Familiares das vítimas de Pedrógão Grande criticaram este domingo a falta de informação e de acompanhamento psicológico, numa reunião para debater os estatutos da futura associação de vítimas, na qual ponderaram avançar com um processo coletivo contra o Estado.

O encontro aconteceu em Figueiró dos Vinhos e juntou familiares das vítimas do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, a 17 de junho, para definir os estatutos da futura Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande.

Na reunião, os presentes criticaram a ausência de informação útil, a burocracia, a não divulgação da lista oficial de vítimas mortais e a falta de apoio psicológico, disse à agência Lusa uma das promotoras do movimento, Nádia Piazza, que perdeu o filho na tragédia.

Em cima da mesa, acrescentou, esteve também a possibilidade de se criar um memorial às vítimas e de se avançar com um processo coletivo contra o Estado, mas Nádia Piazza sublinhou que essa decisão ainda terá de ser pensada.

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“Vamos ver como é que agora as investigações vão decorrer. Mas isso [será] com calma, que é preciso deixar quem está no terreno trabalhar”, disse.

Na reunião de hoje, foram relatados vários casos “de falta de apoio psicológico, sobretudo para crianças, mas também para adultos”, contou, sublinhando o caso de um casal que perdeu o filho no incêndio e foi obrigado a pagar taxas moderadoras para receber apoio psicológico.

“Na prática, em termos de saúde, as pessoas estão sozinhas. Elas é que têm de ir atrás de apoio psicológico”, notou Nádia Piazza, que até agora “nunca foi contactada para o que quer que fosse”.

“É surreal”, protestou aquela que é uma das promotoras da futura associação, sublinhando que não é por dificuldade de contacto que a situação surge, já que os familiares mais diretos das vítimas deixaram os seus dados junto das autoridades.

Nádia Piazza alertou ainda para o facto de os familiares não terem acesso à lista oficial das vítimas do incêndio, para além de haver falta de “informação concisa e útil” para as pessoas.

“As questões burocráticas pequenas estão a moer as pessoas”, frisou, referindo que informação sobre a possibilidade de apoios ou o que fazer em relação aos carros ardidos — “que as pessoas “não sabem onde estão” – não está a ser facultada.

Na reunião, que contou com a participação de cerca “de 30 a 40 pessoas”, ficaram definidos os estatutos, sendo que a Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande deverá ficar formalmente constituída a 13 de agosto, numa assembleia geral que se vai realizar em Vila Facaia, no concelho de Pedrógão Grande, informou.

O incêndio que deflagrou a 17 de junho em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos e só foi dado como extinto uma semana depois.

Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236.1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.