Quando era viva, a iraniana Maryam Mirzakhani fez história ao ser a primeira (e única) mulher a ganhar, em 2014, a medalha Fields, distinção considerada o “Nobel da Matemática”. No sábado, a “rainha da matemática”, como era conhecida, morreu aos 40 anos e, mesmo na morte, voltou a quebrar barreiras. Pela primeira vez, alguns jornais iranianos publicaram fotos na primeira página de uma mulher sem hijab. Mais: o próprio Presidente iraniano, Hassan Rouhani, partilhou na rede social Instagram uma fotografia de Maryam também sem o hijab (o tradicional véu islâmico).

Rouhani confessou que era “muito dolorosa” a morte desta matemática de “renome mundial”. O presidente iraniano destacou ainda a “excelência inigualável da cientista criativa e pessoa humilde que ecoou o nome do Irão em círculos científicos em todo o mundo” e que representou “um ponto de viragem para as mulheres e jovens iranianas que passaram a estar num caminho de conquistas em vários palcos internacionais.”

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‌ درگذشت اندوه‏بار مریم میرزاخانی، #نابغه نامدار #ریاضی ایران و جهان موجب تأثر فراوان شد. ‌ درخشش بی‌نظیر این #دانشمند خلاق و انسان متواضع که نام ایران را در مجامع علمی جهانی طنین‏‌انداز کرد، نقطه عطفی در معرفی همت والای #زنان و جوانان ایرانی در مسیر کسب قله‌های افتخار در عرصه‌های گوناگون بین‌المللی بود. ‌ این‏جانب ضمن ارج نهادن به خدمات علمی و آثار ماندگار این فرزند فرهیخته ایران، مصیبت وارده را به جامعه علمی کشور و خانواده محترم آن عزیز از دست رفته صمیمانه تسلیت می‏‌گویم. ‌ #مریم_میرزاخانی (۱۳۹۶-۱۳۵۶) #فرزند_ایران ‌

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Maryam era professora na Universidade de Stanford e morreu no sábado num hospital da Califórnia, vítima de cancro na mama. Em 2014, Mirzakhani venceu o prémio que é dirigido a matemáticos com menos de 40 anos e é atribuído de quatro em quatro anos. A iraniana venceu o prémio pelos seus “contributos notáveis para os sistemas dinâmicos, a geometria das superfícies de Riemann e os seus espaços modulares”.

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Mirzakhani especializou-se em matemática teórica e o seu trabalho teve implicações em campos que vão desde a criptografia até “à física teórica sobre a origem do universo”, disse a universidade de Stanford numa nota.

A iraniana nasceu em Teerão, tendo estudado na capital do seu país, e em Harvard. Era professora em Stanford desde 2008 e era um orgulho para o país. De tal forma que, na homenagem, os jornais quebraram a tradição e vários publicaram a sua foto sem hijab. A primeira página do jornal Hamshahri, que pertence ao Estado, publicou uma foto de Mirazakhani sem hijab e com a frase “o génio das Matemáticas cedeu à álgebra da morte”. O mesmo fez o jornal Donya-e-Eqtesad, com a frase “a eterna partida da rainha da matemática”.

Em 2014, quando venceu o prémio, Maryam teve a sua imagem modificada nos jornais iranianos. Vários utilizaram Photoshop: uns colocaram um véu islâmico nas montagens, outros arranjaram maneira de colocar fórmulas matemáticas de forma a que não se vislumbrasse a cara na totalidade.