Há quem tenha dito que esta parte da costa alentejana faz lembrar o Douro, de dedo apontado para as colinas e com as pernas a acusarem a subida. “Tivemos sorte, não há muitos sítios no Alentejo assim tão altos, com esta vista”, diz Glenn, olhos azuis, t-shirt e calções curtos — a anos-luz dos fatos que usava quando trabalhava em publicidade. A mulher, Berny Serrão, traz mais uma coordenada geográfica à conversa. Moçambicana e apaixonada por design de interiores, fez “uma pequena África” naquilo a que resolveu chamar de Paraíso Escondido. “Até temos um cão-leão”, brinca, referindo-se a Zulu, o portentoso leão da Rodésia que aparece assim que ouve um assobio.

A placa que está na casa-mãe refere-se a ele, mais uma vez em tom de brincadeira. “Todos os hóspedes têm de ser aprovados pelo cão”, lê-se, e esse é apenas um sinal do ambiente familiar e descontraído que se respira em toda a propriedade. Mistura de turismo rural com guest house, este verão o Paraíso Escondido tem também dois bungalows erguidos com estacas no meio das árvores. Duas casas de madeira com ar colonial — não falta a cama de dossel e uma ventoinha metálica no tecto — e um par de cadeirões brancos no alpendre para apreciar a tranquilidade, ouvir o vento nas árvores e ver as estrelas do famoso céu alentejano.

Os dois bungalows ficam na estrada que leva à casa-mãe, ambos com direito a alpendres e vista. © João Mariano / Divulgação

A ampliação terminou no final de maio e trouxe outras novidades. Dos cinco quartos iniciais inaugurados em 2014 o Paraíso Escondido passou a dez, o que inclui não só as casas nas árvores mas também novas suites. Duas são viradas para o lago e estão pensadas para estadias mais longas, as outras duas refletem o percurso dos proprietários antes de resolverem largar tudo e mudar-se para o Alentejo, em 2008. Uma chama-se Jasmim e tem ecos de quando viveram em Singapura, o que inclui as almofadas orientais e a enorme banheira junto à cama. A outra foi batizada de Marula, numa referência a um “fruto que os elefantes gostam de comer” e é, como o nome indica, a suite africana. “No fundo é uma casinha independente”, diz Berny enquanto passeia pelo quarto luminoso, decorado com almofadas étnicas, um enorme cesto na parede e a fotografia de uma zebra na savana.

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A par do número de camas, a casa que recebe os hóspedes também cresceu e tem agora uma sala de refeições com capacidade para 20 pessoas e um bar chamado Maguduza — mais uma referência africana, neste caso ao nome pelo qual o pai de Berny era conhecido em Moçambique. É atrás do balcão que Glenn prepara o aperitivo da casa — uma espécie de Porto Tónico aromatizado com zimbro — e é nas mesas de madeira, decoradas com rebentos frescos de eucalipto, que se servem os pequenos-almoços com vários produtos da região, dos ovos mexidos biológicos às compotas da Alma da Nossa Gente, uma marca de Odemira, a apenas 20 quilómetros.

A sala principal e o bar ao fundo. Na parede, por cima da lareira, está um dos quadros pintados por Berny Serrão, a proprietária. © Divulgação

O conceito “farm to table” (da quinta para a mesa) mantém-se aos jantares, servidos mediante reserva prévia e e onde é possível provar o excelente peixe fresco do mercado de Aljezur, seja na caldeirada com batatas no forno ou nos filetes de dourada com puré de couve-flor, para dar dois exemplos da carta, feita com consultoria do chef Pedro Mendes. Para além dos jantares, as massagens do pequeno spa também funcionam com reserva prévia e incluem tratamentos ayurvédicos e de assinatura indiana.

“Tentamos que tudo seja o mais sustentável possível e respeitar a natureza”, diz Berny, que escolheu lareiras ecológicas para as novas suites e desenvolveu um sistema de aproveitamento da água usada para regar a pequena horta da propriedade, junto à piscina. Uma das razões para querer vir para o Alentejo e assinar a escritura dos oito hectares foi mesmo essa: estar em contacto com a natureza, criar um projeto seu de raiz e, já agora, fugir do clima cinzento de Londres, onde o casal também viveu durante sete anos. “O Alentejo faz-me lembrar as paisagens de África e também tem praias perto, como Moçambique”, diz a proprietária. A mais próxima do Paraíso Escondido é a da Zambujeira do Mar, mas Berny tem uma lista de favoritas que partilha com os hóspedes que querem explorar a região — “a” lista, como lhe chama, e onde estão também indicados os melhores restaurantes da costa alentejana.

Ao lado da piscina fica a pequena horta da propriedade e em baixo o lago onde se faz um aproveitamento da água da rega e da chuva. © Divulgação

Quanto ao nome, foi a primeira sensação que Berny teve quando visitou a propriedade, na altura feita apenas de eucaliptos e com o lago ao centro. “Parecia mesmo um Paraíso Escondido”, diz, quase num sussurro. Mal sabia que ao lado ficavam duas localidades chamadas Barranco do Inferno e Purgatório, apenas que tinha encontrado o seu oásis.

Nome: Paraíso Escondido
Morada: São Teotónio, Casa Nova Da Cruz, 7630-568.
Contactos: 91 247 0206, info@paraisoescondido.pt
Preços: 135€ a 250€ (época baixa) e 185€ a 300€ (época alta)

O Observador ficou alojado a convite do Paraíso Escondido.