No oeste africano, encaixado entre a Etiópia e o Sudão, a Eritreia é regida por uma das mais asfixiantes ditaduras do mundo. Seis milhões de pessoas vivem num dos países mais pobres do mundo: é daqui, aliás, que sai o maior número de refugiados do planeta. Ninguém pode circular entre cidades sem um visto, que é muito difícil de obter. As fronteiras com o Sudão, a Etiópia e Djibouti estão completamente encerradas: ninguém entra e ninguém sai. Nem os turistas podem utilizar os transportes públicos, que são exclusivos para os locais. E é proibido ter Internet em casa. Ainda assim, o fotógrafo Christian Lindgren fala de um país subvalorizado: “Acho que a Eritreia é um dos países mais fascinantes de África”, descreveu o artista à Unusual Traveler.

A história da Eritreia é feita de conflitos. Foi colónia da Itália a partir de 1890, mas os italianos foram expulsas pelas forças armadas britânicas em 1941. A Grã-Bretanha passou a governar o país a mando da ONU, mas dez anos mais tarde a Eritreia foi unida à Etiópia. A paz não durou muito tempo: a Eritreia sabia que tinha riqueza natural graças aos recursos minerais abundantes e sentia-se desrespeitada pelos etíopes, que tentaram impor a sua própria cultura. A 1 de setembro de 1961 começava a Guerra de Independência da Eritreia: o país havia de conquistar a independência trinta anos depois, após um referendo à população coordenada pela ONU. Em 1998, no entanto, um novo conflito começava porque tanto a Etiópia como a Eritreia queriam pequenas mudanças na fronteira. A guerra acabaria dois anos mais tarde.

A Eritreia é governada pela Frente Popular por Democracia e Justiça desde 1993. Nenhum outro partido político está autorizado a organizar-se para fazer oposição. Atualmente governado por Isaias Afewerki, o primeiro e único Presidente do país desde a independência, a Eritreia não tem língua oficial para “garantir as condições de igualdade entre todas as línguas locais”, lê-se na lei do país. Mas Christian Lindgren diz que toda a gente sabe falar inglês: até os menus nos restaurantes têm tradução para turistas.

Mas ser turista na Eritreia não é tarefa fácil, principalmente se não houver embaixada do país de origem em Asmara, a capital. O visto só pode ser pedido com confirmação de que tem um quarto de hotel alugado e uma viagem comprada, mas a autorização só é dada pelo próprio Governo e isso pode demorar meses. A viagem para a Eritreia só pode ser feita de avião através de três companhias aéreas — FlyDubai, Turkish Airlines e Egypt Air — porque a Qatar Airways suspendeu os voos em dezembro do ano passado. À chegada, tem ainda de pagar 60 dólares para entrar no país.

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Vá com dinheiro no bolso: na Eritreia não há multibancos para cartões estrangeiros, prefira trazer o dinheiro em dólares — embora a maior parte dos estabelecimentos também aceite o euro — e guarde todos os recibos sob pena de ter de entregar todo o dinheiro de bolso se não tiver prova de que fez compras enquanto passeava. Se precisar de mais dinheiro, alguns hotéis dão-lhe dinheiro se apresentar o seu cartão de crédito. Os câmbios legais podem ser muito caros — um dólar corresponde a 15 nakfas –, mas no mercado legal 1 dólar pode equivaler a até 40 nakfas. Uma cerveja nacional custa 20 nakfas e um refrigerante não passa dos 12 nakfas. Não há um único hostel na Eritreia, é proibido ficar na casa de locais e um quarto no hotel mais popular do país custa 750 nakfas.

Christian Lindgren já esteve em cem países. Embora confirme que a Eritreia é “a Coreia do Norte africana”, diz que é o país mais seguro que já visitou em África: “Na verdade, até consigo por a Eritreia na lista dos cinco países mais seguros do mundo entre os que já visitei”. E diz que nada bate os grandes areais banhadas pelo mar Vermelho onde teve oportunidade de mergulhar: “É um dos países mais subestimados do mundo”, afirma.

Na fotogaleria pode encontrar algumas das fotografias captadas pelo fotógrafo na Eritreia.