Em defesa dos médicos — que diz serem “brutalmente explorados e pressionados”, de não serem “uns privilegiados” nem sequer “super-homens” –, Miguel Guimarães aponta baterias ao Governo e às propostas que considera não corresponderem às necessidades e exigências daqueles profissionais. Em entrevista ao Público, o bastonário da Ordem dos Médicos admite mesmo que possam “apoiar os médicos que façam greve”.

Miguel Guimarães, que assumiu funções há cinco meses, acusa mesmo o ministro da Saúde de “não estar a ser sério” – e explica porquê. “Temos que ter memória. Em Março, ele disse na Assembleia da República que estava a pensar aumentar em alguns meses a idade de dispensa dos médicos nas urgências. Na altura, alegou que tinha sido falado com o anterior bastonário, que negou. O ministro explicou então que isto não era uma proposta. Afinal, é mesmo uma proposta, que é ofensiva para os médicos.”

Em causa está, entre várias propostas, o limite de idade para os médicos fazerem urgências: o bastonário defende que deixem de fazê-las aos 55 anos, o governo considera que é demasiado cedo. Miguel Guimarães explica que “não há nenhuma profissão que tenha uma atividade tão complexa como esta.” E reforça que salários na ordem de 24 mil euros por mês são casos absolutamente excecionais. “A remuneração-base não corresponde minimamente à responsabilidade que os médicos têm. As tabelas salariais no SNS são públicas. Claro que muitos médicos fazem, para além do horário normal, urgências, trabalham noite e dia, portanto ganham mais dinheiro.”

As pessoas não imaginam o que é trabalhar numa urgência. Trabalhar numa urgência é ter 10 a 15 pessoas à porta, para serem atendidas, a mandarem bocas, às vezes a insultarem.” Só por isso, justifica o bastonário, é importante que os médicos possam deixar esse serviço mais cedo.

Para o bastonário, a defesa da reforma mais precoce dos médicos justifica-se por ser uma profissão de desgaste rápido. “As pessoas têm a ideia de que os médicos são super-homens e não são. A esperança média de vida dos médicos é menor do que a da média da população em sete ou oito anos. Os médicos trabalham muitas horas, alimentam-se mal, não têm uma vida muito saudável.” E acrescenta nova queixa: a de que ainda faltam cerca de 4.000 médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Acompanhando os protestos dos sindicatos, que têm acusado as propostas do ministro de serem “ultrajantes”, o bastonário admite que a opção de avançar para greve seja apoiada pela Ordem – a decisão irá passar ainda pelo Conselho Nacional da Ordem. Uma opção a que Miguel Guimarães junta um apelo aos próprios médicos: que digam “o que vai mal no SNS. Temos sinalizado várias deficiências graves, todas as semanas há problemas que tento resolver internamente, mas é preciso dizer às pessoas o que se está a passar.”

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