Foi descoberto no Quénia o fóssil de um crânio que pode pertencer a uma espécie próxima à que deu origem a todos os primatas que vivem na atualidade, incluindo os humanos. O fóssil, que pertencia a um jovem primata, é o mais completo crânio alguma vez descoberto de uma espécie de primata já extinta. E o seu estudo pode oferecer mais pistas sobre a espécie de onde os macacos e os humanos evoluíram.

Tudo indica que, na linha de evolução das espécies, houve uma espécie da superfamília Hominoidea que deu origem a todos os primatas. Julga-se que os macacos e os humanos tenham tido origem nessa espécie mas que, há sete milhões de anos, seguiram caminhos evolutivos diferentes, o que nos torna mais “primos” do que “irmãos” dos outros primatas que coabitam connosco na Terra atualmente. Este crânio descoberto no norte do Quénia, tão pequeno como um limão, pertencerá a uma espécie muito próxima desse ancestral comum. Conhecê-lo é saber mais sobre o passado da espécie humana.

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O nome “Alesi” derivou da palavra “ales”, que em Turkana significa “antepassado”.

John Ekusi, um famoso antropólogo do De Anza College, descobriu este fóssil numa região queniana chamada Napudet. Alesi, como foi batizado pelos investigadores, terá vivido há 13 milhões de anos. Pelo menos é isso que indica a datação dos sedimentos onde o crânio estava enterrado. A confirmarem-se este dados, Alesi pertence a uma espécie intermédia entre o ancestral comum dos primatas e os humanos, que existiu na Terra há entre 10 e 14 milhões de anos. O pequeno primata terá morrido numa floresta muito densa e o seu cadáver foi preservado pelas cinzas expelidas durante uma erupção vulcânica.

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Pertencente a uma espécie de primata muito ancestral, o Nyanzapithecus alesi, Alesi partilha características físicas com alguns dos primatas vivos ainda hoje, nomeadamente os designados “macacos do Velho Mundo”, como o babuíno ou os langur. De acordo com os cientistas, o rosto de Alesi é muito parecido ao de um gibão. E embora tivesse um crânio duas vezes maior do que o crânio dos macacos do Velho Mundo que sobreviveram até à atualidade, o cérebro só tinha um volume equivalente a sete colheres de sopa.

Alesi também tinha os ossos dos ouvidos muito desenvolvidos. Os dentes de adulto, que ainda não tinham rebentado, foram estudados através de raios-x e modelos tridimensionais concebidos para não danificar o fóssil. Essas análises provaram que este primata pertencia aos nyanzapithecenos, uma espécie irmã dos gibões, dos grandes primatas e dos humanos. É por isto que os cientistas sabem que Alesi é um “primo” do antepassado que partilhamos com os outros primatas e que não existiu muito tempo depois desse ancestral comum ter desaparecido da Terra.

Encontrar Alesi foi uma sorte para John Ekusi, conta o antropólogo à National Geographic. Outros antropólogos tinham vasculhado aquela região desde 2013, mas nunca tinham encontrado nada de significativo. Em 2014, Ekusi decidiu afastar-se da zona de escavação para fumar um cigarro. Olhando para o chão, reparou naquilo que parecia ser a cabeça do fémur de um elefante. Curioso, começou a andar em redor do suposto fémur e chamou a sua equipa para começar a escavar. Uns minutos depois, “toda a gente começou a dançar”, recorda o antropólogo: a equipa havia encontrado o mais completo crânio de um primata extinto alguma vez descoberto.

Alesi é, portanto, um elo de ligação entre nós e grandes primatas como os chimpanzés, bonobos, orangotangos e gorilas. A linha evolutiva humana divergiu da dos primatas do Velho Mundo há entre 25 e 28 milhões de anos, durante a época do Mioceno. Mas há sete milhões de anos, muitas espécies de primatas ficaram pelo caminho, porque a Terra sofreu alterações climáticas tão grandes que apenas as espécies mais aptas poderiam sobreviver. O humano é descendente de uma dessas espécies. Os outros primatas da modernidade também, mas evoluíram de forma diferente.

É possível que, estudando a espécie de Alesi, possamos saber mais sobre a espécie que temos em comum nas nossas origens. Até agora, sabemos muito pouco sobre os nossos “avós” evolutivos, porque os primatas mais antigos viviam em florestas tropicais cujas condições climatéricas não ofereciam boas condições para a fossilização dos cadáveres. Alesi é um caso raro: antes dele, os cientistas apenas tinham encontrado mais um crânio intacto de um primata do Mioceno.