O dia 8 de competição no Open J-Bay teve mesmo um pouco de tudo. E a influenciar, indiretamente, o início dos quartos-de-final que iriam reeditar o duelo entre Frederico Morais e John John Florence (que ganhou de manhã a Owen Wright, na quinta ronda). Primeiro foi a repetição de uma bateria devido a uma nota mal atribuída, depois a interrupção por causa da presença de um tubarão. À terceira foi de vez, Kikas foi para a água e conseguiu uma fantástica vitória sobre John John Florence, numa fantástica recuperação com as duas melhores ondas de sempre no Circuito Mundial nos últimos seis minutos do heat, incluindo a primeira nota 10 de sempre!

A primeira pausa do dia foi algo “anormal” no Circuito mas que pode sempre acontecer. Expliquemos: Conner Coffin queixou-se de uma nota atribuída no duelo contra Jordy Smith e a verdade é que os júris apenas conseguiram ver a manobra no seu todo após uma repetição que não tinha estado disponível na altura. Assim, e como está previsto nos regulamentos, o heat foi repetido. Para quem gosta de surf, ainda bem.

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Logo na primeira onda, o sul-africano deu espetáculo e acabou com um gesto a fazer lembrar a imagem no manguito do Zé Povinho. 9.37. O americano respondeu de imediato, com um 8.67. O mar estava quase perfeito e o melhor estava ainda para vir: para que não restassem dúvidas, e ainda na primeira metade do tempo, Jordy Smith sacou um 10 e dissipou a questão de quem seria o apurado para as meias-finais (19.37-17.74).

Gabriel Medina e Mick Fanning estiveram na primeira bateria dos quartos-de-final. Mais espetáculo, entre dois dos melhores do circuito na atualidade. Quando o brasileiro dominava por completo o australiano (17.40-11.00), que venceu quatro vezes em J-Bay, incluindo no ano passado, voltaram a ouvir-se as três buzinas indicativas de perigo. Razão? Mais uma vez apareceu um tubarão, bem maior (do tamanho de um jet ski) e mais perto da costa do que aquele que tinha interrompido esta terça-feira a prova no decorrer da quarta ronda.

A prova foi interrompida. E os responsáveis da prova abriram o leque de opções aos surfistas: podiam seguir o heat, podiam parar o tempo que quisessem, podia ficar adiado para amanhã. Pelo que se percebeu, foi Fanning, que já tinha sofrido um ataque também ali na final de 2015, a dizer que queria ir para a água. E a bateria chegou ao fim, com uma ligeira diferença apenas na pontuação final (17.40-11.33).

Seguia-se então a reedição do duelo entre Frederico Morais e John John Florence, que o português tinha ganho com “o melhor heat da vida” (pelo menos até ontem) na quarta ronda.

Tal como já tinha acontecido ontem, Kikas começou com uma boa nota de arranque, mesmo não chegando aos noves: 8.17. John John conseguiu sacar a seguir um 9.00, mas o português colocou a fasquia no acumulado em 16.40, depois de mais uma onda acima dos oito. O campeão puxou dos galões e, com um 9.57, colocou Frederico Morais a depender de uma combinação. A seis minutos do final, o surfista de Cascais conseguiu a sua melhor onda de sempre no Circuito (9.77) mas que, ainda assim, era insuficiente para superar o havaiano. Até que veio o momento mágico, a dois minutos do final: arrancou uma nota 10, a primeira de sempre no Circuito Mundial, ficou com um total de 19.77 e chegou pela primeira vez às meias-finais.

“Está mesmo divertido o mar hoje… Tivemos uma aventura com um tubarão logo no início mas foi fantástico, controlaram bem a situação. Têm sido grandes baterias, desta vez o John John colocou-me encostado às cordas até à última mas usei bem a prioridade. Adoro grandes desafios e este heat foi um grande desafio, com notas de nove para cima. Ele esteve por cima na maioria do tempo mas consegui recuperar bem. Foi muito difícil mas adorei. Como afetou a questão do tubarão? Sou sincero, odeio tubarões e não temos de lidar com isso em Portugal. O Dog [n.d.r. Richard Marsh, o treinador australiano] ainda agora me estava a dizer que achava que não ia sair do barco mas todos disseram que estava bem e fomos surfar, concentrei-me na prova. Num dia como este, contra o campeão e o melhor surfista da atualidade, é uma grande emoção…”, disse no final da prova, na flash interview da WSL.

Para encerrar os quartos-de-final, logo após a bateria do português, Filipe Toledo vai medir forças contra Jordy Smith e Matt Wilkinson terá pela frente Julian Wilson. Kikas vai agora defrontar Gabriel Medina nas meias.

Recorde-se que, em termos históricos, o melhor lugar alguma vez alcançado por um português numa etapa do Circuito Mundial é o terceiro posto: Tiago Saca Pires atingiu esse patamar três vezes (Indonésia, em 2008; França, em 2009; Austrália, em 2011), ao passo que Vasco Ribeiro chegou à meia-final de Peniche, em 2015. No mínimo, Frederico Morais já conseguiu igualar essa prestação em Jeffreys Bay.

Este resultado vai permitir que Frederico Morais consiga subir pelo menos ao 13.º lugar da classificação geral, ultrapassando Sebastian Zietz, Caio Ibelli e Kolohe Andino. Matt Wilkinson liderava ao início do dia a classificação geral (já com os pontos averbados na África do Sul) mas a verdade é que o primeiro lugar estará ainda em disputa com Jordy Smith, que está também nos quartos-de-final.

Numa altura em que estamos a meio do Circuito Mundial de surf (seis provas disputadas, cinco ainda por realizar), os resultados de Kikas no seu primeiro ano (é o segundo melhor rookie até ao momento, apenas superado pelo australiano Connor O’Leary) entre os maiores das modalidades foram os seguintes:

– Gold Coast (Austrália), 13.º lugar (vencedor: Owen Wright)
1.ª ronda: vitória no heat 10 com 15.70 contra Filipe Toledo (15.10) e Adrian Buchan (13.43)
3.ª ronda: derrota no heat 10 com 11.17 contra Kelly Slater (14.90)

– Margaret River (Austrália), 25.º lugar (vencedor: John John Florence)
1.ª ronda: derrota no heat 6 com 3.40 contra John John Florence (13.67) e Jacob Willcox (4.40)
2.ª ronda: derrota no heat 9 com 15.50 contra Adrian Buchan (16.50)

– Bells Beach (Austrália), 5.º lugar (vencedor: Jordy Smith)
1.ª ronda: derrota no heat 10 com 11.53 contra Adrian Buchan (14.74) e Joel Parkinson (12.70)
2.ª ronda: vitória no heat 9 com 17.94 contra Miguel Pupo (14.87)
3.ª ronda: vitória no heat 1 com 13.94 contra Gabriel Medina (13.57)
4.ª ronda: derrota no heat 1 com 15.50 contra Caio Ibelli (16.46) e Owen Wright (11.43)
5.ª ronda: vitória no heat 1 com 18.10 contra Sebastian Zietz (13.16)
Quartos-de-final: derrota com 14.50 contra Caio Ibelli (16.00)

– Rio Pro (Austrália), 13.º lugar (vencedor: Adriano de Souza)
1.ª ronda: derrota no heat 7 com 7.70 contra Filipe Toledo (16.26) e Ethan Ewing (10.84)
2.ª ronda: vitória no heat 11 com 14.40 contra Jack Freestone (13.53)
3.ª ronda: derrota no heat 11 com 16.13 contra Julian Wilson (16.23)

– Fiji Pro (Fiji), 13.º lugar (vencedor: Matt Wilkinson)
1.ª ronda: vitória no heat 7 com 10.44 contra Jadson André (9.33) e Joel Parkinson (8.60)
3.ª ronda: derrota no heat 2 com 10.20 contra Julian Wilson (15.04)

– Open J-Bay, a decorrer
1.ª ronda: derrota no heat 3 com 13.73 contra Adriano de Souza (13.83) e Jadson André (12.57)
2.ª ronda: vitória no heat 12 com 15.73 contra Ian Gouveia (14.00)
3.ª ronda: vitória no heat 4 com 13.07 contra Connor O’Leary (12.16)
4.ª ronda: vitória no heat 2 com 19.07 contra John John Florence (17.17) e Mick Fanning (14.90)
Quartos-de-final: vitória no heat 2 com 19.77 contra John John Florence (18.67)