“Lady Macbeth”

Na sua primeira longa-metragem, William Oldroyd transpõe para a Inglaterra rural do século XIX o romance “Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk”, do russo Nicolai Leskov (1865), que já deu origem a uma ópera de Shostakovich e, em 1962, a um filme de Andrej Wajda, “Siberian Lady Macbeth”. Em “Lady Macbeth”, Florence Pugh interpreta Katherine, uma jovem que se casa sem amor com um homem rico e mais velho que a trata com frieza e não a satisfaz sexualmente, e quando se ausenta em negócios, deixa-a ao cuidado do sogro, um velho mau, severo e brusco, que humilha a nora e maltrata os criados.

Katherine acaba por se envolver com um trabalhador da propriedade, e ao adultério seguem-se os assassínios, cada um mais cruel e monstruoso do que o anterior. “Lady Macbeth” vem coberto de encómios da crítica britânica, mas a verdade é que não é mais do que um telefilme austero e correcto, cuja soturnidade visual e economia dramática não se pode confundir com uma qualquer reivindicação de filiação cinematográfica “clássica”. E será que havia mesmo tantos negros na Inglaterra campestre naquela altura, ou este é um caso de “casting” politicamente correcto mas histórica e socialmente errado?

“Carros 3”

Depois de um “Carros 2” divertido mas que não conseguia ultrapassar o original nem numa recta, a Pixar volta à carga com um filme assinado em estreia pelo animador e director de arte Brian Fee. Em “Carros 3”, a hora da reforma parece ter chegado para Faísca McQueen (voz de Owen Wilson), relegado na nova temporada de corridas para os últimos lugares do pelotão, devido ao aparecimento de uma geração de carros “high tech”, mais aerodinâmicos e mais jovens. No entanto, o novo proprietário da sua equipa ainda acredita nele, e põe-o à procura da boa forma sob a orientação de Cruz Rodriguez (voz de Cristela Alonso) uma entusiástica treinadora pessoal que é também sua grande fã.

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A muito americana história da “redenção do campeão nas lonas” é familiar de muitos filmes passados no meio do desporto, mas “Carros 3” consegue passar na inspecção graças a uma imprevista reviravolta no argumento, ao talento único das gentes da Pixar para darem características humanas a objectos inanimados ou mecânicos (brinquedos, robôs, automóveis) e à superior qualidade da animação digital, patente em sequências como a do endiabrado “demolition derby”. Em complemento, passa mais uma boa curta-metragem da casa, “Lou”, passada no recreio de uma escola.

“Dunkirk”

O novo filme de Christopher Nolan (“O Cavaleiro das Trevas”, “Interstellar”) recorda a Operação Dínamo, no princípio da II Guerra Mundial, que consistiu na evacuação de cerca de 340 mil militares britânicos e franceses dos areais de Dunquerque entre finais de Maio e início de Junho, por navios da Marinha e barcos de pesca e de recreio (o chamado “Milagre de Dunquerque”), depois de Hitler ter dado ordem de paragem às tropas alemãs, por desejar ainda negociar a paz com a Grã-Bretanha. Já em 1958 outro realizador inglês, Leslie Norman, tinha feito uma superprodução sobre o mesmo tema, “A Epopeia de Dunquerque”.

Só que em vez de ser heróico, patriótico e “inspirador” como o de “A Epopeia de Dunquerque”, o tom de “Dunkirk” é soturno e anti-épico, a contextualização é mínima, a recriação dos acontecimentos é realista, descritiva e pouco edificante (“salve-se quem puder!” é o sentimento dominante entre os soldados, que não recuam em roubar a identidade uns dos outros ou virar as armas contra os seus camaradas), e os actos de heroísmo são circunstanciais ou espontâneos. Kenneth Branagh, Tom Hardy, Mark Rylance e o estreante Fionn Whitehead são alguns dos principais intérpretes. “Dunkirk” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e poder ler a crítica aqui.