Existem várias formas de olhar para Óliver Torres. A estrela que há bem pouco tempo era tido como uma das maiores promessas do futebol espanhol? A contratação mais cara de sempre do FC Porto? O criativo que mexe todos os cordelinhos no início da construção do ataque? O médio que teve uma temporada muito abaixo do esperado em 2016/17? Ele é tudo isto mas muito mais: o miúdo de 22 anos que, há uma década, recusou mudar-se para o Barcelona por ficar muito longe de casa; o estudante que ainda sonha terminar o curso de Jornalismo; o internacional que sonha chegar à seleção principal do seu país. E fala bem.

Em vésperas de apresentação da equipa aos sócios, o espanhol natural de Cáceres deu uma entrevista ao jornal O Jogo com uma frase curiosa puxada para a capa: “Trabalho para que se esqueçam dos 20 milhões [n.d.r. o valor que custou ao FC Porto quando saiu do Atl. Madrid] e me vejam como um jogador que honra a camisola”. Lá dentro, o médio falou de uma forma mais aberta do que estamos habituados do que pretende Sérgio Conceição de si e da equipa. “Muita intensidade na hora de defender e, quando atacamos, quer que dê soluções, que esteja ativo e que tenha muita mobilidade. Que dê soluções aos companheiros e tenha movimentos claros. Dessa forma, as coisas saem melhor e a equipa tem mais dinâmica e recursos (…) Tem insistido que comuniquemos muito entre nós e acho que isso vai ser decisivo esta época”, explicou.

Ficha de jogo

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FC Porto-Deportivo, 4-0

Jogo de apresentação aos sócios

Estádio do Dragão, no Porto

FC Porto: Casillas (José Sá, 59′); Ricardo Pereira (Hernâni, 63′), Felipe (Reyes, 59′), Marcano, Alex Telles (Layún, 59′); Danilo (Sérgio Oliveira, 71′), Óliver (Herrera, 59′); Corona (Maxi Pereira, 59′), Brahimi (Otávio, 59′), Soares (João Carlos Teixeira, 71′ e Rafa Soares, 90′) e Aboubakar (Marega, 63′)

Treinador: Sérgio Conceição

Deportivo: Rubén; Juanfran (Javier Fernández, 78′), Albentosa (Patrick Schar, 28′), Sidnei (Arribas, 78′), Luisinho (Navarro, 63′); Mosquera (Expósito, 63′), Guilherme (Rober, 85′); Bruno Gama (Cartabia, 63′), Fede Valverde (Çolak, 63′), Bakkali (Borja Valle, 78′) e Andone (Valentín, 67′)

Treinador: Pepe Mel

Golos: Aboubakar (14′ e 43′), Corona (55′) e Marega (88′)

Ação disciplinar: nada a registar

O objetivo é sempre o mesmo: ganhar. Como? “Para isso temos de ser verticais na procura da baliza contrária”, refere. E é neste ponto que agarramos para começar a falar do jogo de apresentação do FC Porto aos sócios, que terminou com mais um triunfo convincente dos dragões frente ao Deportivo por 4-0.

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As várias atividades do clube ao longo do dia, que incluíram um roadshow do Dragon Force com múltiplas modalidades para os mais pequenos experimentarem, a apresentação do novo autocarro do clube, um concerto do Mundo Segundo e a subida um a um dos 29 jogadores do plantel (incluindo Diogo Dalot e Rui Pedro), já deixavam antever algo que foi facilmente percetível com o início do encontro: a esperança no título voltou ao Dragão.

Os primeiros 15 minutos foram sintomáticos dessa comunhão de fé entre equipa e bancadas. O FC Porto voltou a ter uma entrada a todo o gás, à semelhança do que tinha acontecido com V. Guimarães e Portimonense, e à terceira foi mesmo de vez: depois de um cabeceamento ao lado de Soares após cruzamento da esquerda de Alex Telles (2′) e de outro de Felipe, no seguimento de um canto ensaiado para o pé esquerdo do lateral, que Rúben conseguiu travar com uma vistosa intervenção (10′), Aboubakar fez mesmo o 1-0 aos 14′.

A jogada teve nota artística elevada: passe de Alex Telles para Óliver, assistência de rutura do espanhol para Brahimi, cruzamento ao segundo poste para o desvio de Corona ao poste e o camaronês, à segunda, conseguiu mesmo empurrar a bola para a baliza. Depois, viveu-se um período de domínio mas sem grandes oportunidades para o FC Porto, até que o conjunto espanhol conseguiu ameaçar a baliza de Casillas por três ocasiões: Bruno Gama, aproveitando um mau passe de Danilo na primeira fase de construção, atirou forte para o número 1 portista despachar para canto (30′); no seguimento da bola parada, Andone cabeceou na pequena área por cima (30′); e Bakkali tentou a meia-distância à entrada da área, com nova defesa do espanhol (42′).

O Deportivo arriscou um pouco mais, subiu linhas e conseguiu criar dificuldades ao FC Porto, que passou a errar mais passes e a não ter a mesma capacidade de sair em transições. Mas o campo é como uma manta, que os espanhóis quiseram esticar mais à frente esquecendo-se que poderiam ficar mais expostos à velocidade dos azuis e brancos atrás, mesmo estando em organização defensiva. E foi assim que nasceu o segundo golo dos dragões, de novo por Aboubakar, após assistência de Corona da direita (43′).

O avançado camaronês está on fire. Quando estava emprestado aos turcos do Besiktas, Aboubakar foi repetindo que não voltava ao FC Porto. Depois, foi à Taça das Confederações e manteve essa ideia. Após as férias, regressou mesmo aos azuis e brancos e, na primeira entrevista, assumiu que queria ganhar títulos no Dragão. Todos pensavam que o dianteiro seria um dos elementos para vender e aliviar as contas do clube, mas ficou e tornou-se, pelo menos nesta pré-temporada, a grande referência ofensiva da equipa. E não pára de marcar.

Ao intervalo, Aboubakar e os restantes companheiros mudaram de equipamento (passaram a jogar de laranja, a cor alternativa desta temporada) mas em nada alteraram a forma de jogar e, já depois de nova boa defesa de Rúben a remate de Brahimi (50′), Corona aumentou a vantagem dos dragões após uma zona de pressão alta com sucesso que permitiu ao mexicano recuperar a bola, entrar na área e rematar em jeito (55′).

Seguiu-se o habitual desfile de substituições. E, na primeira vez que o FC Porto mexeu, foram logo seis, da baliza ao ataque. A partida quebrou de ritmo e deixou de ter tantos motivos de interesse: apesar de manterem o controlo total, os dragões perderam clarividência no último terço e deixaram de ser tão compactos na pressão como até aí. Ainda assim, João Carlos Teixeira, de novo numa jogada que começou com uma recuperação de bola em zona adiantada de Maxi Pereira, podia ter aumentado o marcador, mas atirou por cima da trave de Rúben (82′).

Mesmo no final do encontro, no seguimento de mais um erro crasso da defesa do conjunto da Corunha, Rober (que tinha entrado apenas três minutos antes no encontro…) fez uma assistência para Marega, que estava isolado na área e só teve de encostar para o 4-0 aos 88′.

Na próxima quarta-feira, o FC Porto desloca-se a Barcelos para defrontar o Gil Vicente, naquele que será o último teste antes do arranque na Primeira Liga, em casa, frente ao Estoril. Mas a máquina parece cada vez mais oleada e pronta para carburar nos jogos “a sério”. Com muito mérito de Sérgio Conceição, que conseguiu transformar por completo as ideias e o modelo de jogo dos dragões, ao mesmo tempo que recuperou a auto-estima dos jogadores. Alguns, como Óliver, nem parecem os mesmos do ano passado.