Era o nome maior de todo o cartaz do festival Meo Marés Vivas 2017 e não desiludiu, nem surpreendeu. A frase pode dar a ideia de que o concerto de Sting não foi nada de especial, o que não é, de todo, verdade. Há dois anos, no Super Bock Super Rock, assistimos ao mesmo desfile de sucessos do ex-Police, misturados com algumas canções novas. Testemunhámos a mesma sintonia entre público e banda, vimos a forma como o músico inglês domina por completo milhares de pessoas. Este domingo à noite, voltou a fazer o mesmo 300 quilómetros a norte, na Praia do Cabedelo, em Gaia. Não houve surpresas, mas também não é preciso que haja. Cada pequena coisa que ele faz é mágica.

Sorridente e elegante, Sting chegou ao palco com uma canção dos Police na manga, “Synchronicity II”. De baixo nas mãos e acompanhado por mais cinco músicos, incluindo o filho Joe Sumner, que horas antes tinha tocado sozinho no mesmo palco, o “English man in New York” tinha disco novo para apresentar — 57th & 9th saiu em novembro de 2016 — e havia alguma curiosidade para ver de que forma misturaria as novas canções com os hinos que meio mundo sabe trautear.

Tratando-se de um festival, Sting sabe que o que a malta quer é cantar bem alto faixas antigas como “If I ever lose my faith in you”, de 1993, acompanhando os agudos do inglês de 65 anos, que continuam infalíveis. “Spirits in the material world”, outra dos Police, chegou com nova roupagem. “English man in New York” era apenas a quarta canção a ser tocada naquele recinto com o Douro como vizinho mas, a julgar pelo envolvimento do público, vozes e palmas em ação, mais parecia o final apoteótico de um grande concerto.

© Divulgação

Sting podia dar cursos a muitas bandas experientes sobre como proporcionar ao público uma noite inesquecível. É ele o centro das atenções, mas sabe dar protagonismo aos competentes músicos que o acompanham, nos momentos certos das canções. Sabe chamar 25 mil pessoas a fazerem parte do espetáculo. Fala português como se aqui vivesse: “Muito obrigado. Estou muito feliz de estar aqui com vocês”, disse, antes de apresentar a banda toda também em português. Mantém de tal forma o ritmo em alta que, mesmo quando se atira a músicas novas, como “Petrol Head” ou “50.000”, o público continua a bater palmas, como se de mais um hit se tratasse.

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Não seria difícil fazer um concerto só de hits, e este, na verdade, quase foi. Mas como deixar de fora a melodia mágica de “Every little thing she does is magic” ou a belíssima “Fields of Gold”, abrilhantada com harmonias de vozes e um acordeão a fazer tão bem a parte de solo de guitarra. A Praia do Cabedelo soube fazer barulho quando tinha de o fazer, mas também soube fazer silêncio para escutar.

“O teu pai está um pouco cansado”, disse a certa altura, bem disposto e em português, a Joe Sumner, deixando o filho sozinho em palco. Quem não tivesse visto a troca podia pensar que Sting se mantinha em palco, tal é a parecença das vozes dos dois. Preferíamos ter ficado com Sting a cantar esta canção, “Ashes to Ashes”, de David Bowie, mas percebe-se que o pai queira dar-lhe protagonismo.

“Roxanne” chegou em versão meio funk, com “Ain’t no Sunshine” pelo meio. No fim, os seis saíam do palco mas não enganaram ninguém. Haveriam de voltar para dois encores, claro. Ainda faltavam “Every Breath you Take” e “Fragile”. E faltava o maior aplauso, o da despedida. Haverá reencontro? Quem sabe. Será parecido com o que aconteceu em Vila Nova de Gaia este domingo? Provavelmente. Valerá a pena ir? A resposta está na hora e meia que acabámos de testemunhar.

“O festival tem de crescer e aqui não tem margem”

Na semana passada, o Observador avançou que esta iria ser a última edição do Marés Vivas na Praia do Cabedelo. No balanço final do festival, Jorge Silva, da PEV Entertainment, promotora do evento, não quis avançar ainda a nova morada. Mas assegurou que os festivaleiros podem marcar no calendário o fim de semana de 20 de julho de 2018. “Ainda não sabemos se será quinta-feira, sexta-feira e sábado ou sexta-feira, sábado e domingo”, disse aos jornalistas.

Este é o último Marés Vivas na Praia do Cabedelo. Novo recinto será muito maior

Assegurado está o patrocinador principal, a Meo, que assinou um contrato por mais três anos, e o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Ambos frisaram que o próximo ano precisará de “força suplementar”. “O festival tem de crescer e aqui não tem margem”, disse o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues.

A lotação por dia é de 25 mil pessoas e, como o recinto é estreito e há bancas de patrocinadores a toda a volta, por vezes é difícil circular. Neste último dia, o palco secundário só teve dois concertos, o que significa que quem queria ouvir música entre o final dos Átoa e o início de Joe Sumner no palco principal, só tinha como hipótese o barulho imenso de stands tão díspares como o da Rádio Comercial, Atum Bom Petisco, Ben&Jerry’s ou dos preservativos Control. De resto, apenas um palco esteve em funcionamento durante este período, o da comédia. O palco comédia está mesmo ao lado do palco secundário e os dois não podem funcionar ao mesmo tempo. Conclusão: nenhum palco funcionou ao mesmo tempo que outro, deixando poucas hipóteses aos festivaleiros.

A ideia da organização é afirmar o Marés Vivas como “um dos principais festivais da Europa”, disse Jorge Silva. Para isso, será preciso reforçar o cartaz. A nova localização deverá ser mais ampla e acolher até 40 mil pessoas por dia, tinha dito ao Observador Jorge Lopes, da PEV Entertainment. “Hoje e ontem andaríamos perto de duplicar caso tivéssemos espaço para isso. Por isso é pertinente o novo espaço. Queremos uma programação diferente”, realçou este domingo Jorge Silva.

Alinhamento do concerto de Sting no festival Marés Vivas 2017

Synchronicity II
If I ever lose my faith in you
Spirits in the material world
English man in New York
Every little thing she does is magic
She’s too good for Me
Petrol Head
Fields of Gold
Shape of my Heart
Message in a Bottle
Ashes to Ashes (David Bowie)
50.000
Walking on the Moon
So Lonely
Desert Rose
Roxanne / Ain’t no Sunshine

Next to You
Every Breath you Take

Fragile