Pepe Brix, fotógrafo documental português, é o autor deste artigo, quarto da história “Este Verão Portugal é Mini”

Se nos pedirem para fechar os olhos e nos deixarmos levar para um qualquer ambiente de Verão, é muito provável que acabemos numa praia, numa piscina, numa esplanada ou a noutro qualquer esconderijo onde o Sol é dono da luz e a temperatura alta o suficiente para que as lãs morem todas no baú. Contudo, enquanto uma boa parte das famílias portuguesas estão a fazer as malas para fugirem à confusão e rumarem a um desses cenários idílicos, o calor da cidade confere-lhe uma nova vida e há gente a circular por todas as ruas e vielas. Há uma predisposição maior para todos os afazeres citadinos e uma sede renovada de partilha. O ímpeto de todos os processos criativos requeridos pelos que fazem das ruas galerias a céu aberto.

Fora do circuito das galerias e de todos os protocolos, há um lugar onde todas as obras são válidas e a sua audiência indiscriminada. Um lugar onde as ideias se espalham e inspiram os transeuntes, sem filtros ou outras formas subliminares de censura. Numa altura em que o mundo grita para que as pessoas voltem à rua e vivam tudo na primeira pessoa, que voltem a envolver-se, olhos nos olhos, na comunidade onde se inserem, que sejam mais reais e menos virtuais, a arte de rua ganha nova expressão.

Como açoriano costumo dizer que, pelo menos em Portugal, os ilhéus se distinguem ao longe. Não será muito difícil perceber-se porquê. Até há bem pouco tempo a articulação global da informação não era a torrente que é hoje e a informação que chegava a locais mais remotos, como as ilhas, e aos grandes centros urbanos era de uma disparidade incomensurável. Também por isso toda a obra criada dentro e fora dos grandes centros urbanos reflete toda disparidade, garantido ideais, preocupações e formas de expressão definitivamente diferentes.

Patrícia Mariano usa-se desse turbilhão de ideias que correm o planeta à velocidade da luz e de paredes espalhadas por toda a cidade para finalmente expressar o que lhe rompe o âmago dos seus devaneios. Hoje junta-se a alguns amigos e vem ao rio beber alguma inspiração. “O Tejo que reflete o dia à solta, à noite é prisioneiro dos olhares”, e enquanto o dia vai adormecendo sob a Ponte Vasco da Gama, eles vão estendendo as latas de spray no skate parque para começarem a esboçar uma nova obra de arte. Uma obra que embora assinada, quando terminada pertencerá a tantos quantos os que a alcançarem. A efemeridade das tintas derramadas sobre as paredes que respiram ao ar livre, permitem também que as mensagens que produzem possam estar em permanente renovação.

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