A Coleção Miró, com 85 peças do artista catalão provenientes do antigo Banco Português de Negócios, será exposta no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, a partir de 08 de setembro, revelou fonte oficial à agência Lusa.

A exposição, que inaugura a 7 de setembro, abrindo ao público no dia seguinte, é organizada conjuntamente pelo Ministério da Cultura, através da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), e pela Fundação de Serralves.

Intitulada “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose”, a mostra foi apresentada pela primeira vez na Casa de Serralves, no Porto, entre outubro de 2016 e junho deste ano, onde recebeu um total de 240.048 visitantes, indicaram à Lusa fontes da DGPC e da Fundação de Serralves.

Comissariada pelo especialista mundial na obra de Miró Robert Lubar Messeri, a sua apresentação original na Casa de Serralves teve projeto expositivo do arquiteto Álvaro Siza Vieira.

A mostra abarca um período de seis décadas da carreira de Joan Miró (1893-1983), de 1924 a 1981, debruçando-se de forma particular sobre a transformação das linguagens pictóricas que o artista catalão começou a desenvolver nos anos 20 do século passado.

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Mirando os Mirós antes de toda a gente

“São abordadas as suas metamorfoses artísticas nos campos do desenho, pintura, colagem e trabalhos em tapeçaria, observando-se em detalhe o pensamento visual de Miró, o modo como trabalha com sensações que variam entre o tátil e o ótico, bem como os processos de elaboração das obras”, refere a organização.

A Galeria D. Luís I, no Palácio Nacional da Ajuda, receberá as mesmas peças que estiveram expostas no Porto, entre as quais seis pinturas da conhecida série sobre masonite de 1936, seis tapeçarias de 1972 e 1973, e uma das telas queimadas, de uma série de cinco, criada para a grande retrospetiva de Miró no Grand Palais de Paris, em 1974.

Foi também no final de setembro do ano passado que a Câmara Municipal do Porto anunciou que aquela coleção de arte iria permanecer na Casa de Serralves, depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter revelado que o seu destino permanente seria cidade do Porto.

No final de janeiro deste ano, a presidente do Conselho de Administração da fundação, Ana Pinho, disse que até àquela data tinham visitado a mostra 95 mil pessoas, um nível de adesão que justificou o prolongamento da exposição até junho.

Para acolher as peças de Miró de forma permanente, a Casa de Serralves vai sofrer obras de adaptação, ainda sem data prevista, num projeto desenhado pelo arquiteto Siza Vieira, que, em setembro, realçou não prever “grandes transformações”, uma vez que o edifício foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1996, e integra o conjunto da fundação considerado como Monumento Nacional.

A coleção de Joan Miró, que ficou na posse do Estado Português após a nacionalização do BPN, em 2008, reúne 85 obras, datadas entre 1924 e 1981, nas quais se encontram desenhos e outras obras sobre papel, pinturas com suportes distintos, além de seis tapeçarias de 1973, uma escultura, colagens, uma obra da série “Telas queimadas”, e várias pinturas murais.

Em março deste ano, o Governo anunciou que tinha chegado a acordo com a leiloeira Christie’s para revogar o contrato de venda em leilão da coleção Joan Miró, cujo valor a obter deveria servir para a abater parte dos créditos do banco.

“A Christie’s está satisfeita por o assunto ter sido resolvido e encerrado”, disse na altura, uma porta-voz à agência Lusa, escusando-se a fazer outros comentários sobre aquela decisão.

O leilão das obras chegou a ter data marcada por duas vezes e as obras foram expostas em Londres, mas a leiloeira Christie’s cancelou-os, devido a uma providência cautelar interposta nos tribunais portugueses pelo Ministério Público (MP) para suspensão das deliberações e atos referentes à alienação das obras de Miró.

Na altura, a Christie’s previa encaixar acima dos 30 milhões de libras com a venda da coleção num leilão internacional, o que, ao câmbio atual, ascenderia aos 42 milhões de euros.

A revogação deste contrato estava a ser negociada desde que o atual Governo decidiu manter o conjunto em Portugal, anunciada no final de 2015, pelo então ministro da Cultura, João Soares, em Serralves, no Porto, onde a coleção vai passar a ficar em permanência.

A chamada Coleção Miró tem estado na posse das sociedades de capitais públicos Parvalorem e Parups, criadas em 2010 pelo Estado para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-BPN.