Nem o Borda d’Água o previa. Em agosto, nenhuma palavra sobre a ventania que está agora a soprar chapéus de sol pela praia fora ou a complicar a vida de milhares de pessoas na Madeira. A única previsão de vento foi há cinco meses porque, já dizia o ditado popular, “quando vem março ventoso, abril sai chuvoso” – mas se houve vento nesse mês não nos ficou na memória. Então como explicar este último mês de verão e a ventania dos últimos dias capaz de arrancar qualquer chapéu das praias portuguesas? De acordo com o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), a culpa não é o mau humor de S. Pedro: é de um anticiclone (que não é o dos Açores) e de uma depressão. Ali pelo meio está o vento. E nós estamos na mira dele.

A mais de 1.500 quilómetros de Portugal, há um anticiclone no sudoeste da Irlanda. É por lá que há uma região “de alta pressão atmosférica em torno da qual o vento sopra no sentido do movimento dos ponteiros do relógio”. Mas, aqui mais perto, mesmo por cima da Península Ibérica, há uma depressão, que é uma região “de baixa pressão atmosférica em torno da qual o vento sopra no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio”. As diferenças de pressão atmosférica, que têm origem térmica relacionada com a radiação solar e como ela aquece o ar, fazem com que as massas de ar mais quente se movam para se expandirem e as mais frias se mexam para se comprimirem. Desta movimentação nasce o vento.

A posição destes dois centros de ação, uma expressão utilizada na meteorologia para designar regiões de pressão atmosférica máxima e mínimas, determina a circulação do ar. Entre um e outro, o ar desloca-se e provoca vento que é tanto mais forte quanto maiores forem essas pressões. Como Portugal Continental e o arquipélago da Madeira estão na zona do planeta onde esse vento sopra, por cá vemos os toldos a levantar voo e os aviões a ficarem em terra.

A intensidade do vento, que sopra no sentido norte – nordeste, tem variado nos últimos dias, explica ao Observador Ângela Lourenço, meteorologista do IPMA. Em média, o vento tem soprado a uma velocidade de entre 20 e 35 quilómetros por hora que, de acordo com o dicionário do próprio IPMA é considerado moderado. De vez em quando, a ilha da Madeira tem sido atingida por ventos pontualmente mais fortes, principalmente nas terras altas e a leste e oeste: aí, o vento pode ser aos 50 quilómetros por hora e já passa a ser considerado forte. O mais perigoso mesmo são as rajadas – que são “golpes de vento violento”, mas “de pouca duração” – que na Madeira podem aos 70 a 80 quilómetros por hora. Nesses casos, o vento é considerado “muito forte” ou “excecionalmente forte”.

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Apesar disso, fenómenos como este são considerados normais. É o mesmo que acontece nos chamados regimes de nortada: já reparou que, ao final do dia, principalmente nas praias do ocidente, há mais vento do que houve ao longo do dia? A explicação é a mesma, mas há alturas do verão em que esse vento pode ser reforçado esporadicamente. Neste caso, tem acontecido por causa da deslocação do ar da atmosfera que vem das Ilhas Britânicas e da Islândia, que sendo mais frio e, portanto mais denso, provoca mais vento que é, além de forte, mais frio.

Esta terça-feira, o dia vai continuar ventoso. Na previsão para 8 de agosto, o IPMA diz que, em Portugal Continental, o vento vai permanecer “forte com rajadas no litoral oeste e nas terras altas” e pode atingir os 70 quilómetros/hora. Na Madeira, o vento também será “moderado a forte” mas “com rajadas até 80 quilómetros/hora nos extremos leste e oeste da ilha da Madeira e nas terras altas”. Será assim até à próxima quinta-feira, 10 de agosto. A partir desse dia, o vento vai diminuir e facilitar a vida tanto de quem está na praia como de quem espera ansiosamente por um voo para a Madeira.

Ainda assim, continue a segurar o chapéu porque a brisa marítima vai continuar intensa. O ar por cima da terra aquece mais rapidamente do que o ar por cima do mar, por isso, e para equilibrar a atmosfera, o ar quente sobre a terra sobe e o ar mais frio sobre o oceano desce: havendo movimentação de massas de ar, há vento. E quem está à beira-mar vai senti-lo a soprar.