Apenas três meses depois de ser afastado do Moreirense e de rumar ao Egito, para treinar o Zamalek Sports Club, o português Augusto Inácio perdeu a paciência e partiu a loiça em plena conferência de imprensa. Alvo único: o presidente do próprio clube, Mortada Mansour, o excêntrico advogado e político egípcio de 65 anos que está desde 2014 à frente do clube do Cairo.

Ao longo de seis longos minutos, o treinador português, que levou o Zamalek da quarta para a terceira posição da tabela classificativa (está a 18 pontos do líder Al Ahly), arengou contra Mansour, a propósito da saída (ou permanência) do ex-Sporting Clube de Portugal Shikabala do plantel; de uma alegada agressão ao português Pedro Moreira, analista tático da equipa; e de uma pretensa imposição de um treinador-adjunto. Palavra mais gritada: “Mentira!”.

“O presidente pode-me atacar com tudo o que quiser, mas não pode dizer mentiras. Isso eu não aceito. Ele está farto de dizer que eu quero mandar o Shikabala embora. Reparem só na lógica disto: antes de eu chegar o S só tinha feito um jogo, eu cheguei ele começou a jogar. Faz algum sentido ele dizer que eu quero mandar o Shikabala embora?! Ok, então eu vou dizer mais claro: o presidente Mortada Mansour quer mandar o Shikabala embora! Não tem coragem de o dizer por causa dos fãs e então está-me a por a responsabilidade na minha boca. Mentira! Eu quero o Shikabala no Zamalek!“, começou por dizer o técnico português, de 62 anos.

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Depois de parar para respirar, prosseguiu: “Outra coisa, ele diz que eu dei um murro e um pontapé no português Pedro. Mentira! Não gostei do comportamento do Pedro, mandei-o embora, dentro do autocarro. Todo o autocarro é minha testemunha que eu nunca toquei no Pedro. Eu para resolver as minhas coisas não preciso de andar ao murro e ao pontapé. Homem que é homem fala as coisas olhos nos olhos e resolve as coisas olhos nos olhos!”

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No final, pegando numa lata de Pepsi, um dos patrocinadores do Zamalek, Augusto Inácio acusou o presidente Mortada Mansour de não admitir opiniões contrárias à sua. E todos os funcionários do clube de não serem capazes de o afrontar: “Se Mortada Mansour disser que isto é uma Coca-Cola toda a gente diz que sim! Todos têm medo de perder o emprego, eu não tenho medo de perder emprego nenhum! Isto para mim não é Coca-Cola é Pepsi-Cola! Este é o grande problema!”

Apesar de já estar a ser comparada à célebre conferência de imprensa de Toni, quando era treinador do iraniano Traktor, a de Inácio, que também contou com a ajuda de um intérprete, é bem diferente. Sobretudo porque não tem um único palavrão para a amostra. Nem em português nem em árabe.

Ao site FilGoal, Mortada Mansour, de 65 anos, já reagiu — com ameaças: “Os comentários dele ficam no caixote do lixo até final do jogo. Será o treinador nessa partida, mas quer destruir a equipa antes de um jogo decisivo numa prova importante. Perdeu a cabeça… Quem se mete com o Mortada Mansour arranja problemas…”.

No início de julho já tinha sido dada como certa a saída de Inácio do Zamalek.