A Volta a Portugal de 2017 já está a duas etapas do fim (a subida à Torre e o contrarrelógio de 20 quilómetros em Viseu) e mantém-se aquela que tem sido a principal característica desta prova: por mais puxado que seja o percurso da mítica prova nacional para as pernas (que é muito), está a exigir cada vez mais da cabeça. E tudo é feito com critério e muita estratégia na luta ao segundo pela geral individual.

A 52,4 quilómetros da chegada, Luís Afonso (LA Metalusa) e Egor Silin (Rádio Popular) passaram destacados a contagem de montanha de terceira categoria em Chão de Ave. Tinham nessa altura quase quatro minutos e meio de vantagem do pelotão. Mas esta Volta a Portugal está a ser discutida ao segundo e, quando se aproximou a meta volante de Nogueira do Cravo, a pouco mais de 20 quilómetros da meta, voltou a surgir o trabalho da W52 FC Porto: Raúl Alarcón saiu, Gustavo Veloso ganhou metros e o vencedor da Volta em 2014 e 2015 voltou a somar mais uns pozinhos de vantagem nas bonificações a Rinaldo Nocentini (Sporting Tavira) e Vicente García de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé). Era esse o objetivo. E só esse.

Na sequência desse ligeiro avanço, de Mateos ainda fez sinal a Veloso para atacarem. Se o tivessem feito, e havia condições para isso, poderiam ter partido de vez a classificação na véspera da decisiva etapa da Torre. Mas o corredor da W52 FC Porto não quis ir e o pelotão voltou a colar: as movimentações táticas ganham cada vez mais peso nesta fase da prova e o espanhol ficou-se pelas bonificações e resguardou-se para a subida que ia marcar o final da oitava tirada, que ligou Gondomar a Oliveira de Azeméis na distância de 159,8 quilómetros.

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Regressou de novo o trabalho tático de cada um dos conjuntos. A Efapel a puxar na frente do pelotão para preparar o melhor final possível a Daniel Mestre; a W52 FC Porto a lançar o vencedor da Volta de 2016, Rui Vinhas, para ir desgastando; a Sporting Tavira e o Louletano-Hospital de Loulé a tentarem proteger ao máximo os chefes-de-fila Rinaldo Nocentini e Vicente de Matos; a Rádio Popular Boavista (com Domingos Gonçalves) e a LA Metalusa à procura de uma oportunidade. Ia ser mais um final de etapa fantástico.

Os dragões voltaram a utilizar a tática com que Raúl Alarcón ganhou a camisola amarela: puxar o ritmo e ir encostando corredores à vez, como aconteceu com Samuel Caldeira, Ricardo Mestre e Alarcón até deixar Amaro Antunes lançado para a vitória. No entanto, a movimentação foi feita demasiado cedo e o Sporting Tavira ainda conseguiu intrometer-se durante alguns instantes, com Marque, Nocentini e Ezquerra. Também foi curto: a vitória seria mesmo discutida entre de Mateos e Daniel Mestre, com triunfo para o espanhol do Louletano-Hospital de Loulé que, a 20 quilómetros do final, já queria ter deslocado do pelotão.

Pormenor curioso: depois de passar a meta, Nocentini, que terminou em quinto, deu um murro de frustração no guiador da bicicleta. Não por ter falhado a vitória na etapa, que também deveria ser um objetivo do dia, mas porque perdeu tempo para Vicente de Mateos (que repetiu o triunfo numa etapa como tinha acontecido em 2015 e 2016, tornando o Louletano na quarta equipa portuguesa a ganhar em 2017) e não conseguiu bonificar nem ganhar tempo a Gustavo Veloso. Como se percebe também nestas imagens, a Volta vai ser mesmo decidida em pormenores. E amanhã, na Torre, é o dia D para os candidatos.

Com esta etapa, a nona e penúltima etapa será ainda mais disputada e emotiva, com Vicente de Mateos apenas a 14 segundos da amarela de Raúl Alarcón, Rinaldo Nocentini a 19 segundos, Gustavo Veloso a 26 segundos e Amaro Antunes a 34 segundos. Cinco galos para um poleiro. Com o pormenor de três pertencerem à mesma equipa, a W52 FC Porto. E será pela estratégia dos dragões que passará grande parte do filme amanhã.

“O importante foi a vitória, estávamos a tentar desde o início da Volta. Agora vamos para o objetivo de tentar ganhar a geral individual, sabendo que será muito difícil porque estamos a lutar contra uma grande equipa, mas vamos tentar. Atacar? Veremos como estão as pernas e como corre a corrida”, disse Vicente de Mateos na flash interview da RTP. “Vai ser luta amanhã e até ao último dia porque estamos todos ao mesmo nível. A Torre vai ser complicado. Os favoritos do FC Porto são fortes no contrarrelógio, o Veloso e o Alarcón. O contrarrelógio vai ser um pouco mais difícil do que no ano passado, menos linear, e esperamos estar bem também aí”, comentou Rinaldo Nocentini.

“Atacar amanhã? Não sei, vamos defender a camisola como fizemos hoje, a correr como uma equipa. Viu-se isso a seguir à meta volante. Vamos tentar deixar as coisas um pouco mais decididas amanhã porque o contrarrelógio é pequeno”, destacou Gustavo Veloso. “Defendi-me da melhor forma que consegui, o Gustavo dá-me segurança e amanhã vamos tentar que a Volta fique mais definida. Vai ser uma etapa decisiva na Torre mas ainda há o contrarrelógio do último dia”, rematou Raúl Alarcón.

O top-10 da oitava etapa da Volta a Portugal de 2017 foi o seguinte:
1.º Vicente de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé), 4.06.39
2.º Daniel Mestre (Efapel), m.t.
3.º Marco Tizza (GM Europa Ovini), m.t.
4.º Gustavo Veloso (W52 FC Porto), m.t.
5.º Rinaldo Nocentini (Sporting Tavira), m.t.
6.º Krists Neilands (Israel Cycling Academy), m.t.
7.º Fabian Leinhard (Team Vorarlberg), a 4s
8.º Raúl Alarcón (W52 FC Porto), m.t.
9.º César Fonte (LA Metalusa), m.t.
10.º Alejandro Marque (Sporting Tavira), m.t.

O top-10 da classificação geral ficou assim organizado após a oitava etapa:
1.º Raúl Alarcón (W52 FC Porto), 36.23.13
2.º Vicente de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé), a 14s
3.º Rinaldo Nocentini (Sporting Tavira), a 19s
4.º Gustavo Veloso (W52 FC Porto), a 26s
5.º Amaro Antunes (W52 FC Porto), a 34s
6.º João Benta (Rádio Popular Boavista), a 1.35m
7.º António Carvalho (W52 FC Porto), 1.58m
8.º Henrique Casimiro (Efapel), a 2.08m
9.º Sérgio Paulinho (Efapel), m.t.
10.º Alejandro Marque (Sporting Tavira), m.t.