Na ressaca de uma pesada derrota frente ao Arsenal por 5-2, Rui Vitória decidiu fazer uma autêntica revolução nas opções iniciais. Sobrou Cervi, na primeira parte, que dentro do mau foi dos menos maus. E retiramos Bruno Varela destas contas: todos os outros fizeram a primeira parte mais fraca da pré-temporada. A Emirates Cup foi para esquecer? Pelo contrário, para recordar. Porque os encarnados devem agarrar na segunda parte com os gunners e nesta partida com o conjunto alemão, que terminou com nova derrota por 2-0, para perceberem tudo o que não podem fazer na temporada oficial que arranca para a semana.

Ficha de jogo

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Red Bull Leipzig-Benfica, 2-0

2.ª jornada da Emirates Cup (competição particular)

Emirates Stadium, em Londres (Inglaterra)

Red Bull Leipzig: Mvogo; Schmitz, Konaté, Compper, Halstenberg; Kaiser, Laimer; Burke (Majetschak, 73′), Palacios (Kühn, 66′), Bruma e Abouchabaka (Ludewig, 61′)

Treinador: Ralph Hasenhüttl

Benfica: Bruno Varela; Pedro Pereira, Lisandro López, Rúben Dias, Grimaldo; Fejsa (Filipe Augusto, 73′), Chrien (André Horta, 59′); Carrillo (Diogo Gonçalves, 73′), Cervi (Willock, 73′), Rafa (Jonas, 59′) e Raúl Jiménez (Mitroglou, 73′ e Pizzi, 81′)

Treinador: Rui Vitória

Golos: Halstenberg (19′) e Compper (50′)

Ação disciplinar: nada a registar

Veja-se o exemplo de Fejsa, que começou como capitão. Aquela referência que equilibra defensivamente a equipa e é uma espécie de escudeiro invisível que, como quem não quer a coisa, é campeão desde 2008/09 em todos os clubes que representa (Partizan, Olympiakos e Benfica). Em cima do intervalo, pressionado pelo meio-campo germânico, colocou a bola nos pés de Bruma para um contra-ataque 3×3 que apenas por acaso não causou perigo. Mas esse foi apenas um dos muitos erros que o sérvio e os restantes jogadores foram cometendo no encontro.

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Os primeiros 15 minutos foram marcados pela falta de oportunidades. Durante largos períodos, o futebol praticado por Benfica e Red Bull Leipzig esqueceu-se desse pequeno pormenor das balizas, mas no arranque isso foi mais evidente e apenas Grimaldo, com um livre ao lado da baliza de Mvogo, conseguiu uma pequena ameaça de perigo. Havia sempre mais uma finta, como Cervi num lance individual aos 8′. Havia sempre um passe mais para a frente, como o de Raúl Jiménez para Rafa aos 10′. Havia sempre qualquer coisa. E também havia uma defesa que continua sem estabilizar, cometendo os mesmos erros da véspera com outros nomes em campo.

Halstenberg, aos 19′, inaugurou o marcador no seguimento de uma jogada que foi exemplo paradigmático da inércia, falta de intensidade e incapacidade de pressão que os comandados de Rui Vitória demonstraram: o defesa agarrou na bola na linha pouco depois do meio-campo, avançou, avançou, avançou, tabelou com Palacios entrando na zona entre lateral e central e disparou cruzado sem hipóteses para Bruno Varela.

https://www.youtube.com/watch?v=kuHgEl_-hkk

Se o Benfica não estava bem, ficou ainda pior. E juntou a tudo o que fazia de mal o excesso de individualismo nas unidades ofensivas, com fintas e mais fintas sem progressão nem objetividade que nada acrescentavam. Com Carrillo, foram três vezes quase seguidas, no lapso de menos de dez minutos. Resultados práticos? Zero.

Seria no seguimento de bolas que entretanto se perdiam na frente e não tinham a devida compensação nas transições que os alemães quase marcaram: primeiro foi Abouchabaka, lançado por Bruma, a permitir a defesa a Bruno Varela (29′); depois Burke, que ligou o turbo pela direita (e o turbo dele a comparar com o de Grimaldo era como a diferença entre um motor novo e outro quase nas lonas) mas viu o guarda-redes encarnado fazer duas enormes intervenções até conseguir afastar a bola pela linha de fundo (37′).

Veio o intervalo, começou a segunda parte e nada mudou. Ou melhor, mudou o resultado e as dificuldades do Benfica em conseguir ainda um derradeiro triunfo neste último jogo na Emirates Cup: na sequência de um livre lateral da direita batido por Kaiser, Compper saltou sozinho na zona do segundo poste e colocou a bola de cabeça no ângulo, aumentando a vantagem do Red Bull Leipzig para 2-0 com cinco minutos do segundo tempo.

https://www.youtube.com/watch?v=q4G0SnRIHGk

Começou a dança das substituições, a quebrar ainda mais o ritmo de um jogo que já não era propriamente o melhor exemplo de intensidade e agressividade, mas mantinham-se as dificuldades de chegar sequer à baliza dos alemão, ao ponto de ter sido preciso esperar pelos 78′ para ver um remate enquadrado com a baliza de Mvogo a criar perigo. De Jonas, quem mais poderia ser? Mas como tudo corria mesmo mal, até esse lance que acabou anulado por fora-de-jogo de Mitroglou na recarga deu para o torto: o grego ficou no chão a queixar-se de um problema muscular na coxa e teve mesmo de ser substituído menos de dez minutos antes de ter entrado…

Mesmo no final, no seguimento de uma boa jogada de Willock, Lisandro López foi lá à frente cabecear ainda uma bola ao poste, mas o resultado estava mesmo feito e o campeão nacional somou mais uma derrota.

A seis dias do primeiro encontro oficial da temporada, a Supertaça frente ao V. Guimarães, o Benfica fez o pior dos seis jogos da pré-época. Com as segundas linhas, é certo, pagando as faturas das cargas de treino da semana de estágio em Inglaterra, mas com pouquíssimas ideias para as atenuantes que se possam apontar. A imagem que ficou da Emirates Cup mostrou um conjunto encarnado mais atrasado do que se calhar se poderia prognosticar, mas também é verdade que com Pizzi, Salvio e Jonas, é logo outra coisa, como se viu na primeira parte com o Arsenal. Depois, há o problema da defesa e dos golos sofridos. Mas aí, a solução deve ser mesmo externa e a próxima semana trará novidades em relação à contratação de um lateral direito e de um central (pelo menos estes, porque se tem falado com insistência num novo guarda-redes).

Após duas vitórias (Neuchâtel Xamax, 2-0; Betis, 2-1) e quatro derrotas (Young Boys, 5-1; Hull City, 1-0; Arsenal, 5-2; Red Bull Leipzig, 2-0), o Benfica não passou a ser a pior equipa do mundo, longe disso. Mas terá de corrigir alguns aspetos essenciais para manter o objetivo de ser de novo o melhor de Portugal na Primeira Liga.