Iniciada no cinema em 1968 no cinema com “O Homem que Veio do Futuro”, de Franklin J. Schaffner, infelicíssimo título português para o original “Planet of the Apes”, baseado no livro de ficção científica (FC) de Pierre Boule, a saga passada numa Terra futura e pós-apocalíptica onde os símios adquiriram a capacidade da fala, tornaram-se inteligentes e dominaram os humanos, reduzindo-os à escravidão, prolongou-se até 1973 com mais quatro filmes, de qualidade muito variável: “O Segredo do Planeta dos Macacos” (1970), “Fuga do Planeta dos Macacos” (1971), “A Conquista do Planeta dos Macacos” (1972) e finalmente, “Batalha pelo Planeta dos Macacos” (1973).

[Veja o “trailer” de “O Homem que Veio do Futuro”]

Estes filmes glosaram de vários ângulos o tema principal da série, e os macacos chegaram até a viajar no tempo para o passado, para antes do conflito nuclear que os tornou a espécie dominante. No último da saga, passado nos EUA no ano 2670, macacos e humanos já coexistem pacificamente e fundaram juntos uma nova sociedade. Houve ainda duas séries de televisão, em 1974 e 1975, uma delas de animação. Em 2001, Tim Burton assinou um “remake” apenas serviçal da realização original de Schaffner, cujo final – o astronauta interpretado por Mark Wahlberg regressa a uma Terra alternativa, controlada pelos símios — parecia anunciar um novo ciclo de filmes, mas afinal a coisa ficou por aí.

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[Veja o “trailer” de “Planeta dos Macacos”]

E quando parecia que o Planeta dos Macacos tinha saído da órbita de Hollywood de vez, eis que, em 2011, uma indústria cinematográfica em crise de criatividade e de histórias originais veio requisitar outra vez os seus serviços. Agora para uma nova série de filmes que partem da mesma premissa do quarto da primeira série, “A Conquista do Planeta dos Macacos”, e pretendem servir de “prequel” a esta (confusos? Não são os únicos). E assim, após “Planeta dos Macacos: A Origem”, de Rupert Wyatt (2011), que lança a revolta dos macacos no nosso mundo, liderada por César (Andy Serkis), o chimpanzé que ficou super-inteligente devido a uma droga experimental; e de “Planeta dos Macacos: A Revolta”, de Matt Reeves (2014), passado dez anos depois, onde um vírus letal está a exterminar os humanos e os macacos estão em ascensão, surge “Planeta dos Macacos: A Guerra”, também de Matt Reeves.

[Veja o “trailer” de “Planeta dos Macacos: A Guerra”]

Pondo em confronto decisivo, numa Terra devastada e invernosa, os macacos liderados por César (Andy Serkis em mais uma impressiva interpretação apoiada na tecnologia digital de “motion capture”) e um grupo de militares rebeldes liderados pelo megalómano Coronel (Woody Harrelson), este é o filme mais brutal, e temática e visualmente mais carregado da nova saga. E também o mais pretensioso, laborioso e prolixo, arrastando-se por quase duas horas e meia e esticando para lá do suportável, e apesar de toda a sofisticação técnica que o enforma, a sua ténue e curta premissa de guerra aberta entre macacos e humanos.

[Veja a entrevista com Matt Reeves]

https://youtu.be/ItwLjICq9so

Ao contrário do que ainda acontecia nos dois filmes anteriores, neste já não encontramos qualquer personagem humana positiva, com excepção da menina muda interpretada por Amiah Miller, que César e os seus companheiros salvam de morrer de fome e frio e “adoptam”, depois de terem morto o pai, um desertor do grupo do Coronel. Se nos filmes da primeira saga havia sempre humanos “bons” e “maus”, essa premissa foi sendo gradualmente posta de parte na segunda, e neste terceiro filme os pesos da balança estão completamente desnivelados. Nunca como agora o “slogan” fundador da sociedade dominada pelos símios fez tanto sentido: “Ape good, human bad”.

[Veja a entrevista com Andy Serkis]

No entanto, “Planeta dos Macacos: A Guerra” não se contenta em ser um filme de FC pós-apocalíptico. Também tem ressonâncias de “western” com má consciência (os macacos podem ser vistos como índios ameaçados de genocídio), de filme bíblico (o êxodo para uma mítica terra de leite e mel) e de filme de guerra e de “campo de concentração”. A personagem de Woody Harrelson surge como uma versão de trazer por casa do coronel Kurtz de Marlon Brando em “Apocalypse Now”, e os símios como “guerrilheiros” que resistem ao agressor, qual sucedâneo pós-Armagedão e inter-espécies da guerra do Vietname. A realização de Matt Reeves é demonstrativa, redundante e fastidiosamente solene, e a meio da fita não só já estamos a deitar macacos pelos olhos, como também indiferentes ao seu destino.

[Veja a rodagem em “motion capture”]

A conclusão “edénica” de “Planeta dos Macacos: A Guerra” parece indicar o fecho desta segunda saga dos símios inteligentes que se sobrepõem ao homem. Mas quer Matt Reeves, quer Andy Serkis, já disseram que a querem continuar, e haverá mesmo um quarto filme já na forja. Parece que ainda não é desta que Hollywood vai deixar que seja o fim da macacada.