O embaixador da Rússia nos EUA, Sergey Kislyak, terminou o seu destacamento em Washington D.C. e já voltou para Moscovo. A notícia foi avançada pela embaixada da Rússia nos EUA, que fez o anúncio na sua conta oficial de Twitter. Kislyak chegou a Washington D.C. em 2008 e recentemente tornou-se numa peça fundamental das suspeitas de ligações entre a equipa de campanha de Donald Trump e o Kremlin.

O sucessor de Kislyak será Anatoly Antonov, que no final de 2016 assumiu o cargo de vice-ministro dos Negócios Estrangeiros. Antes disso, tinha sido vice-ministro da Defesa, cargo que desempenhou entre 2011 e 2016. Antonov, que é defensor de uma “linha dura” na relação com os EUA, ainda não chegou a Washington D.C. e a liderança da embaixada russa nos EUA será, até novos desenvolvimentos, assumida por Denis V. Gonchar, que até agora foi o número dois de Kislyak.

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Kislyak sai de Washington D.C. numa altura em que as suspeitas de ligações entre a campanha de Trump e a Rússia se avolumam. Ele próprio, enquanto embaixador da Rússia, é um dos nomes que constam em alguns dos episódios que merecem a atenção das duas entidades que estão a investigar as suspeitas de interferência russa a favor de Trump: o FBI e uma comissão de inquérito do Senado.

Flynn, o homem com quem Kislyak pode ter discutido sanções antes de tempo

Um desses episódios levou à primeira demissão entre o executivo de Trump. Michael Flynn, a escolha do Presidente para conselheiro para a segurança nacional, demitiu-se do cargo apenas 24 dias depois de ter tomado posse, depois de ter sido conhecida uma chamada telefónica com Kislyak. A conversa decorreu a 29 de dezembro de 2016, quando o então ainda Presidente Barack Obama expulsou 35 diplomatas russos dos EUA, e numa altura em que Flynn ainda não tinha assumido funções. Depois de se saber que aquele telefonema tinha acontecido, foram levantadas suspeitas sobre o conteúdo, com particular destaque para a possibilidade de terem sido discutidas as sanções anunciadas por Obama naquele mesmo dia. Numa fase inicial, Flynn negou ter falado de sanções com Kislyak — ato que pode constituir um crime. De igual forma, após ter falado com Flynn, o vice-Presidente, Mike Pence, confirmou a versão do conselheiro para a defesa nacional.

No entanto, o Washington Post revelou, citando nove agentes dos serviços de informação sob anonimato, que as sanções tinham sido um dos temas em discussão entre Flynn e o embaixador russo. Dias depois, Flynn deixou de negar que tinha falado de sanções com Kislyak e passou a dizer que não se lembrava de o ter feito, e acabou por demitir-se. O caso de Flynn continua sob investigação.

Sessions, o procurador que dizia que não falou com os russos — mas que recebeu Kislyak no seu escritório

Outro caso foi o de Jeff Sessions, o procurador-geral dos EUA nomeado por Trump, que apoia desde os primeiros dias de campanha eleitoral, inicialmente nas primárias do Partido Republicano e mais tarde nas presidenciais. Em março de 2017, nas sessões de audiência que precederam a sua aprovação pelo Senado para o cargo que atualmente desempenha, Sessions disse que não houve encontros entre responsáveis russos e membros da equipa de campanha de Trump. “Eu não tive comunicações com os russos”, disse, sob juramento. Porém, mais tarde foi noticiado que Sessions se tinha encontrado com Kislyak em duas ocasiões. Primeiro, em julho de 2016, na Convenção do Partido Republicano. Depois, em setembro do mesmo ano, no escritório de Sessions, quando ainda era senador pelo Alabama.

Quando foi interrogado pela comissão de inquérito do Senado em junho, Sessions disse que as conversas que teve com Kislyak nunca foram para “discutir assuntos da campanha” e que foram sobre a “Ucrânia e o terrorismo”. Além disso, negou a existência um alegado terceiro encontro, no hotel Mayflower, em Washington D.C., num evento privado em abril de 2016.

Depois daqueles dois que Sessions reconhece terem sido tornados públicos, Sessions pediu escusa da investigação que decorre em torno da alegada interferência russa nas eleições presidenciais de 2016. A decisão foi anunciada em março — mas ainda recentemente Trump criticou-o por este gesto. “Sessions não devia ter pedido escusa, e se ele queria pedir escusa, ele devia ter-me dito isso antes de aceitar o cargo e eu teria escolhido outra pessoa”, disse o Presidente dos EUA, numa entrevista ao The New York Times a 19 de julho.