A qualificação de Nelson Évora tinha acabado da melhor forma, ainda houve pelo meio a boa notícia da repescagem de David Lima para as meias-finais dos 200 metros, e todos os olhos estavam centrados na final do triplo salto feminino, onde Portugal partia com a legítima esperança de ganhar medalhas com Patrícia Mamona e Susana Costa. E numa primeira análise, as semelhanças com as aspirações do antigo campeão olímpico, que foi o melhor europeu com a sexta melhor marca, existem. É a partir daqui que se deve analisar este concurso decisivo.

Na qualificação da manhã de sábado, Patrícia Mamona tinha conseguido entrada direta na final ao segundo salto, com 14,29. Após garantir a marca mínima (que era 14,20), passou pela companheira Susana Costa e disse-lhe que aquele último salto da atleta seria o melhor da sua vida. Foi mesmo: 14,35, batendo por um centímetro o recorde pessoal. Só duas concorrentes fizeram melhor: a cazaque Olga Rypakova (14,57) e a venezuelana Yulimar Rojas (14,52). Mas ainda havia a colombiana Caterine Ibargüen (14,21) e a israelita Hanna Knyazyeva-Minenko (14,17).

Vejamos os últimos resultados em Jogos e Mundiais: em 2016, no Rio de Janeiro, Patrícia Mamona ficou no sexto lugar batendo o recorde nacional (14,65), atrás de Ibargüen (15,17), Rojas (14,98) e Rypakova (14,74); nos Mundiais de 2015, em Pequim, sem portuguesas na final, Ibargüen ganhou (14,90), seguida de Knyazyeva-Minenko (14,78) e Rypakova (14,77); nos Mundiais de 2013, Ibargüen venceu o ouro com 14,85; nos Jogos de 2012, foi Rypakova que levou a melhor sobre Ibargüen (14,98-14,90). E Patrícia Mamona, por exemplo? Foi vice-campeã europeia em 2012 com 14,52, 13.ª classificada no Europeu de 2014 com 13,62 e campeã europeia no ano passado com 14,58, recorde nacional entretanto batido nos Jogos Olímpicos. Ou seja, o melhor não era suficiente para provas como os Jogos Olímpicos e os Campeonatos do Mundo, mesmo batendo recordes nacionais.

Patrícia Mamona e Susana Costa garantem final direta do triplo salto nos Mundiais de atletismo

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não ia ser uma final impossível, mas as dificuldades seriam muitas, até para entrar no lote de oito apuradas para os derradeiros três saltos: o nível de qualidade do triplo salto feminino está altíssimo. No entanto, Patrícia Mamona e Susana Costa tiveram hoje um mau dia, ficando no nono e no 11.º lugar com marcas abaixo do esperado.

Susana Costa foi a primeira portuguesa a saltar e até aí todos os saltos tinham sido acima dos 14 metros, com destaque para os 14,45 de Olga Rypakova. Teve uma primeira tentativa nula. Minenko fez 14,11 e surgiu Patrícia Mamona, que também teve um salto inicial falhado. Foi pena a chamada errada: o resultado poderia superar até a atleta cazaque. Até ao final da primeira série, nota para os 14,67 de Caterine Ibargüen e os 14,55 de Yulimar Rojas.

A segunda série aumentou o “risco” das atletas: Rybakova fez um salto que daria liderança mas foi nulo, Anna Jagaciak (14,25) e Kristin Gierisch (14,23) melhoraram os seus registos, Rojas colocou a fasquia nos 14,82, Ibargën subiu para 14,69 e apenas Minenko continuava a demonstrar sinais de não estar nos melhores dias. A israelita e as portuguesas: Susana Costa saltou a 13,99 e ficou de forma momentânea no nono lugar, Patrícia Mamona fez 14,04 e garantiu nessa altura a oitava posição parcial.

Os 13,95 de Kimberly Williams no terceiro e último salto foi a primeira boa notícia para as portuguesas: ficaria sempre pelo menos atrás de Patrícia Mamona. Lá mais em cima, Rypakova colocou-se na segunda posição com 14,77, Ibargüen fez um super salto de 14,89 mas uma coisa de cada vez, interessava era a qualificação nas oito primeiras posições. Susana Costa não melhorou e acabou no décimo lugar após um salto de 13,97; Patrícia fez ligeiramente acima dos 14,04, passou para 14,12 e garantiria um posto nos derradeiros três saltos, caso a alemã Neele Eckhardt e Ana Peleteiro não melhorassem os seus registos, mas a jovem espanhola bateu o recorde pessoal (14,23) e afastou também a campeã europeia da final. Contas feitas, Patrícia Mamona ficou a um centímetro da qualificação, atrás de Shaniekka Ricketts.

“Perderam” as amigas de Nelson, ganhou a companheira de Nelson

As esperanças nacionais acabaram nos primeiros três saltos mas ainda havia mais três saltos e uma fantástica disputa entre as três grandes favoritas: a colombiana Caterine Ibargüen, que estava com 14,89; a venezuelana Yulimar Rojas, com 14,83; e a cazaque Olga Rypakova, que tinha melhorado para os 14,77. Com a israelita Hanna Knyazyeva-Minenko muito abaixo dos melhores tempos (subiria no quinto salto para 14,42, ainda assim a melhor marca pessoal do ano), criou-se um fosso enorme para o quarto lugar no final da quarta tentativa, ocupado de forma surpreendente pela alemã Kristin Gierisch com 14,30, a 43 centímetros do pódio.

Com Ana Peleteiro a prescindir das últimas duas tentativas após um nulo (provavelmente por lesão), Rojas passou de novo para a frente por dois centímetros (14,91) no quinto salto e aumentou ainda mais a expetativa para o último salto. A venezuelana de 21 anos, que treina com Ivan Pedroso em Madrid ao lado de Nelson Évora (que foi para a bancada após a sua qualificação apoiar as amigas Patrícia Mamona e Susana Costa e a companheira de treino Yulimar Rojas), garantiu mesmo a medalha de ouro, repetindo a vitória dos Mundiais de Pista Coberta e melhorando em relação à prata nos Jogos do Rio de Janeiro. Já Ibargüen, campeã olímpica e ex-bicampeã mundial, ficou na segunda posição após um salto final a 14,88, à frente de Rybalkova (14,77). Com uma curiosidade: ambas treinaram no Centro de Alto Rendimento do Jamor antes dos Mundiais.