Em março de 2016, cerca de um mês antes da overdose que matou Prince aos 57 anos, já havia alertas: só num ano, entre 2013 e 2014, a norte-americana Drug Enforcement Administration (DEA) registou 700 mortes relacionadas com o fentanil.

O opiáceo sintético, 100 vezes mais potente do que a heroína e utilizado em casos de doentes em estado terminal, estava na altura a assustar os Estados Unidos. Agora, deste lado do Atlântico, também preocupa as autoridades britânicas.

Esta quarta-feira foi revelado que nos últimos meses se registaram, pelo menos, 60 mortes por overdose de fentanil ou de substâncias similares, como o carfentanil, noticia o Guardian — que garante que esta segunda droga é ainda mais forte (10 mil vezes) e costuma ser utilizada como tranquilizante de elefantes.

Dando conta da moda de misturar fentanil com heroína e da investigação em curso de outras 73 overdoses que se suspeita estarem relacionadas com este tipo de estupefacientes, a National Crime Agency (NCA) alertou consumidores, famílias e amigos para que se mantenham vigilantes de modo a que possam “proteger-se e aos que lhes são mais queridos”.

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“A ameaça dos opiáceos sintéticos não é nova, mas desde dezembro de 2016 que temos vindo a registar um aumento das mortes relacionadas com o fentanil e o carfentanil”, explicou Ian Cruxton, diretor da NCA. Esta entidade “está a trabalhar com vários parceiros, no Reino Unido e no estrangeiro, para desenvolver uma ação concertada contra os traficantes de droga que estão a jogar à roleta russa com as vidas dos clientes, misturando opiáceos sintéticos com heroína e outras drogas naturais”, completou.

Um representante da polícia de West Yorkshire, zona de Inglaterra onde foi contabilizada a maior parte das mortes por overdose com fentanil, revelou que “a droga pode ser feita por qualquer um com os mais modestos conhecimentos químicos e o equipamento necessário”, mas que a maior parte das apreensões dizem respeito a doses encomendadas através da dark web a partir da China ou de Hong Kong.

Como não é expectável que a substância deixe de estar disponível no Reino Unido, uma das medidas das forças de segurança e das autoridades de saúde passa por garantir que há no país as doses suficientes de naloxona, uma droga sintética desenvolvida nos anos 60 que é particularmente eficaz como antídoto nos casos de overdoses por opiáceos.

O último relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, apresentado em junho, também destacava o fentanil: dos 25 novos opiáceos identificados no continente desde 2009, 18 eram seus derivados. “Embora representem atualmente uma pequena parcela do mercado de droga europeu, os novos fentanis são substâncias muito potentes que constituem uma série ameaça para a saúde individual e pública”, alertava o documento.

Em Portugal, garantiu na altura José Goulão, diretor-geral do SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências), “não há ainda registo de episódios graves relacionados com o uso de fentanis”.