Entre a primeira e a segunda bateria da quarta ronda, a transmissão do Open J-Bay nem deu tempo para uma pequena interrupção. Nada. De repente, surge com a repetição de uma onda. Quem é aquele? Ui, camisola vermelha com o número 25 não engana: é Frederico Morais. E vai, e vai, e vai… Que grande prestação logo a abrir os 35 minutos contra Mick Fanning e John John Florence. Chega ao resultado, a ideia fica confirmada: foi a segunda melhor onda que o português, que se estreia este ano no Circuito Mundial, fez em 2017: 9.60, apenas batida pelo 9.67 que conseguiu na terceira ronda do Pro Bells Beach, na Austrália.

Melhor início era impossível, mas na água estavam dois campeões mundiais. Começou por brilhar o atual detentor do título, John John Florence. Para não perder o andamento do heat, arrancou um 10. Seguiu-se Mick Fanning, ex-vencedor do Circuito em três ocasiões. “Ficou-se” pelo 9.73 (e se calhar até merecia um pouco mais). Mas pelo meio lá pareceu outra vez Kikas, com uma onda quase tão boa como a primeira mas a terminar com um tubo. Que verdadeiro espetáculo do português, que terminou de pé na prancha já a celebrar o que seria um 9.47.

O heat ainda não tinha acabado (faltariam cerca de dez minutos) e já havia uma certeza: esta era a melhor bateria de sempre de Frederico Morais no Circuito Mundial de 2017, com os 19.07 conseguidos na quarta ronda do Open J-Bay a superarem os 18.10 alcançados frente ao havaiano Sebastian Zietz na quinta ronda de Bells Beach.

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No final, confirmou-se a grande notícia: John John Florence não conseguiu somar melhor do que 7.17 para juntar à nota 10 que alcançara no arranque da bateria e ficou pelos 17.17, enquanto Mick Fanning terminou com 14.90 (9.73 e 5.17). Assim, os campeões mundiais foram relegados para a quinta ronda, ao passo que Kikas tem já lugar garantido nos quartos-de-final da prova sul-africana, juntando-se ao também já qualificado Gabriel Medina. “Mesmo com o John John a fazer um 10 conseguiste. Foi muito bom, fantástico”, atirou o treinador australiano Richard Marsh ao abraçar Kikas depois da prova.

Foi provavelmente a melhor bateria de sempre que fiz, logo contra o Mick e o John. É muito complicado conseguir ali os resultados mas arranquei dois 9… Foi um dos melhores dias da minha vida. Nos últimos heats sabia que não estava a surfar no máximo do que consigo mas neste isso não podia acontecer. Tinha de ser perfeito e fui, consegui fazer isso. Como vai ser agora nos quartos? Não sei, ainda não falei com o meu treinador, temos de ver primeiro as condições… Mas é verdade, a ajuda do Dog [n.d.r. Richard Marsh, o treinador] é enorme porque sabe muito sobre as melhores estratégias que devo utilizar”, comentou no final da bateria.

Em paralelo, e mesmo estando ainda em prova, este já é o melhor resultado de sempre de Frederico Morais no Circuito Mundial de surf, porque no mínimo irá igualar a quinta posição conseguida em Bells Beach, na Austrália. Mas reforçamos: ainda não acabou. E com esta qualidade, Kikas pode aspirar a muito mais.

A prova foi entretanto interrompida porque, de acordo com a organização, terá sido avistado um tubarão. Por uma questão de prudência, e depois do que se passou em 2015 com Mick Fanning, que sofreu um ataque em J-Bay (saiu sem ferimentos) na final da prova, a competição foi interrompida quando estavam na água Jordy Smith (que conseguiu duas notas 10 num heat, curiosamente no Dia de Nélson Mandela, que está a ser celebrado na África do Sul), Filipe Toledo e Julian Wilson. Ainda não se sabe quando voltará a ação.