“Clash”

Estamos no Cairo, em 2013, e a agitação é geral. Dois grupos de manifestantes, um pró-presidente Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana, que acaba de ser deposto pelos militares, outro pró-militares golpistas, é, no meio do caos dos protestos, metido no mesmo carro celular pela polícia, juntamente com dois jornalistas, um deles com dupla nacionalidade egípcio-americana. Entre os presos há jovens e e velhos, homens e mulheres, um DJ de cabelo pintado e um ator cómico desempregado, um professor quadro da Irmandade Muçulmana e uma enfermeira liberal, um pai e uma filha fundamentalistas, gente humilde e da classe média.

O realizador egípcio Mohamed Diab recorre em “Clash” ao método de fechar num espaço pequeno e claustrofóbico um grupo de pessoas em fricção e representando diferentes sectores ideológicos e sociais do seu país, para mostrar a situação que lá se vive. E nem se esquece dos polícias que tentam manter a ordem, também eles pessoas com sentimentos, convicções e família. Diab evita maniqueísmos, simplismos ou jeremíadas e abstém-se de escolher lados, conseguindo, neste filme que nunca se torna palavroso ou estático e mantém uma dinâmica cinematográfica constante, fazer uma radiografia político-religioso-social do Egipto em convulsão, de dentro de um carro celular apertado e quente. E o resultado final não é animador nem otimista.

“Emoji: O Filme”

Na busca de novos temas para os seus filmes, os realizadores de animação lembraram-se agora dos telemóveis. E depois de “Angry Birds”, surge “Emoji: O Filme”, onde o realizador e co-autor do argumento, Tony Leondis, que já trabalhou para a Disney e a DreamWorks, explora o mundo dos “emoticons”. Assim, descobrimos que os “emoticons” têm braços e pernas, vivem dentro dos Smartphones numa grande cidade chamada Textópolis, têm filhos e sentem as mais variadas emoções, embora apenas possam expressar única e exclusivamente aquela com que nasceram.

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Mas todas as sociedades têm os seus casos especiais, os seus “outsiders”, e no caso da dos “emoticons”, Gene é um deles, uma raríssima exceção, porque é capaz de manifestar múltiplas emoções, para espanto e estranheza de todos. Quando Gene causa uma enorme confusão no emprego (e logo, no telefone do seu utilizador) devido a esta capacidade, a sua chefe, Smiler, decide que ele tem que ser apagado. Gene foge e é salvo por Hi-5, um “emoticon” outrora popular que foi posto de parte porque deixou de ser usado, e vão ambos em busca de um “hacker” que os possa ajudar.

“Atomic Blonde-Agente Especial”

Charlize Theron interpreta Lorraine Broughton, uma super-agente do MI6, neste filme baseado num “comic” intitulado “The Coldest City”. Depois do assassínio de um colega em Berlim Leste, Lorraine é enviada para a cidade fustigada pela invernia e ainda dividida, mas à beira de assistir à queda do Muro (a ação passa-se em Novembro de 1989, poucos dias antes do histórico acontecimento). Missão: recuperar um relógio com uma lista de agentes duplos e ajudar o chefe da estação local do MI6 (James McAvoy) a trazer para o Ocidente um homem da Stasi que a sabe de cor e decidiu mudar de campo antes que as coisas deem para o torto.

Realizado por David Leitch, um antigo “duplo”, a fita, co-produzida por Theron, é contada em “flashback” e musicada com êxitos pop/rock da década de 80, dos New Order e David Bowie a Nena e Falco, jogando a cartada da nostalgia dos enredos de espiões do tempo da Guerra Fria, embora a violência balético-brutalista, gráfica e exagerada, seja a do cinema do nosso tempo. “Atomic Blonde-Agente Especial” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.