O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebe em esta quinta-feira, pelas 17h, alguns dos signatários do “Manifesto da Ferrovia“, que defende que o País deve investir rapidamente na adaptação das linhas ferroviárias ao padrão (“bitola”) europeu, a que Espanha já se está a adequar. Portugal arrisca tornar-se uma “ilha ferroviária na União Europeia”, o que terá “consequências económicas graves”.

Dois engenheiros, Luís Mira Amaral e Mário Ribeiro, um académico, Jorge Paulino Pereira, e o ex-deputado e candidato presidencial Henrique Neto. Estas serão as figuras recebidas por Marcelo em Belém, em representação dos 39 signatários do manifesto, entre os quais há empresários, gestores e investigadores.

“Portugal em breve irá ficar isolado do resto da Europa comunitária, tornando-se numa ilha ferroviária, já que os comboios nacionais não irão poder prosseguir por terras de Espanha porque do lado de lá as linhas irão ter distâncias entre os carris (bitolas) diferentes e sistemas operativos igualmente distintos das linhas portuguesas”, explicam os promotores do manifesto. A questão não é nova, mas os promotores do manifesto dizem que é urgente apresentar projetos e candidaturas a fundos europeus, para que seja feita a adaptação das linhas.

Como consequência da política seguida pelos sucessivos governos portugueses, um comboio de mercadorias ou um comboio de passageiros não poderão prosseguir a sua marcha para fora de Portugal, ficando retidos na fronteira, porque a Espanha tem renovado a sua rede ferroviária e adotou os critérios europeus de interoperabilidade e Portugal não. Em consequência, se nada for implementado brevemente, o nosso País ficará completamente isolado da União Europeia em termos ferroviários, ficando dependente dos “portos secos” de Vigo, Salamanca e Badajoz em Espanha e das vias marítima e rodoviária”.

Contactado pelo Expresso sobre este tema, no fim de semana, o Ministério do Planeamento e Infraestruturas explicou que “o Plano Ferrovia 2020 prevê a intervenção em cerca de 1,2 mil quilómetros da via — entre construção, modernização e eletrificação –, num investimento que totaliza os dois mil milhões de euros”. Nesses projetos, adianta o Governo, serão utilizadas “travessas polivalentes, as quais permitem a utilização da bitola ibérica, assim como uma eventual migração para a bitola europeia”. 23 centímetros de largura é a diferença entre a bitola ibérica, que é o sistema usado em Portugal, e a bitola europeia.

O manifesto critica que, apesar de ter havido fundos europeus disponibilizados, “Portugal pouco ou nada fez para conseguir essas verbas comunitárias. Nem chegou a apresentar projetos de engenharia necessários para viabilizar a formalização das candidaturas. O único projeto que chegou mais longe foi a ligação Sul entre Lisboa e a fronteira espanhola em Badajoz, projeto ferroviário Poceirão-Caia, mas onde não se construiu sequer um metro de linha em bitola europeia já que há um litígio jurídico de 150 milhões de Euros com o consórcio ELOS, a quem fora adjudicado o trabalho, pois um novo governo decidiu abandonar pura e simplesmente a implementação física da bitola europeia”.

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