Quem é que nunca comprou coisas absolutamente inúteis, ou porque tinham imensa piada no momento, ou porque o preço era ótimo ou, simplesmente, porque a ideia de levar algo novo para casa proporcionava uma ligeira subida do ânimo? As compras por impulso são difíceis de contornar e acabam quase sempre da mesma maneira: peças encostadas a um canto, utilizadas pouquíssimas vezes, fora os casos em que as etiquetas não chegam sequer a ser tiradas. Existem pequenos truques e em quase todos o segredo é só um: perceber se o impulso resiste à passagem do tempo.

Não entre numa loja sem objetivos

Estabelecer um orçamento prévio também ajuda

Isto é, não deixe que seja aquilo que vê a criar a necessidade. Se precisa de alguma peça em especial, mantenha o foco, evitando, se for o caso, outras secções. O mesmo serve para o orçamento. Estabelecer um limite do que quer gastar antes de ir às compras ajuda a manter os pés bem assentes na terra e a resistir mais facilmente a tentações de última hora. Juliana Cavalcanti já trabalhou como stylist e relações públicas e no marketing de marcas e lojas, sempre na área da moda. Atualmente, gere a loja Hay Carmo, em Lisboa, mas além da experiência profissional em Lisboa, Londres e no Rio de Janeiro, fala sobre o tema também como consumidora. “Comprar por impulso depende de emoções, mas evitá-lo é uma questão de razão”, afirma. Quanto ao mood, se o objetivo nesse dia for levar qualquer coisa para, então o melhor é encontrar um plano alternativo.

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Tenha cuidado com as promoções

Nem todas as oportunidades são imperdíveis

“Os saldos são o maior isco para compras por impulso”, diz ainda Juliana. Afinal, uma peça que custava 50€ e agora custa 25€ tem tudo para ser um bom negócio. Pode ser de facto, mas a compra também pode estar a ser movida pela sensação de oportunidade imperdível. Em período de saldos ou promoções, há que reforçar todos os outros conselhos.

Os saldos são a altura ideal para redobrar as atenções na hora de ir às compras. © Tiago Petinga/LUSA

Evite ir às compras no final de um dia de trabalho

Vai pensar que merece uma recompensa

Da mesma forma que é de evitar ir ao supermercado com fome, entrar numa loja de roupa, decoração, discos ou livros com aquela sensação de “mereço uma recompensa” é meio caminho andado para fazer más compras. Regra geral, o objetivo de sair da loja com alguma coisa sobrepõe-se à capacidade de procurar o que é realmente necessário. Basta relembrar as vezes em que já entrou numa loja com um alvo definido e, na falta do que procurava, trouxe uma coisa completamente diferente, uma espécie de prémio de consolação. Alternativa? Programe a ida às compras para uma altura em que não esteja sob stress, nem sob o cansaço e a impaciência próprios do final de um dia de trabalho.

Use a tecnologia a seu favor

Há apps que permitem criar uma wishlist

Comprar por impulso não é exclusivo das lojas físicas. Afinal, para fazer compras online, só precisa de introduzir meia dúzia de números num formulário e, com sorte, as coisas vão parar-lhe a casa. E se pusesse todos os objetos de desejo em stand by numa espécie de carrinho de compras pessoal onde pode juntar artigos de todas as marcas e lojas? Isto é possível se usar uma aplicação como a Savelist. É gratuita e, uma vez instalada, está pronta a receber tudo e mais alguma coisa. Pode criar várias listas para organizar as possíveis compras, torná-las públicas, caso queria deixar que outros se inspirem nas suas escolhas, e receber notificações sempre que as peças guardadas sofrerem uma redução de preço e voltarem a ficar disponíveis em stock. Se for puro impulso, pense duas vezes (que é como quem diz dois dias) antes de comprar. Enquanto isso, a aplicação ajuda-o a manter tudo debaixo de olho.

O Savelist pode ser usado no telemóvel, mas também no computador.

Só tem um contra: para adicionar peças à lista, tem de aceder às lojas online diretamente no browser, em vez de utilizar as aplicações, se bem que algumas também podem ajudar nesta gestão. Lojas como a Bimba y Lola, a Asos e a Mango têm uma wishlist própria que lhe permite marcar as peças preferidas, no tamanho e na cor que quer. Uma ferramenta ideal para aqueles dias em que a decisão de comprar pode ficar para mais tarde. Se não passar de um mero impulso, umas horas serão o suficiente para dissuadi-lo de fechar o negócio.

A “wishlist” da Bimba y Lola e os “saved items” da Asos.

Experimente sempre

O que parece bonito no cabide nem sempre assenta bem

Um dos truques é ganhar tempo, portanto, qualquer manobra de diversão que possa adiar o momento de consumar a compra é bem-vindo, nomeadamente uma ida aos provadores. Quantas vezes já chegou à conclusão de que aquela peça que parecia ser perfeita, afinal, não assenta assim tão bem? Ver o fitting final, no caso de roupa e acessórios, é meio caminho andado para começar a pôr as opções em causa, além de o poupar à maçada de ter de voltar à loja para trocar ou devolver. Em alguns casos, só a ideia de ter de despir aquelas calças skinny dentro de um cubículo quente e alcatifado já é suficiente para voltar atrás. No fundo, é a mesma lógica de quando se está numa fila interminável para a caixa. Se quisermos muito uma coisa, esperamos. Se for só mais uma peça, perdemos a paciência a abortamos a missão.

A música está muito alta? Tente noutro dia

A música frenética precipita as compras

Sabia que o tipo de música e o volume a que toca influencia diretamente o tempo que passa dentro de uma loja? E, consequentemente, também o faz tomar decisões mais depressa, mas nem sempre no melhor sentido. Em 2011, Francisco Coimbra abriu a Música no Espaço, uma empresa dedicada a criar playlists para lojas, hotéis e restaurantes em todo o país. Melhor do que ninguém, ele sabe que uma música frenética, posta a tocar bem alto, é capaz de precipitar algumas compras. “É a mesma lógica do que acontece nos restaurantes. Pedem-me uma música mais mexida se quiserem ter uma maior rotatividade de clientes, ou seja, se quiserem que as pessoas não fiquem tanto tempo”, conclui.

Imagine o futuro da(s) peça(s)

É tudo uma questão de viabilidade

Para Juliana Cavalcanti, é essencial saber o que se tem no armário. E, como em qualquer trabalho de casa, às vezes é preciso recapitular, ou seja, olhar bem para o guarda-roupa antes de partir para as compras. Por um lado, ajuda a identificar o que faz falta e evita que gaste dinheiro em coisas semelhantes às que já tem. Por outro, dá-lhe mais segurança para avaliar a viabilidade de cada peça. Com que peças a vai usar? Em que contexto se vai sentir confortável a vesti-la? Assim, responder a estas perguntas na hora fica mais fácil.

Resista à pressão das tendências

Porque as tendências passam

É difícil, mas não é impossível. Marcas, bloggers e influencers estão sempre a disparar informação e há peças que se tornam rapidamente objetos de desejo impulsivo, independentemente de quantas já tem do mesmo género, do quão bem (ou mal) lhe ficam e de quanto tempo mais se vão continuar a usar. Lembre-se que quase todas as peças do momento são também as mais datadas e que, muito provavelmente, dentro de um ou dois anos, pode já não querer usá-las.

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Feliz 5 de mayo amigos ???????? | @majorelle_collection

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Faça as contas

Veja também se o material vale o preço

Resistir a compras por impulso também passa por aqui: olhar para o valor e convertê-lo num serviço, experiência ou mesmo noutro produto que realmente lhe faça falta. “Se for passar o próximo fim de semana fora, vou olhar para uma peça de 25€ e pensar que já dá para um jantar”, partilha Juliana. Espreitar as etiquetas também ajuda a avaliar o investimento. Será que o material vale o preço? Quantos poliésteres inflacionados não lhe passaram já pelas mãos? Tudo isto, sempre com o mesmo propósito: dissuadi-lo de uma compra por impulso.

Olhe em frente na fila para pagar

Missão cumprida se resistir aos famosos corredores da caixa

“A forma como as pessoas se comportam dentro das lojas está mais do que estudada pelas marcas”, relembra Juliana. A influência do visual merchandising é maior do que pensa. Começa na forma como estão dispostas as prateleiras e charriots e acaba nos famosos corredores da caixa, criados sob o pretexto de facilitarem a organização das filas. É lá que estão os artigos mais baratos, mas também mais fáceis de juntar ao carrinho nos minutos finais. Raramente são escolhas racionais, por isso, em caso de dúvida, olhe sempre em frente.