“Oleg y las Raras Artes”

Quando tinha apenas sete anos, o pianista e compositor russo Oleg Karavaichuk ganhou o mais importante concurso de piano da URSS. Além de ter recebido o primeiro prémio, o pequeno prodígio foi presenteado por Estaline com um piano branco. Meses mais tarde, o pequeno Oleg foi tocar para o ditador comunista, a uma casa de artistas soviéticos. Fez-se um concurso onde tocavam com um lápis num copo de água, e as pessoas tinham que adivinhar que nota era. De bom-humor, Estaline participou e quando chegou à sua vez, identificou um dó sustenido. O pequeno Oleg levantou-se então e disse: “Camarada Estaline, tem razão, é um dó, acertou. Mas enganou-se quando enviou o meu pai para um campo de trabalhos forçados.” Três meses depois, o pai do menino era libertado.

Excêntrico, efeminado, de aspeto frágil e voz ridiculamente aflautada, Karavaichuk morreu no ano passado, de pneumonia aos 89 anos. Era considerado um dos maiores pianistas russos, e um ícone da sua cidade natal, São Petersburgo, onde lhe chamavam “o compositor louco”, e foi retratado pelo realizador venezuelano radicado em Espanha Andrés Duque no documentário “Oleg y las Malas Artes” ((abriu o último DocLisboa), cujo único defeito é ser muito curto. É que Karavaichuk, além de ser filmado a tocar veementemente piano no Hermitage com as suas mãos enormes e artríticas, e a expor as suas originais teorias sobre música e criação musical, apenas conta aqui um ínfima parte das histórias de uma vida pessoal e artística muito cheia e muito complicada, sob o regime comunista que desafiou aos sete anos, na pessoa do seu símbolo máximo de então. Se Duque tinha mais material do que o que compõe os escassos 70 minutos de “Oleg y las Raras Artes”, é um crime que não o tenha mostrado.

“3 Gerações”

Ramona (Elle Fanning) é uma adolescente de Nova Iorque que vive com a mãe heterossexual (Naomi Watts) e a avó (Susan Sarandon), uma “lésbica da velha escola”, como ela própria se define, e que tem uma parceira de longa data. Ramona não se sente rapariga. Quer mudar de sexo e ser um rapaz chamado Ray (Fanning está arrapazada com convincente sobriedade). Apesar de incomodada, a mãe quer ajudá-la na sua decisão, enquanto que a avó estranha e pergunta porque é que a neta “não pode ser só lésbica e pronto?”. Como Ramona/Ray é menor, é precisa também a autorização do pai (Tate Donovan), que já não faz parte da família há muitos anos, e voltou a casar-se e a ter filhos.

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Este filme de Gaby Dellal transborda de boas intenções e quer mostrar, sinceramente e sem sensacionalismos, o que sente e pelo que passa uma jovem na situação da protagonista. Só que além de perder o rumo a certa altura, dando tempo de antena a mais a um subenredo sobre a real paternidade de Ramona/Ray, e de não se decidir por um registo firmemente dramático, salpicando o enredo de momentos de alívio cómico, “3 Gerações” peca por ligeireza e por excesso de zelo demonstrativo. E tem um final conciliatório e feliz para todos os envolvidos, que é tão forçado como irrealista.

“Planeta dos Macacos: A Guerra”

Depois de “Planeta dos Macacos: A Origem”, de Rupert Wyatt (2011), sobre o advento da revolta dos macacos no nosso mundo, liderada por César (Andy Serkis), o chimpanzé que se tornou super-inteligente devido a uma droga experimental; e de “Planeta dos Macacos: A Revolta”, de Matt Reeves (2014), passado dez anos depois, onde um vírus letal está a exterminar os humanos e os macacos inteligentes estão em ascensão, surge agora “Planeta dos Macacos: A Guerra”, também de Matt Reeves. É o terceiro filme desta segunda saga de FC pós-apocalíptica que sucede à original, iniciada em 1968 com “O Homem que Veio do Futuro”, de Franklin J. Schaffner, e que teve um total de cinco títulos até 1973, a que se seguiu, em 2001, “O Planeta dos Macacos”, um “remake”, por Tim Burton, da fita de Schaffner.

Pondo em confronto decisivo, numa Terra devastada e invernosa, os macacos liderados por César (Andy Serkis em mais uma impressiva interpretação apoiada na tecnologia de “motion capture” digital) e um grupo de militares dissidentes liderados pelo megalómano Coronel (Woody Harrelson), este é o filme mais brutal, e temática e visualmente mais carregado desta nova série. “Planeta dos Macacos. A Guerra” foi escolhido como Filme da Semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.