Oficiais eleitorais, sob olhar constante de fiscais partidários e observadores, iniciaram o demorado processo de contagem de votos das eleições legislativas de hoje em Timor-Leste, que deverá tardar vários dias a estar concluído.

Dificuldades tecnológicas, acessos complicados em algumas zonas do país e o próprio sistema – que obriga a vários níveis de verificação de votos antes da certificação nacional e finalmente pelo Tribunal de Recurso – implicam que vai demorar até que haja resultados.

Numa das salas de aulas da Escola 30 de Agosto, próximo da rotunda Nicolau Lobato, de acesso ao aeroporto de Díli, por exemplo, a contagem propriamente dita só começou 80 minutos depois do fecho das urnas.

E para isso foi preciso mudar mobília, colar folhas brancas no quadro e espalhar papeis com o nome de 21 partidos mais nulos, brancos e rejeitados em mesas de escola onde são visíveis marcadas deixadas pelos alunos.

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“Azinha love Cristiana”, lê-se numa das doze mesas encostadas umas às outras e ‘unidas’ com fita cola castanha e sobre as quais estão as seis urnas deste centro de votação, o número 384.

A responsável da primeira das três secções de voto da escola abriu as duas urnas que lhe correspondem, despejou todos os boletins para cima da mesa e depois, um por um foram abertos, face para baixo, e amontoados numa das esquinas das mesas. Só quanto todos estiverem desdobrados – com 21 partidos candidatos os boletins são quase do tamanho de uma folha A3 – é que vão começar a ser contados.

O horário de fecho tinha sido cumprido mais ou menos à risca – o relógio azul do Secretariado Técnico de Assistência Eleitoral (STAE), onde se lê “Eleição Parlamentar 2017” e que está pendurado por cima dos dois quadros da sala de aula, está dois minutos atrasados.

Exatamente quando esse relógio marcava 15:00 fechou-se a porta de madeira da sala e um dos 10 oficiais eleitorais inicia todo o processo formal antes sequer da contagem começar.

O número de série do selo plástico das urnas é verificado, são comprovados os números das urnas e depois confirma-se que fiscais de que partidos estão presentes. Enquanto isso outros oficiais inutilizam com um carimbo onde se lê “La Uza” (‘não usado’ em tétum) cada um dos boletins que não foram necessários. Neste caso 10 livros de 50 boletins cada.

Um dos oficiais eleitorais explicou que votaram nesta sala exatamente 500 eleitores, cujos votos foram distribuídos em duas urnas. Das restantes mesas na escola vieram mais 4 urnas. Tal como noutros locais de votação visitados hoje pela reportagem da Lusa, a 30 de Agosto nunca chegou a ter longas filas de eleitores à espera.

Nas presidenciais, por exemplo, nesta escola foi necessário policia para fechar o portão quando ainda estavam dezenas de pessoas nas filas à espera de votar. O número exato de votantes vai-se saber eventualmente, quando terminar a contagem aqui.

Antes de que possa começar foi necessário colocar sobre o quadro de lousa de papeis brancos colados com fita cola castanha onde se registarão os votos que cada partido vai obter aqui.

Sete folhas A2 onde foram colados os números e nomes dos 21 partidos concorrentes e depois são desenhadas linhas para começar a marcar, risco a risco, como se distribuirão os votos nestas urnas. No canto inferior direito marcam-se os votos nulos, brancos e rejeitados.

Mais fita cola castanha para unir as doze mesas escolares onde descansam as urnas e depois, finalmente, pode começar a contagem.

Quando a contagem estiver terminada aqui – e são várias – as urnas seguem para a sede municipal. Só quando houver vários distritos completos – até esse momento a responsabilidade é do Secretariado Técnico de Assistência Eleitoral (STAE) – é que a verificação final passa para a Comissão Nacional de Eleições (CNE).

A certificação final caberá ao Tribunal de Recurso que determinará quem serão os 65 deputados do próximo Parlamento Nacional timorenses. Na escola 30 de Agosto, o primeiro voto contado foi para a Fretilin, os dois seguintes para o CNRT e o quarto para os nulos.

Texto e vídeo por António Sampaio, fotos por Nuno Veiga, jornalistas da Agência Lusa.