança dos paióis.

Militante do PSD, António Figueiredo Lopes foi deputado à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, foi secretário de Estado da Defesa de 1991 a 1995, ano em que substituiu Fernando Nogueira na pasta da Defesa. Foi ministro da Administração Interna entre 2002 e 2004.

Professor universitário, Figueiredo Lopes é atualmente presidente da Associação EuroDefense Portugal, que visa a promoção do debate público sobre a política europeia de segurança e defesa.