Passos Coelho discursou esta quarta-feira durante o debate anual sobre o Estado da Nação para confrontar o Governo com o Galpgate, os paraísos fiscais, o crédito malparado, os problemas com o SIRESP ou o inquérito à Caixa Geral de Depósitos. Mas, de acordo com o que foi avançado pelo Jornal de Notícias, parte do discurso não é de sua autoria.
Passos Coelho utilizou várias frases que se podem ler num post que o ex-ministro Miguel Poiares Maduros escreveu no Facebook na terça-feira à noite, mas nunca o citou ou referiu o seu nome. Contactado pela mesma publicação, fonte do PSD que “é naturalíssimo que o líder da oposição receba contributos de pessoas que lhe são próximas”.
Já Poiares Maduro referiu que “troca muitas impressões” com o líder do PSD e que estava acordado que Passos Coelho poderia utilizar parte do seu post no discurso.
Leia o post de Poiares Maduro:
Leia a parte do discurso de Pedro Passos Coelho que foi destacada pelo Jornal de Notícias:
Passos Coelho, no debate do Estado da Nação:
“Um primeiro-ministro diz ao país que aceitou o pedido de demissão de secretários de Estado para estes poderem solicitar ser constituídos arguidos e depois descobre-se que, afinal, resignaram porque já tinham percebido que iriam, de qualquer modo, ser constituídos arguidos;
“Um primeiro-ministro informa o Parlamento que a retirada de três territórios da lista de paraísos fiscais foi feita depois de consultados os serviços técnicos mas afinal os serviços técnicos não foram tidos nem achados na decisão que não está, sequer, fundamentada face aos critérios dispostos na lei;”
“Um primeiro-ministro, depois de andar um ano a prometer solucionar o problema do crédito malparado, afirma publicamente que o Governo e o Banco de Portugal estão a concluir negociações com as instituições europeias para adotar finalmente uma solução, mas, poucos meses depois, pela voz de uma administradora do Banco de Portugal, vem-se a perceber que, afinal, não existia solução porque as regras europeias não o permitem;”
“O Governo informa que solicitou um parecer técnico independente sobre um contrato na PPP SIRESP e depois descobre-se que, afinal, o parecer foi solicitado a quem tinha assessorado o contrato inicial;”
“Um Governo diz que aumenta o orçamento dos serviços e que a austeridade acabou, mas depois impede os serviços de gastarem o aumento e, em alguns casos, até se constata que o gasto foi inferior ao que era antes, em particular quando se excluem os gastos com salários;”
“Um Governo desfila pelo palco da tragédia de Pedrógão e, passado um mês, ainda nem sequer teve a capacidade de apresentar formalmente a Bruxelas o pedido de ajuda financeira para acorrer às pessoas;”
“Uma maioria parlamentar propõe-se encerrar um inquérito à CGD antes da decisão judicial que autorizaria o acesso aos documentos fundamentais para apurar os respetivos factos;”
“É difícil, senhor presidente, minhas senhoras e meus senhores, não encontrar nesta sequência um padrão, que se estende a muitos outros exemplos. Estou certo que, em muitos países, e sobretudo naqueles com os quais gostamos de nos comparar, isto seria considerado grave. Infelizmente, pelo nosso país, há hoje quem encontre nesta forma de proceder traços de genialidade ou de grande habilidade política.”