O Vinho do Porto pode estar para o Douro como o Moscatel de Setúbal (e o Moscatel Roxo, apesar da produção mais limitada) para a Península de Setúbal. Esta é, talvez, uma das maneiras mais fáceis de dar a perceber a importância que o vinho licoroso, carregado de tons dourados, tem para a região vitivinícola em causa. Talvez o vinho fortificado que nasce nos socalcos durienses seja — oficialmente falando — um pouco mais velho, mas o Moscatel tem tempo de vida suficiente para contar muitas histórias. Em 2017 faz 110 anos que a sua demarcação, DO Setúbal, se iniciou, tendo sido concluída em 1908.

Uma consulta rápida à página Moscatel de Setúbal, projeto da comissão vitivinícola em causa, permite descobrir que a fama do vinho que é amadurecido “por um período mínimo de aproximadamente dois anos” despontou além-fronteiras já no século XIV, quando Ricardo II de Inglaterra se tornou num importador assíduo do Moscatel de Setúbal. “De características ímpares, os generosos de Setúbal são de eterna volúpia, de enorme sensibilidade e prazer”, lê-se na mesma página, que refere ainda que o vinho generoso chegou a ser referido como “o sol em garrafa”.

O vinho dourado que compõe o quarteto de generosos de referência em Portugal — incluindo ainda o Madeira e o vinho de Carcavelos — é uma das propostas deste verão, seja servido fresco num copo de vidro ou, então, misturado num cocktail cheio de pinta. Mas antes de começar a “googlar” por wine bars na internet, reunimos um conjunto de quintas/adegas que, além de produzirem o dito moscatel, têm propostas de enoturismo que incluem as habituais provas de vinho.

Quinta do Piloto

Rua Helena Cardoso, Palmela. Tel.: 212 333 030

Hoje em dia, é a quarta geração que pilota o negócio de família. Depois de tanto tempo a produzir vinho a granel, a direção do projeto foi afinada e faz poucos anos que vinhos com rótulos e marca própria saem para o mercado, caso recente dos preciosos Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo com o selo “Coleção da Família” — a produção está limitada a 25 garrafas por ano, sendo que ambos estão à venda nas lojas especializadas por 900 e 650 euros, respetivamente. A Quinta do Piloto, em Palmela, é decididamente uma das empresas no lugar da frente na corrida que é o enoturismo — não foi por acaso que recentemente recebeu um certificado de excelência do jTripAdvisor. Além das visitas diárias e das provas de vinhos acompanhadas de produtos regionais, a partir de 5 euros por pessoa, está preparada para realizar eventos privados. Destaque ainda para a loja de vinhos onde antes funcionavam as destilarias da quinta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em tempos, a Quinta do Piloto chegou a ter 500 hectares de vinhas, um número que com o tempo diminuiu para menos de metade. Não que falte matéria-prima à família Cardoso, que só no ano passado chegou a produzir 200 mil litros de moscatel na adega inserida na propriedade. Refira-se que a quinta tem duas adegas, uma mais antiga, paredes-meias com a loja, e outra mais moderna, para lá da vedação. Ambas têm capacidade para seis milhões de litros e destacam-se pelo uso de métodos de vinificação tradicionais. É por isso que quem gere o projeto diz que a adega de paredes grossas e janelas largas trabalha sem qualquer ajuda. Já o vinho, esse, não se bebe sozinho.

4 fotos

José Maria da Fonseca

Rua José Augusto Coelho, 11/13, Vila Nogueira de Azeitão. Tel.: 212 198 940

A casa que serviu de residência familiar dos Soares Franco até 1974 é hoje o ponto de partida para uma visita com o preço simbólico de três euros por pessoa. A Casa-Museu, como lhe chamam, está dotada de uma fachada e jardins de encher o olho, bem como de duas adegas cuja entrada está longe de estar vedada aos mais curiosos. É precisamente na Adega dos Teares Velhos onde estagiam, no interior de centenas de cascos empilhados, moscatéis de Setúbal com barbas brancas, alguns deles com mais 100 anos. A visita que dura entre 45 minutos e uma hora termina na loja com a prova de dois vinhos, um deles o Alambre Moscatel de Setúbal. Neste espaço é possível provar ainda alguns topos de gama da marca a copo, graças à máquina Enomatic — funciona a vácuo e, por isso, evita a oxidação do vinho, conservando-o durante mais tempo –, bem como adquirir toda a gama de vinhos da JMF, incluindo as oito referências do vinho que engoliu o sol.

4 fotos

Bacalhôa

Estrada Nacional 10, Vila Nogueira de Azeitão. Tel.: 212 198 067

A Bacalhôa tem muito que se lhe diga. A empresa que em 1998 passou a ter José Berardo como o principal acionista está presente em sete regiões vitivinícolas diferentes. Não é brincadeira: ao todo há 1.200 hectares de vinhas, 40 quintas, 40 castas e quatro centros vínicos, como quem diz adegas. Uma delas, talvez a mais representativa, mora em Vila Nogueira de Azeitão e pode ser visitada todos os dias, domingos incluídos. A visita à Adega/Museu da Bacalhôa contempla três exposições, mas também um circuito que engloba a sala de envelhecimento do moscatel, onde o vinho dourado estagia em 2.000 barricas. Segue-se a sala de estágio de tintos e brancos e, no final, uma prova de vinhos que corre sempre o risco de acabar depressa demais: a fazer companhia ao branco e ao tinto está um moscatel com dois anos de estágio, o mais novo deles todos. O ponto de encontro de todas as visitas — que duram cerca de uma hora e devem ser marcadas com a antecipação mínima de uma semana — é a loja, onde estão disponíveis para compra todas as categorias de moscatel produzidas na casa.

4 fotos

Casa Ermelinda Freitas

Rua Manuel João de Freitas, Fernando Pó. Tel.: 265 988 000

Em 2017 faz 20 anos que a Casa Ermelinda Freitas começou a produzir vinho próprio. A data, apesar de ainda curta na linha do tempo, ganha mais significado se pensarmos que a empresa foi fundada em 1920 para se dedicar à produção de vinho a granel. Foi Leonor Freitas, descendente da família e do negócio, quem pôs mãos à obra. O trabalho e consequente sucesso pode agora ser conhecido mediante marcação, num trajeto enoturístico (7,50 euros por pessoa) que inclui uma visita à vinha pedagógica, à Adega das Riscas, onde é explicado o processo de produção do vinho, à Sala do Ouro, onde constam os cerca de 800 prémios ganhos até hoje, e à sala de envelhecimento. No fim, e como de costume, há prova de cinco vinhos, entre os quais está o Moscatel Ermelinda Freitas, que é servido no copo ao mesmo tempo que produtos regionais enchem a mesa — falamos do tradicional queijo de Azeitão, mas também de chouriço, compotas e pão produzido localmente.

4 fotos

Adega Cooperativa de Pegões

Rua Pereira Caldas 1, Pegões Velhos. Tel.: 265 898 860

A fazer jus à designação “adega cooperativa” estão os seus 96 associados, mas também os 1117 hectares que, por ano, dão origem a mais de nove milhões de litros. Feitas as apresentação megalómanas, importa dizer que aqui o moscatel também é rei. As visitas guiadas fazem-se todos os dias, com ou sem a prova de cinco vinhos, Adega de Pegões Moscatel incluído. Por três euros por pessoa, os enófilos são levados a conhecer a adega, as caves, as vinhas e, ainda, a linha de engarrafamento, coisa para durar cerca de uma hora. À semelhança dos projetos anteriormente descritos, na loja está disponível toda a gama produzida entre as quatro paredes da cooperativa, à exceção dos rótulos feitos à medida das grandes superfícies.

A Adega Cooperativa de Pegões tem 96 associados e 1117 hectares de vinha. © Adega Cooperativa de Pegões